Muitas vezes não se percebe o quanto as hormonas femininas podem mexer com o organismo e com o lado emocional da mulher, mas, na verdade, estas têm um poder fortíssimo no bem-estar de cada uma de nós.
Fala-se muito das hormonas em alturas como a adolescência, a gravidez e a menopausa, mas é importante não descurar o importante papel que estas desempenham durante toda a vida da mulher. Para isso, tentámos perceber de que forma é que as hormonas influenciam o dia a dia e a vida das mulheres.
Hormonas femininas: as principais
“As principais hormonas femininas são o estrogénio e a progesterona, que são produzidas nos ovários, entram em atividade na adolescência e sofrem variações cíclicas, até à menopausa”, começa por nos explicar Inês Sapinho, Coordenadora do Centro de Endocrinologia do Hospital CUF Descobertas.
“As hormonas sexuais desempenham um papel crucial no corpo da mulher, são fundamentais para o desenvolvimento dos órgãos sexuais, bem como para a função sexual e reprodutiva”.
Além disso, “os ovários não funcionam isoladamente, mas em sintonia com a glândula hipofisária e o hipotálamo, através das hormonas que produzem e, que estimulando ou inibindo os ovários, os regulam. Em conjunto formam o Eixo Hipotálamo- Hipófise-gónadas (ovários)”, esclarece.
A especialista realça algumas das mais importantes hormonas femininas no organismo. Algumas são vitais para o bem-estar geral e atuam em diversos órgãos, são produzidas pela glândula hipofisária, ou hipófise, localizada na base do crânio. São elas:
Hormona estimuladora dos folículos (FSH)
No corpo feminino estimula o desenvolvimento dos folículos ováricos e a secreção de estrogénios.
Hormona luteínica (LH):
Uma das suas tarefas mais importantes é induzir a ovulação nos ovários e a formação do corpo lúteo ou corpo amarelo, que vai produzir a progesterona e estrogénios.
Com o avançar da idade e à medida que diminui a reserva folicular, os níveis basais de FSH aumentam. Os níveis basais de LH, relevantes na fase folicular tardia, permanecem mais estáveis e elevam-se tardiamente, já no período pré-menopausa.
Prolactina (PRL)
Estimula a produção de leite.
Oxitocina
Tem um papel determinante nas contrações do útero no trabalho de parto e no fluxo do leite na amamentação.
Progesterona
A progesterona é responsável por regular o ciclo menstrual da mulher, preparando o útero para a gravidez e evitar que o óvulo fertilizado seja expulso.
Geralmente, os níveis de progesterona aumentam após a ovulação e, caso exista uma gravidez, mantêm-se altos para manter o desenvolvimento das paredes do útero. Porém, caso não exista gravidez, os ovários deixam de produzir progesterona, levando à descamação do revestimento do útero, o que causa então a menstruação.
Estrogénio
Em conjunto com a progesterona, os estrogénios, como o estradiol e o estriol, também atuam na regulação do ciclo hormonal feminino durante a idade fértil.
Na puberdade, essas hormonas estimulam o desenvolvimento dos seios e maturação do aparelho reprodutor, assim como o crescimento e alteram a distribuição na gordura do corpo na mulher, geralmente depositado em torno das ancas, nádegas e coxas.
Testosterona
Mas testosterona não é uma hormona Masculina? Sim, a testosterona está sempre relacionada com o sexo masculino. No entanto, assim como os homens possuem alguns estrogénios, as mulheres possuem um pouco de testosterona.
Esta hormona afeta a mulher reforçando a sua disposição e energia, líbido, ossos e músculos. O desenvolvimento de características mais masculinas, como o aumento da pilosidade e a voz mais grave, podem indicar um excesso de testosterona ou de outros androgénios no corpo. Esse excesso pode estar relacionado com a síndrome de ovário micropoliquistico, com frequência associado à obesidade.
Gonadotrofina Coriónica Humana (HCG)
A Gonadotrofina Coriónica Humana (HCG) é produzida na placenta durante a gravidez, sendo possível inclusive diagnosticar a gravidez com precisão através do doseamento da HCG no sangue ou urina.
Hormona anti-Mulleriana (AMH)
Parece ser um dos melhores marcadores para avaliar a reserva ovárica, pois os níveis relacionam-se com o declínio dos folículos ao longo do tempo.
É preciso realçar que nenhum marcador é perfeito e a AMH não avalia a qualidade dos folículos ainda existentes.
