Sabia que um em cada cinco portugueses acima dos 40 anos sofrem de incontinência urinária? E que as mulheres são mais afetadas por esta condição do que os homens? Quando não tratada, pode ter um grande impacto na qualidade de vida dos doentes e isto é notado em várias esferas, da mental à profissional.
Incontinência urinária: o que é?
A incontinência urinária define-se como a “perda de urina pela uretra sem querer, já em idade adulta”, começa por explicar Luís Abranches Monteiro, médico urologista.
Estas perdas urinárias têm diversas causas e, por norma, estão associadas a um enfraquecimento dos músculos do pavimento pélvico, que sustentam literalmente a bexiga e a uretra, e à síndrome de bexiga hiperativa.
Por sua vez, esta condição caracteriza-se por um conjunto de sintomas com origem numa perturbação do armazenamento de urina na bexiga, devido à contração da musculatura da mesma, mesmo quando esta não contém urina suficiente para a micção.
O resultado é uma vontade urgente e frequente de ir à casa de banho. Em situação normal, a musculatura da bexiga relaxa e distende-se para acomodar a quantidade de urina que a pessoa vai produzindo ao longo das horas, e o órgão apenas recebe o sinal de que está cheio quando atinge o seu limite (que varia de pessoa para pessoa).
Tipos de incontinência urinária
Existem três tipos de incontinência urinária comuns nas mulheres, cada um com causas específicas.
Incontinência urinária de esforço
Este tipo de perda de urina involuntária acontece quando a pessoa tem os músculos do pavimento pélvico enfraquecidos e, por qualquer motivo, contrai esses músculos – basta tossir, espirrar ou fazer esforços, como pegar em sacos das compras ou pesos.
“As grandes causas de enfraquecimento que as pessoas acumulam são três: a idade, o sedentarismo e as várias gravidezes que têm, inclusivamente a parte do parto”, explica o especialista em urologia. Além disso, “o ambiente hormonal da própria menopausa também pode enfraquecer estes músculos”.
Incontinência urinária de urgência
Neste caso, “as pessoas perdem a urina quando têm uma vontade súbita de ir à casa de banho”, diz. Estes estímulos são muitas vezes despoletados por influências psíquicas, ou seja, por água da torneira a correr ou pelo simples facto de sabermos que temos a casa de banho a alguns passos.
“A bexiga começa a não ficar tão bem controlada pelo sistema nervoso central, começa mesmo a contrair-se, e a pessoa, com uma vontade irreprimível de ir à casa de banho, perde urina sem querer”.
Incontinência urinária mista
Também há quem sofra dos tipos de incontinência acima referidos, cerca de 1/3 das mulheres, segundo o médico.
“O que é que a gente conclui? Conluímos que na medicina não existem coincidência de 30%, ou seja, que tem de haver um ‘defeito’ qualquer que produza estes dois tipos de incontinência e hoje em dia sabemos que estes músculos do pavimento pélvico que estão enfraquecidos deixam a bexiga pouco apoiada, particularmente em algumas circunstâncias. E esta falta de apoio anatómico produz as duas formas de incontinência urinária”, explica o especialista.
Os homens não escapam
O homem por norma não sofre de incontinência urinária de esforço, caso se for operado e lhe retirarem “componentes do pavimento pélvico, o que às vezes acontece quando temos de tirar a próstata por cancro da próstata”. Já o segundo tipo de incontinência urinária é também comum nos homens, e em faixas etárias mais avançadas.
“Embora possa acontecer em pessoas muito novas, quanto mais idade têm, seja homem ou mulher, menos controlo têm do sistema nervoso central. Esta incontinência por urgência ocorre em cerca de 16% das pessoas globalmente. Mas dessas 16%, grande parte têm mais de 45 anos”.
Impactos na qualidade de vida
Quem sofre desta condição vê a sua vida virada do avesso, mental e fisicamente, com foco nas pessoas com incontinência urinária de urgência.
• Quem tem vontade frequente de ir à casa de banho pode ter problemas profissionalmente. Evitar empregos que envolvam o atendimento ao público é um exemplo;
• Quem tem urgências urinárias severas, que acontecem sem aviso prévio, chegam mesmo a evitar sair de casa, pois nunca sabem quando irão ter vontade de urinar e correr o risco de não conseguirem aguentar. Deixam de viajar, de trabalhar e de socializar;
• Quem opta por usar fraldas pode ainda vir a desenvolver eczemas na pele, acrescentando que nem todas as fraldas aguentam as perdas de urina súbitas;
• No dia a dia, perdem qualidade de descanso, pois acordam várias vezes de noite para ir à casa de banho.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da incontinência urinária é realizado pelo próprio paciente. O papel do médico é, então. perceber qual é o seu tipo de incontinência e, de paciente para paciente, aconselhar o melhor tratamento.
• Reabilitação. A fisioterapia dos músculos do movimento pélvico, em pessoas jovens, pode melhorar a incontinência de esforço e a incontinência por imprevisibilidade. Quando a pessoa já tem mais de 60 anos este potencial de reabilitação começa a ser mais fraco, diz Luís Abranches Monteiro.
• Operação. Em casos de pessoas mais velhas, “podemos fazer algumas cirurgias que melhoram bastante a incontinência de esforço, mas as cirurgias não são o melhor que há. Podem melhorar, mas também podem piorar a incontinência por imprevisibilidade”, alerta.
• Medicação. Quando a reabilitação não é uma opção realista, o tratamento foca-se na administração de medicamentos, “que fazem com que, cada vez que a pessoa tenha vontade de urinar, a bexiga aguente mais tempo para poderem chegar a porto seguro”.