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Hipertensão arterial: conheça as causas e saiba identificar os sintomas

Hipertensão arterial: conheça as causas e saiba identificar os sintomas

No nosso país, a prevalência da hipertensão arterial na população adulta está estimada em cerca de 42%. São somente aproximadamente 2 milhões de portugueses. Vai continuar a ignorar esta condição?

Por Abr. 7. 2020

Na construção deste artigo, para que chegasse com este formato até si, houve dois factos que nos deixaram realmente perplexos acerca da hipertensão arterial.

Primeiramente, a questão de existirem, como referimos, 2 milhões de hipertensos em Portugal. E mais ainda, o facto de apenas 50% destes saberem que sofrem desta patologia, unicamente 25% estarem medicados e apenas 11% terem, efetivamente, a tensão controlada.

Depois, a constatação de que as causas desta doença, bem como a sua prevenção, estão diretamente ligadas ao estilo de vida que levamos. A alimentação que privilegiamos, a atividade física que fazemos ou não, a ansiedade e o stresse que nos consomem todos os dias, os consumos desaconselhados que já sabemos de cor.

Para nos ajudar a compreender esta realidade, estivemos à conversa com Pedro Rio, cardiologista do Centro do Coração dos Hospitais CUF, em Lisboa. Procurámos, em conjunto, desenhar um quadro deste inimigo público, que a maioria das vezes nos apanha pelo seu silêncio.

A tensão, a hipertensão e a mínima e a máxima

A circulação do sangue no nosso organismo implica que o mesmo exerça alguma pressão sobre as paredes das artérias. Esta pressão, considerada normativa, é essencial para que o sangue atinja o seu destino e denomina-se tensão arterial.

Por variadas razões, já lá iremos, pode ocorrer um excesso desta pressão sobre as paredes das artérias, tem-se então a hipertensão arterial.

A pressão arterial é quantificada através de dois números: a chamada máxima, a sistólica, que resulta de cada batida do coração, impulsionando o sangue através das artérias para todo o organismo, e a mínima, a diastólica, que resulta do relaxamento do coração entre cada batida, sendo que é neste momento que ocorre a difusão de nutrientes e oxigénio para dentro das células, como bem nos explica Pedro Rio.

Assim, a hipertensão arterial define-se como uma pressão arterial acima de 140 mmHg na máxima, e acima de 90 mmHg na mínima. A pressão arterial normal estará abaixo de 130/85 mmHg e é ótima abaixo de 120/80 mmHg.

Quando a pressão arterial está muito elevada, habitualmente acima de 180/110 mmHg, pode dar sintomas como dor de cabeça, dormências nos braços, pernas ou na face, mal-estar geral, dor no peito ou falta de ar – Pedro Rio, cardiologista

O que é que causa a hipertensão arterial e como podemos saber que a temos?

Já lhe havíamos dado algumas pistas, no início do texto. Pedro Rio é claro e peremptório, e afirma que “as principais causas da hipertensão arterial são o excesso de peso e obesidade; o elevado consumo de sal; um menor consumo de fruta e de vegetais e aumento do consumo de produtos processados e de gorduras; a inatividade física; o tabagismo; o stresse e o excesso de consumo de álcool”.

Mas não se fica por aqui e continua “também a predisposição genética, isto é, mãe ou pai com hipertensão arterial e outras doenças associadas como a diabetes, a apneia do sono, a doença renal ou da tiroide, ou ainda a toma frequente de anti-inflamatórios são consideradas causas desta patologia”.

Assim, analisando sobretudo o nosso estilo de vida, a predisposição genética na família e a ocorrência de outras doenças associadas podemos desconfiar da presença – ou não – da hipertensão arterial nas nossas vidas. Neste caso, como ter a certeza?

“Usando um medidor de pressão arterial, sendo mais frequente o medidor de pressão arterial digital” pelo que, “quando a pressão arterial está muito elevada, habitualmente acima de 180/110 mmHg, pode dar sintomas como dor de cabeça, dormências nos braços, pernas ou na face, mal-estar geral, dor no peito ou falta de ar” explica-nos o cardiologista.

Quando questionado sobre o que se deve fazer neste caso, indica-nos que o doente se deve dirigir a um serviço de urgência, de acordo com as instruções do seu médico assistente.

Mas nem sempre funciona assim, Pedro Rio adverte-nos que o principal perigo da hipertensão arterial é ser silenciosa, que na grande maioria dos casos não dá sintomas e só sabemos que a temos através da medição. Daí a importância de o fazer em casa (estes dispositivos eletrónicos estão à venda), numa farmácia ou no centro de saúde.

