Descubra como funciona a melatonina, a hormona-chave para o sono
Noites sem dormir, a ver as horas a passar no relógio são um pesadelo. No entanto, a melatonina pode ajudá-la a combater isso. Conversámos com uma especialista para descobrir tudo sobre esta hormona. Pronta para uma boa noite de descanso?
Todas nós, ou quase todas, já passámos por fases onde não conseguíamos ter uma noite de sono reparador. Seja por ansiedade, problemas no trabalho, insónias ou conflitos com a cara metade, há várias razões que podem perturbar o seu ciclo de sono.
Todavia, não conseguir dormir reflete-se na saúde mental e física. Podem surgir dores de cabeça, irritabilidade, olheiras e cansaço, que a longo prazo podem comprometer o seu dia a dia.
A melatonina, conhecida como a hormona do sono, pode ser regulada de forma a conseguir o descanso que necessita. Basta saber como.
A Saber Viver conversou com Dulce Neutel, neurologista no Hospital CUF Descobertas – Consulta do Sono, para descobrir tudo sobre esta hormona.
O que é a melatonina
A neurologista começa por explicar que a melatonina “é uma hormona produzida, na sua maior parte, pela glândula pineal“, presente no cérebro humano, responsável pelos ciclos circadianos.
Estes funcionam como um mecanismo, pelo qual o organismo se regula entre o dia e a noite, ou seja, ativam os processos fisiológicos como acordar, sentir fome ou sono.
De acordo com Dulce Neutel, “as funções da melatonina ainda não estão completamente definidas e compreendidas“, no entanto, existem estudos que demonstram que esta hormona “regula o ciclo do sono-vigília, interage com as hormonas femininas e ajuda a regular o ciclo menstrual“, acrescenta.
Como se forma esta hormona
A melatonina é, então, formada na glândula pineal, “a partir do aminoácido triptofano que sob a ação de diferentes reações enzimáticas é transformado em serotonina e posteriormente na hormona do sono”, afirma a médica.
A libertação posterior da melatonina “acontece na sua maior parte durante a noite, especialmente na ausência de estímulo luminoso”, confirma.
Frequentemente, e como é de esperar, a produção desta hormona reduz com a idade, mas não só. “Pode também acontecer em indivíduos a quem a glândula pineal tenha sido removida cirurgicamente”, informa a neurologista, e em pessoas com “determinadas formas de cegueira“.
Nestes casos, e visto que a interpretação da luz pela retina está comprometida, o início do processo de libertação de melatonina pode sofrer alterações e, consequentemente, provocar distúrbios do sono.
Tratamentos
Antes de decidir recorrer a medicação para algum tipo de doença do sono, é necessário descobrir qual a solução mais indicada para si e para a sua condição.
Dulce Neutel explica que “a melatonina tem indicação apenas para tratar alterações do ritmo circadiano e a sua utilização deverá ser precedida pela determinação da curva desta hormona do indivíduo, de forma a que o tratamento seja personalizado”.
A curva de melatonina representa o momento em que esta começa a ser libertada e em que quantidades durante a noite, daí ser essencial adequar o tratamento a cada paciente. A formulação é também importante, já que existem suplementos de melatonina de libertação rápida ou prolongada.
A médica confirma ainda que “há de facto estudos que demonstram que a melatonina pode reduzir o tempo que o indivíduo demora a adormecer, embora o tratamento de uma doença como a insónia, por exemplo, é muito mais complexo e envolve quase sempre mudanças de hábitos e rotinas relativamente ao sono”.
Melatonina e suplementos
Tal como afirma a neurologista, existem fármacos de melatonina que podem ajudá-la a adormecer mais rápido, em forma de suplemento (dose individual até 1,99 mg) ou sob a forma de medicamento com prescrição médica (dose igual ou superior a 2 mg).
Porém, e como garante Dulce Neutel, “as recomendações das sociedades científicas para a administração de melatonina respeitam apenas às alterações do ritmo circadiano, ou seja, situações em que o início e o pico de libertação ocorrem muito cedo ou muito tarde durante a noite ou ainda de forma irregular”.
Efeitos secundários
De acordo com Dulce Neutel, “tal como qualquer fármaco, a melatonina também apresenta potenciais efeitos secundários“, no entanto, suplementos desta hormona “não causam habituação ou dependência”, confirma.
Entre os mais frequentes efeitos encontram-se náuseas, cefaleias ou dores de cabeça, sensação de desequilíbrio ao levantar ou sonolência diurna excessiva.
A neurologista alerta ainda que suplementos de “melatonina podem interagir com outros medicamentos, como antihipertensores, antidiabéticos ou mesmo imunossupressores”, daí ser fundamental consultar um profissional de saúde antes de começar a tomar qualquer tipo de suplemento ou fármaco.
Como estimular a produção desta hormona
Por fim, Dulce Neutel aconselha a seguir alguns passos se quer melhorar a sua produção de melatonina e, consequentemente, dormir melhor. Estas são as suas dicas:
• Respeitar o ciclo de dia/noite, uma vez que a produção e libertação de melatonina pela glândula pineal é inibida pela estimulação luminosa;
• Não utilizar dispositivos como o computador, tablet ou telemóvel antes da hora de dormir, visto que a exposição prolongada à luz pode inibir ou atrasar a libertação de melatonina no horário fisiológico.
Bons sonhos!