A idade e a menstruação. Porque aparece cada vez mais cedo?
Já se questionou se a idade em que teve a primeira menstruação foi “normal”, saiba que não está sozinha. Marta Durão, ginecologista-obstetra na Clínica CUF Miraflores e no Hospital CUF Tejo, explora este tema.
Com certeza que já falou com as suas amigas ou familiares sobre a menstruação. Seja por ter dúvidas e perguntas, por não saber o que é “normal” ou não, ou apenas por curiosidade, este é um tema que todas já abordamos.
Se também já se questionou se a idade em que teve o período pela primeira vez é normal, não é a única.
A Saber Viver falou com Marta Durão, ginecologista-obstetra na Clínica CUF Miraflores e no Hospital CUF Tejo, para saber tudo sobre este tema. Ora veja.
Porque tem a menstruação surgido cada vez mais cedo?
De acordo com a especialista, a menstruação surge pela primeira vez “a partir dos 10/11 anos, dois a três anos após o aparecimento dos primeiros sinais de puberdade, como botões mamários, no caso das meninas”.
No entanto, nem sempre foi assim. A menstruação tem vindo a surgir prematuramente, visto que “estudos mostram que o início da puberdade (período em que o corpo sofre as alterações que marcam a mudança da infância para a idade adulta) tem vindo a ocorrer cada vez mais cedo”, confirma Marta Durão.
“Um estudo de grandes dimensões mostrou que, desde os anos 70, o início do desenvolvimento mamário diminuiu 0.24 anos por década. Também tem existido uma tendência para que o primeiro período (a menarca) surja mais cedo, mas a alteração tem sido mais modesta”, acrescenta.
Mas porque tal acontece? “Ninguém sabe com certeza as causas”, continua a especialista.
Porém, “hábitos nutricionais, como o leite adaptado em bebés pequenos, o aumento da gordura corporal e obesidade, a exposição a substâncias químicas que podem afetar as nossas hormonas e o consumo de refrigerantes” podem ter influência neste fenómeno.
A menstruação precoce
A especialista começa por explicar que “existem doenças que podem provocar a menstruação precoce”, como lesões do sistema nervoso central a tumores produtores de hormonas sexuais, e que é fundamental “saber distinguir o fisiológico do normal”.
E sim, a menarca precoce tem efeitos secundários físicos, tais como:
• Paragem prematura do crescimento ósseo e, consequentemente, menor estatura na idade adulta;
• Aumento do risco de colesterol elevado, de doenças cardiovasculares (como hipertensão, doença coronária e AVCs), de obesidade e de diabetes;
• Por terem uma exposição prolongada aos estrogénios (hormonas sexuais femininas), o que leva a um aumenta da densidade mineral óssea, o risco de osteoporose em idade adulta diminui;
• Por outro lado, este fenómeno condiciona a um maior risco de cancro da mama.
Todavia, os efeitos secundários não ficam por aqui. De acordo com Marta Durão, “o impacto psicológico é potencialmente maior quanto maior o desiquilíbrio entre a idade cronológica e o início da puberdade“.
Tal acontece que os “níveis aumentados das hormonas sexuais podem afetar diretamente o cérebro em desenvolvimento” o que ” coloca as crianças em maior risco de problemas emocionais e de saúde mental, tais como ansiedade, depressão, níveis baixos de auto-estima e má imagem corporal”, acrescenta.
Desta forma, jovens que se desenvolvem mais cedo e parecem mais velhas acabam por ser tratadas de forma diferente, tanto por amigos e colegas de escola como por adultos, “que sobrestimam o quão social ou cognitivamente maduras elas são”, afirma a ginecologista. Infelizmente, podem ainda receber atenção “que as afeta negativamente, por exemplo, de uma natureza sexual”, adiciona.
Como lidar e ajudar
Saber como lidar com a menarca precoce pode não ser fácil para mães e pais. No entanto, é fundamental manter a calma e garantir que comunica com a criança e que cria um ambiente de segurança.
Tal como afirma Marta Durão, “o ambiente social em que os jovens crescem pode ter um papel de suporte ou negativo, e isto é importante do ponto de vista da saúde destes jovens” visto que “o apoio dos pais pode diminuir o risco de depressão e ansiedade nas adolescentes e isto pode ser especialmente importante nos casos de risco, tais como uma puberdade precoce ou a exposição a situações de stress“.
A especialista lembra que “é fundamental investir num desenvolvimento pubertário saudável” e educar as jovens que se começam a desenvolver mais cedo “acerca da normal evolução da puberdade”.
“Se as jovens têm um aspecto físico diferente do das suas amigas ou sofrem assédio sexual, o falar disso abertamente com os pais pode mitigar o impacto de como se sentem ou olham para si próprias”, termina.
Por fim, a ginecologista aconselha a procurar apoio psicológico especializado se sentir que as jovens não estão a conseguir lidar de forma saudável com todas as mudanças físicas e de vida.