Linfomas: que doença é esta e quais os sinais de alerta?
Contrariamente ao que muitos pensam, os linfomas são uma patologia específica e curável na grande maioria das vezes. Manuela Brochado, Onco-hematologista no Hospital CUF Porto, explica tudo.
Muita gente não conhece a patologia nem a que grupo de doenças pertence e, quando confrontadas com o seu diagnóstico, a maioria das pessoas continua sem saber do que estamos a falar. É natural, dado o número de casos aparecer em sexto lugar, atrás da maioria das neoplasias mais conhecidas e faladas.
No entanto, os linfomas têm uma característica relativamente particular em relação a muitas outras patologias desta área: uma enorme parte é curável mesmo quando a quantidade de doença, ou seja, os estádios, é grande.
O que é um linfoma?
Os linfomas são as neoplasias dos linfócitos, as células do sangue que nos defendem das infeções e dos agentes estranhos ao nosso corpo. Mas, questiona-se e bem, isso não são as leucemias? Sim, as leucemias também atingem essas células.
Linfomas e leucemias são as duas faces das neoplasias dos linfócitos. Falamos em leucemia quando há células malignas com aumento do seu número no sangue e em linfoma quando há gânglios infiltrados por estas células, ou então nódulos delas num órgão.
Esta é uma característica dos linfócitos – eles existem em todos os órgãos para os defenderem de infeções. Logo, um linfoma pode aparecer em qualquer órgão, embora o mais frequente seja apresentar-se como um gânglio aumentado de tamanho.
Mas então um nódulo num órgão não é uma neoplasia desse órgão? Neste caso não. Uma parte grande dos linfomas aparece como nódulos em órgãos variados, seja no estômago, intestino, pulmão, etc.
Que tipos existem?
Em termos de classificação, a grande divisão desta patologia é entre os linfomas de Hodgkin, característicos de idades jovens, e os linfomas não Hodgkin, que geralmente aparecem em pessoas mais velhas.
Os linfomas de Hodgkin têm uma taxa de cura muito elevada, que chega ao 98% nos estádios mais precoces. Mesmos em casos mais avançados, têm elevada taxa de cura, necessitando, em relação aos estádios com menos doença, de maior número de tratamentos.
Nos linfomas não Hodgkin apresentam-se doenças muito diferentes, algumas muito agressivas e outras chamadas indolentes, ou seja, lentas. No geral, uma grande parte é curável. A atitude face a cada uma delas depende de imensas características diferentes, havendo até alguns linfomas que são tratados com antibióticos.
Se uma doença destas aparece num órgão, por exemplo no estômago ou no pulmão, não será tratada com uma intervenção cirúrgica, ao contrário do que acontece com as doenças próprias deles, mas sim com antibiótico, radioterapia ou quimioterapia dependendo das características do linfoma.
Como detetamos um linfoma?
O primeiro agente neste processo de diagnóstico é o doente. Cada um de nós tem obrigação de conhecer o seu corpo e detetar se algo estiver diferente do que é habitual.
Na maioria das vezes um linfoma aparece como um gânglio aumentado de tamanho. Todas nós temos gânglios que aumentam de tamanho devido a uma infecção, por exemplo, num dente ou na garganta, mas ao fim de uma semana/ dez dias estes voltam ao tamanho anterior.
Se ao fim de duas, três semanas ele ainda lá está, não deve adiar – é altura de procurar o seu médico. Provavelmente vai-lhe receitar um anti-inflamatório e pedir uma ecografia. A ecografia permite visualizar as características do gânglio e avaliar se existe ou não suspeita de doença maligna.
Se o gânglio se mantiver, será realizada uma biópsia aspirativa, que é nada mais nada menos do que uma picada com uma agulha muito fina que vai aspirar células do centro do gânglio de forma a permitir a sua avaliação.
Se esta não for conclusiva, deve realizar-se então uma biópsia para histologia, o que pode implicar a remoção total ou parcial do gânglio.
Se o linfoma aparecer num órgão, os sintomas estão relacionados com esse órgão: as dores de estômago recorrentes ou a tosse que não passa, por exemplo.
Quando algum sintoma aparece e não atenua depois de duas, três semanas, deve mesmo procurar o seu médico. Isto porque, nos linfomas, quanto mais cedo for detetado menos tratamentos a pessoa terá de efetuar e maiores as hipóteses de ficar curada.
E depois?
Depois do diagnóstico são realizados exames (TAC, análises de sangue, PET ) para avaliar a extensão da doença.
De seguida será proposto um tratamento ou uma vigilância, no caso de alguns linfomas indolentes que avançam muito lentamente. Mas antes de chegarmos a esta conclusão é preciso conversar com um médico sobre tudo isto.
É essencial conhecer o nosso corpo, prestar atenção ao que possa estar diferente e procurar ajuda caso alguma alteração se mantenha, gânglio aumentado de tamanho incluído.
Devido à pandemia temos assistido a uma diminuição preocupante no diagnóstico de novos casos de doenças oncológicas. Lembre-se, o linfoma é uma doença curável na grande maioria das vezes e o diagnóstico precoce vai permitir aumentar as hipóteses da pessoa ficar curada e com menos tratamentos.