É um período de transição e até mesmo de grande mudança para o corpo (e vida) de uma mulher. A menopausa causa alterações físicas e emocionais, o que leva a uma procura por técnicas ou tratamentos que ajudem a reduzir os sintomas que esta fase provoca.
Em Portugal – e nos restantes países europeus -, a idade média da menopausa é, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Ginecologia, aos 51 anos.
A grande maioria das mulheres com esta idade experiencia os sintomas típicos da transição para esta etapa, como afrontamentos ou suores noturnos. Segundo o Consenso Nacional sobre Menopausa, publicado em 2021, são mais de 70% as mulheres que os vivenciam e, em mais de 30% dos casos, os sintomas vasomotores são frequentes ou intensos.
A evidência atualmente disponível explica este último dado com uma possível relação com doenças cardiovasculares subclínicas (que acontecem sem manifestação de sintomas) e valores de tensão arterial mais elevados.
Influência do álcool e tabaco
No entanto, o risco cardiovascular pode aumentar significativamente quando existem fatores, como o tabagismo ou álcool, envolvidos. Além disso, podem acelerar o fim do ciclo menstrual.
“Pensa-se que uma mulher fumadora pode entrar na menopausa 1,5 a 2 anos mais cedo. Porquê? Pelos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos presentes no fumo do cigarro serem tóxicos para os folículos ovarianos. Isto leva a um decréscimo nos níveis de estrogénio”, explica Patrícia Sofia Costa, nutricionista no Hospital Privado de Braga – Trofa Saúde.
Um estilo de vida pouco saudável pode agravar ainda a saúde das mulheres desta idade, que estão a passar pela menopausa. Ainda que este seja um processo natural, muitas vezes afeta, direta ou indiretamente, a vida de quem passa por esta fase.
O que é que se pode fazer para minimizar estes sintomas? Pode a alimentação influenciar este período?
Menopausa e alimentação. Como tirar partido desta correlação?
Atrasar um processo natural do corpo pode parecer estranho e quase contranatura. Porém, há quem o procure para fugir ao mau-estar diário, físico ou emocional.
“O consumo moderado de álcool, bem como o consumo regular de chá parece atrasar a idade natural da menopausa, muito provavelmente devido ao efeito antioxidante dos flavenóides do chá”, explica-nos a nutricionista. Mas faz a ressalva que, devido à falta de estudos, ainda não é possível o aconselhamento alimentar pormenorizado nesta fase da mulher.
Todavia, a própria alimentação pode influenciar a idade de entrada na menopausa. É um estudo da Universidade de Leeds, publicado no Journal of Epidemiology and Community Health, que o sugere. Realizada com 914 mulheres britânicas, esta investigação associa o consumo de certos alimentos a um adiamento ou antecipação desta etapa.
Alimentos que atrasam a menopausa
Patrícia Costa, com base neste estudo, refere dois alimentos que estão, não só associados ao retardar deste processo, como a um menor risco de menopausa precoce:
• o peixe gordo: fonte de ácidos gordos ómega-3 que, potencialmente, melhoram a capacidade antioxidante do organismo;
• legumes frescos: fonte de antioxidantes, compostos fenólicos, vitaminas e carotenóides;
Alimentos que podem acelerar a chegada da menopausa
O contrário também pode acontecer, através da ingestão de hidratos de carbono refinados, classificados como “alimentos de elevado índice glicémico”. A sua ingestão pode levar a uma antecipação de ano e meio da idade normal de início da menopausa.
“Os hidratos de carbono refinados, elevam o risco de resistência à insulina, o que pode interferir na atividade das hormonas sexuais e, por conseguinte, numa elevação dos níveis de estrogénio”, refere a nutricionista. Consequentemente, isto pode levar a “um aumento de ciclos menstruais e, consequentemente, a que os óvulos se esgotem mais rapidamente.”
Ainda que possamos observar algumas destas modificações na idade natural da menopausa, é importante fazer a ressalva de que há muitos outros fatores que podem contribuir para estas alterações. Sendo assim, em alguns casos, a alimentação pode não ser a responsável.
Necessidades nutricionais para quem está na menopausa
Patrícia Costa elaborou uma lista com as principais necessidades que o seu corpo carece quando passa por esta fase. São elas:
• Cálcio e vitamina D, comparativamente à mulher em idade fértil;
• O metabolismo tende a diminuir, daí serem menores as necessidades energéticas. Por isso, o exercício físico é de extrema importância para ajudar a combater o abrandamento do metabolismo, bem como da tendência em acumulação de gordura na região abdominal e flacidez dos tecidos;
• As mulheres em menopausa poderão beneficiar da ingestão de isoflavonas, compostos naturais que mimetizam os estrogénios. Encontram-se presentes na soja e produtos à base de soja, em leguminosas, em raízes como o inhame, rebentos de alfafa e sementes de linhaça.
Os riscos da entrada precoce ou tardia na menopausa
Ainda não são conhecidas as causas da menopausa precoce. Sabe-se apenas que é considerada precoce, porque acontece por volta dos 35 anos, quando o corpo deixa de produzir óvulos e estrogénio, a hormona responsável pela reprodução feminina, e quando se dá a cessação da menstruação.
No caso da menopausa tardia, acontece o contrário. A produção de estrogénio é contínua e a menstruação pode permanecer até depois dos 55 anos.
Ambos apresentam riscos. “A antecipação na idade natural de menopausa pode levar a maior risco de osteoporose e doenças cardiovasculares. Já a entrada na menopausa mais tardiamente levará a maior risco de cancro da mama, útero e ovários”, esclarece Patrícia Costa.
Os cuidados com a alimentação, a prática de exercício físico, a procura por um bem-estar psicológico e emocional são passos saudáveis e indispensáveis para quem atravessa esta fase.