Mioma uterino: compreenda as causas, os sintomas e os tratamentos
Estima-se que o mioma afete dois milhões de mulheres em Portugal. Falámos com o médico especialista Rui Viana, Coordenador de Ginecologia do Hospital CUF Descobertas, sobre os principais fatores de risco, os sintomas e os tratamentos que precisa de conhecer.
Pode ser assintomático ou interferir bastante na nossa qualidade de vida. É, na sua maioria, benigno e uma das suas causas está relacionada com hábitos alimentares. Saiba a que é que deve estar atenta para vigiar, evitar ou tratar o mioma uterino.
O que é o mioma uterino?
Um mioma uterino (também designado por fibroide, leiomioma ou fibromioma) é um tumor benigno que se forma na superfície ou no interior do tecido muscular do útero. Em muitos casos, a presença de miomas passa despercebida. E só numa consulta de rotina, onde se faz uma observação ginecológica e/ou ecografia pélvica, consegue ser identificado.
No entanto, há situações em que os miomas podem ser francamente sintomáticos e interferir na qualidade de vida das mulheres, não só pelas dimensões que apresentam, mas também pelos sintomas que podem desencadear.
É muito raro haver malignização do mioma, mas é importante saber que esta transformação pode ocorrer”, acrescenta.
Com que frequência surge?
Em Portugal, os miomas uterinos afetam entre 30% a 60% da população feminina, estimando-se que cerca de dois milhões de mulheres sejam portadoras de um mioma.
Este problema ocorre em cerca de 20 a 40% das mulheres em idade reprodutiva.
Quais os fatores de risco associados ao aparecimento de miomas?
O risco de uma mulher desenvolver miomas aumenta com a idade, a história familiar, os hábitos alimentares e com a obesidade.
Pode surgir como um tumor isolado e atingir grandes dimensões, ou surgirem vários miomas de pequenas dimensões dispersos pelo útero.
Que tipos de miomas existem?
Globalmente, os miomas são classificados de acordo com a sua localização no útero. Podem ser:
• Intramurais: crescem na espessura da parede uterina) e representam 70% da totalidade dos fibromiomas;
• Subserosos: crescem para o exterior do útero e deformam os seus contornos. Em certos casos, os fibromiomas subserosos “desprendem-se” do músculo uterino e ficam pendentes na cavidade pélvica, mas ligados ao útero por um pedículo. Nestes casos, chamam-se fibromiomas subserosos pediculados;
• Submucosos: crescem para o interior da cavidade uterina, chamada endométrio. Estes últimos podem provocar grandes hemorragias, quer durante o período menstrual, quer fora dele.
É frequente coexistirem diferentes tipos de fibromiomas na mesma mulher, sendo que o tratamento destas situações deve ser individualizado e avaliado caso a caso.
Quais são os principais sintomas?
A manifestação clínica dos miomas depende, por um lado, do tamanho do mioma e, por outro, da sua localização no útero. Dependendo da situação clínica, os sintomas podem ser variados ou mesmo inexistentes.
Em 30% dos casos os miomas podem mostrar sintomas, mas há situações em que, pelas suas características, pela localização e pelo facto de não ter qualquer manifestação, não está indicado nenhum tratamento e basta apenas manter uma vigilância regular da situação.
Contudo, noutros casos, os miomas podem dar sintomas bastante intensos e interferir com a qualidade de vida da mulher. Podem estar associados a hemorragias uterinas anormais, menstruações muito abundantes com risco de anemia associada e dores pélvicas mais ou menos incapacitantes.
Em alguns casos, pelas grandes dimensões que podem atingir, estas lesões podem dar sintomas por efeito de compressão dos órgãos vizinhos, nomeadamente da bexiga (com vontade constante de urinar e incontinência urinária entre), do reto (com obstipação associada) e dor durante as relações sexuais.
Os miomas podem ainda interferir com a fertilidade e com a evolução de uma gravidez, devendo a sua existência e características ser avaliada na consulta pré-concecional, para um aconselhamento adequado.
Quais são os exames que devo fazer para ter o diagnóstico?
Como já referimos, os miomas podem ser assintomáticos e, por isso, apenas diagnosticados durante um exame de rotina. Mas habitualmente, pelos sintomas que desencadeiam, são identificados quando se vai à consulta para o esclarecimento de alguns sintomas que são sugestivos desta doença.
É, por isso, importante fazer uma avaliação ginecológica rigorosa, apoiada por exames complementares de diagnóstico.
A ecografia pélvica é o exame de primeira linha para o estudo dos miomas, e deve ser realizada por ecografistas com experiência na avaliação deste tipo de lesões. Em situações clínicas específicas, pode ser necessário realizar uma ressonância magnética para estudo adicional.
Quais são os tratamentos que devo conhecer se tiver um mioma uterino?
O tratamento depende de diversos factores, como a idade, o estado geral de saúde, a gravidade dos sintomas, os antecedentes pessoais e a localização dos próprios miomas.
De uma maneira geral, o tratamento dos miomas está indicado quando:
• são francamente sintomáticos e condicionam hemorragias anormais, não controladas com outro tipo de medicação;
• estes apresentam uma dimensão que condiciona a compressão dos órgãos vizinhos, com sintomas associados a esse “efeito de massa”;
• há um crescimento rápido da lesão, documentado por um dos exames de imagem referidos;
• em situações específicas, está associado a infertilidade.
Há alguns anos, o tratamento mais comum era a remoção do útero (histerectomia), sendo que atualmente são várias as opções de tratamento menos invasivas e com bons resultados.
Os tratamentos podem também incluir medicamentos que atuam no crescimento do mioma, e que podem ser usados isolados ou em combinação com o tratamento cirúrgico. Isto porque podem ajudar a controlar a hemorragia e a reduzir a dimensão da lesão antes da cirurgia.
Os miomas podem ser removidos por:
• Endoscopia/histeroscopia (via vaginal), com visualização do interior do útero através de um sistema ótico;
• Laparoscopia, para miomas de crescimento abdominal em que se usa um sistema ótico de câmaras e inserção de instrumentos cirúrgicos por pequenos orifícios milimétricos no abdómen;
• Cirurgia aberta, por exemplo no caso de miomas de grandes dimensões.
A histeroscopia e a laparoscopia são procedimentos cirúrgicos definidos como minimamente invasivos.
A remoção do mioma conservando o útero é importante em mulheres que desejem engravidar mas, em cerca de 25% dos casos, a doença pode reaparecer. Há, no entanto, situações em que não está recomendada a remoção dos miomas e terá de se realizar uma histerectomia (remoção do útero).
É recomendável…
…ter uma vigilância regular pelo ginecologista para que esta e outras situações sejam identificadas e tratadas a tempo. Com frequência os miomas podem não dar sintomas e a vigilância regular permitirá o acompanhamento da situação clínica.
Sempre que clinicamente indicado, o tratamento médico e/ou cirúrgico deve ser equacionado e discutido numa base individual.
Tem ou conhece alguém com um mioma uterino? Saiba como a meditação pode influenciar a saúde nesta entrevista com Rute Caldeira.