Como é que as alterações hormonais acontecem
Há vários fatores que podem provocar as alterações hormonais. “O Eixo hipotalâmico- hipofisário- gónadas (ovários) caracteriza-se pelo clássico mecanismo de estimulação positiva e feedback negativo”, refere Inês Sapinho.
“[Os fatores] Podem ter um impacto negativo sobre o eixo, que se pode manifestar com irregularidades menstruais, amenorreia (ausência de menstruação) ou infertilidade”. São eles:
- Stresse;
- Nutrição;
- Atividade física excessiva;
- Alguns medicamentos;
- Doenças crónicas mal controladas.
Não só deve estar atenta a estes fatores, como também deve identificar as alterações que estes podem trazer ao corpo. “Como é fácil de compreender o principal sinal de que algo no eixo não está bem é a ausência de menstruação ou irregularidades menstruais, que são motivo de consultas frequentes. A infertilidade (ciclos não ovulatórios), são outra das razões que motivam uma ida ao especialista.”
Mas não fica por aqui. A especialista alerta ainda que a secreção inapropriada de leite mamário, muitas vezes associada ao stresse ou a medicamentos, deve também ser motivo para procurar um endocrinologista ou ginecologista.
Já após a adolescência, pode acontecer um aumento significativo de pilosidade e acne que devem ser avaliadas, “de forma a serem excluídas causas endócrinas e orientar no seu tratamento.”
Seja como for, a consulta de um médico deve ser sempre a primeira decisão a tomar nestes casos. “Nestas situações, uma história clínica e um exame objetivo cuidadosos são fundamentais e podem orientar o médico no diagnóstico.”
Os contracetivos têm um papel determinante?
Já muito se tem falado dos benefícios ou malefícios que alguns contracetivos podem trazer ao corpo feminino. Ainda que as opiniões se possam dividir, o primeiro passo é perceber de forma é que as hormonas que tomamos através destes mesmos métodos podem interferir com o nosso nível hormonal.
“Existem vários tipos de contracetivos: não hormonais e hormonais. No caso dos contracetivos hormonais, podem ser combinados (estrogénios e progestativos) ou progestativos isolados. Estão disponíveis para administração via oral, através da pele e via vaginal, sendo a pílula a forma mais utilizada”, indica Inês Sapinho.
Como é sempre sugerido, a ida ao médico é sempre o primeiro passo antes de decidir qual será o método contracetivo mais indicado para cada mulher.
“Existem situações em que o uso de alguns contracetivos pode aumentar a morbilidade, quer por condicionar agravamento de uma doença existente, quer pela condição clínica condicionar um aumento dos riscos associados ao uso do método de contraceção. Por exemplo, as mulheres fumadoras devem evitar os contracetivos hormonais pelo aumento de risco de eventos trombóticos”, aconselha.
Segundo a especialista, “o médico deve estar informado sobre se a mulher está ou não a fazer contraceção hormonal para poder interpretar os resultados dos doseamentos hormonais ou mesmo pedir para a suspender antes de fazer as análises”.
As hormonas femininas e o bem-estar da mulher
Quem nunca ouviu a frase “tens as hormonas aos saltos”? Poderá não ser, de todo, a frase mais simpática para uma mulher que está a ultrapassar um desnível hormonal, principalmente, para adolescentes, grávidas ou mulheres na menopausa que estão suscetíveis a oscilações de humor.
Porém, há uma explicação. “Os estrogénios estão intimamente relacionados com a sensação de bem-estar. Os estrogénios atuam em todo o organismo, incluído nas zonas do cérebro que controlam as emoções. As suas ações são extremamente complexas e ainda não totalmente esclarecidas. Como exemplo, apesar de todos os efeitos positivos a nível cerebral, muitas mulheres na pós-menopausa têm uma melhoria do seu humor, apesar dos níveis muito baixos de estrogénios.”
Nesta situação, é justo dizer que cada caso é um caso. Há mulheres mais vulneráveis às variações hormonais do que outras. Há inclusivamente mulheres que podem ter a qualidade de vida afetada devido à tensão pré-menstrual.
“Outro exemplo de alteração significativa de humor e que parece estar associada à descida abrupta dos estrogénios é a depressão pós-parto. É importante salientar que as emoções não resultam apenas dos níveis hormonais e da fase reprodutiva em que a mulher se encontra, mas de uma complexa rede de interações multifatoriais, incluindo o stresse do dia a dia, atividade física, estado nutricional, doenças associadas, entre outros”, menciona a especialista.