Hiperidrose: quando a produção excessiva de suor se torna num problema (conheça os tratamentos)
A transpiração é um processo fisiológico, natural e importante para controlar a temperatura corporal, permitindo que o corpo arrefeça. Porém, torna-se desconfortável quando se transpira em demasia, afetando o dia a dia e a qualidade de vida das pessoas. Estima-se que 150 mil portugueses sofram desta condição.
A quantidade de suor produzido varia de pessoa para pessoa, sendo os fatores genéticos os principais responsáveis pela quantidade de transpiração. No entanto, existem outros fatores que também contribuem para a produção de suor como a prática de atividade física, temperaturas elevadas, a presença de stresse e alteração hormonais como na puberdade, gravidez ou menopausa, entre outras.
O álcool, a nicotina e o café, bem como alimentos picantes, podem também aumentar ainda mais a produção de suor. Ainda assim, há pessoas que podem transpirar mais do que o tido como normal e, nesse caso, trata-se de uma condição chamada hiperidrose.
O suor, por si só, não tem cheiro. O odor corporal associado à transpiração é causado por bactérias inofensivas, presentes naturalmente na pele, que se alimentam dos constituintes do suor e produzem um cheiro menos agradável.
Consequências
Este problema, muitas das vezes, altera a forma como estas pessoas se relacionam. Pode surgir dificuldade no contacto social – há pessoas que evitam escrever porque molham o papel, evitam cumprimentos ou pegar em objetos, conduzir porque têm medo de que o volante fique escorregadio e seja perigoso, mancham frequentemente a roupa e as meias que permanecem húmidas ao longo do dia, e não gostam de usar sandálias ou sapatos abertos porque são visíveis as manchas de suor que evidencia o problema.
Javier Gallego-Poveda, Coordenador da Unidade de Cirurgia Torácica do Hospital Lusíadas Lisboa explica que “em muitas situações, só o facto de pensarem na possibilidade de vir a transpirar, já desencadeiam uma transpiração nas mãos, axilas ou pés”.
Todo o quadro acima referido agrava-se com o calor, com o stresse e, em muitos casos, causa transtornos psicológicos graves, uma vez que há uma tendência para o isolamento social e para esconder o problema.
Sintomas
Este problema manifesta-se principalmente nas palmas das mãos, axilas, plantas dos pés e rosto (em conjunto ou com predomínio acentuado de uma região em particular) mas também pode afetar o corpo inteiro de forma indiscriminada.
Dois tipos de hiperidrose
Hiperidrose primária focal
Nesta variante da doença, os primeiros sintomas aparecem, normalmente, na infância ou na adolescência, e ocorrem, principalmente, nas mãos, pés, axilas, rosto e cabeça. Habitualmente, quem tem esta condição não transpira enquanto dorme, mas começa a suar assim que acorda. Este suor excessivo ocorre pelo menos uma vez por semana e pode estar relacionado com fatores genéticos, não estando portanto associado a outras doenças ou a medicação.
Hiperidrose secundária generalizada
Na hiperidrose secundária generalizada, a transpiração excessiva deve-se a uma doença preexistente (como diabetes, obesidade ou gota) ou pode resultar de um efeito secundário de alguns medicamentos. Os sintomas aparecem na idade adulta e em diversas zonas do corpo, podendo ocorrer até durante o sono, por exemplo.
Em ambos os tipos de hiperidrose os doentes podem sentir algum embaraço e ansiedade, sentem-se desconfortáveis por transpirarem excessivamente e por não poderem controlar a situação.
A boa notícia é que, hoje em dia, já existem tratamentos que permitem reduzir ou até mesmo eliminar este problema.
Soluções
A solução dependerá sempre de caso para caso e da incidência do problema na pessoa.
Uso de antitranspirantes
É um método simples para controlar a transpiração, sendo apenas necessário aplicar diretamente nas áreas afetadas. São, normalmente, à base de sais de alumínio e existem em roll-on, spray, pomada, loção, toalhitas, gel, entre outros. Esta costuma ser a primeira opção dos dermatologistas.
Tratamentos médicos
“Os tratamentos que realmente resolvem o problema são dois: injeções de toxina botulínica para a transpiração axilar e a cirurgia”, afirma Javier Gallego-Poveda.
O perigo de infeções é mínimo e a referência à dor é quase inexistente
“A cirurgia é realizada em bloco operatório com uma leve anestesia e o cirurgião torácico fará duas pequenas incisões de cinco milímetros nas laterais do tórax. É inserida uma microcâmara, que gera imagens de altíssima resolução, para ampliar o campo de visão. Será utilizado um fino cateter para fazer a clipagem no exato local onde está o gânglio responsável pela estimulação das glândulas. A técnica da colocação dos clipes de titânio faz com que a cirurgia possa ser reversível no caso de aparecer uma sudorese compensatória mais tarde. Após a colocação de clipes de titânio, ocorrerá imediatamente a interrupção da transmissão de impulsos, permitindo acordar da sedação da cirurgia com as mãos secas”.
Quanto ao pós-operatório, o especialista refere que “o paciente irá para casa no mesmo dia da cirurgia, após um período de internamento de seis a oito horas no hospital, retomando assim muito rapidamente as suas rotinas diárias. Como as incisões são pequenas, o perigo de infeções é mínimo e a referência à dor é quase inexistente. O tempo de recuperação é curto e o paciente percebe rapidamente que a hiperidrose deixa de existir.”