Os fatores agravantes são os habituais fatores de risco cardiovasculares que colocam a pessoa em perigo de ter um AVC ou um enfarte agudo do miocárdio. São eles o colesterol elevado, o tabagismo, o facto de ser do sexo masculino, a idade mais avançada, a diabetes e a obesidade – Pedro Rio, cardiologista

Com que frequência devo fazer esta medição?

Para quem tem hipertensão arterial controlada, deve medir pelo menos a cada 6 meses e mais frequentemente se não estiver bem controlada. Para quem tem a pressão arterial com valores próximos da hipertensão arterial, deve medir pelo menos uma vez por ano” relata Pedro Rio.

Para que serve, então, este controlo? “A medição regular da pressão arterial para quem tem valores elevados ou próximos dos definidos para hipertensão arterial serve para, além de detetar eventuais casos de hipertensão arterial, proceder ao seu tratamento e consequente redução do risco cardiovascular” explica-nos o médico, acrescentando que isto também faz com que a pessoa se preocupe mais em alterar hábitos de vida que levem ao seu melhor controlo.

Quais os fatores agravantes e quem está mais em risco?

É natural que se pense em primeiro lugar em quem está mais em risco, de forma a prevenir ou controlar a patologia nestas pessoas. Por outro lado, é sempre importante saber quais os fatores de risco associados. Isto é, o que nos dá mais hipóteses com esta doença. Também aqui, o cardiologista é bastante claro.

Os fatores agravantes são os habituais fatores de risco cardiovasculares que, em conjunto, colocam a pessoa em perigo de ter um AVC (acidente vascular cerebral) ou um enfarte agudo do miocárdio”.

E continua a sua explicação “são eles o colesterol elevado, o tabagismo, o facto de ser do sexo masculino, a idade mais avançada, a diabetes e a obesidade. Para quem já tenha tido um evento cardiovascular também apresenta maior risco”.

O que esperar para um corpo com esta patologia?

Do que percebemos até agora, nada de bom poderá advir da convivência de perto com a hipertensão arterial. Mas quisemos compreender em pleno que efeitos é que o nosso corpo pode esperar com esta patologia. Certamente, bem diferente do que seria se nos encontrássemos de plena saúde, com uma tensão normalizada e que se recomendasse.

“A pressão arterial aumentada faz com que haja uma lesão permanente no interior dos vasos sanguíneos que irrigam órgãos nobres como o cérebro, o coração, o rim e a retina – a ponto de os poder danificar e contribuir para os tais eventos cardio e cerebrovasculares, nomeadamente o AVC e o enfarte, duas das principais causas de morte no nosso País e no mundo”.

Ficámos quase petrificados, mas há mais: “para além destas lesões nas artérias, a hipertensão arterial faz com que o coração, a nossa bomba, tenha que trabalhar mais e com mais força para injetar o sangue contra uma pressão cada vez mais elevada”.

O que acontece aqui, como bem nos explica Pedro Rio é que “este estímulo permanente sobre o coração vai fazer com que as suas paredes, o seu músculo, engrosse e fique mais rígido, tendo dificuldade em distender para receber sangue – podendo levar à insuficiência cardíaca e a arritmias”.

Como tratar esta patologia e, melhor ainda, como a prevenir?

Para a maior parte dos casos de hipertensão arterial as pessoas devem alterar os seus hábitos para um estilo de vida mais saudável. Depois, e de acordo com indicação médica, existe um tratamento farmacológico que pode passar por um ou mais medicamentos, que reduzem eficazmente a pressão arterial”, esclarece Pedro Rio sobre o tratamento mais eficaz.

Em relação à prevenção, recomenda a alteração do estilo de vida, algo que até já adivinhávamos, e deixa-nos as seguintes dicas: 

•  Reduzir o consumo de sal para menos de 5g/dia;
•  Aumentar o consumo de vegetais e de fruta para pelo menos 6 porções por dia;
•  Reduzir o consumo de produtos animais, produtos processados e de gorduras saturadas;
•  Moderar o consumo de álcool com máximo do equivalente a 1 copo de vinho por dia;
•  Praticar, regularmente, exercício físico, pelo menos 5 dias por semana, pelo menos meia hora por dia;
•  Reduzir o peso corporal com o objetivo de ter o índice de massa corporal abaixo de 25 e saindo da zona de excesso de peso e de obesidade;
•  Deixar de fumar;
•  Evitar, se possível, medicamentos, como os anti-inflamatórios, que possam causar o aumento da pressão arterial.

Por fim, o cardiologista despede-se seguro de que deu o melhor deste mundo e do outro: o poder da informação.

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