Ir à casa de banho é algo natural sim, mas por vezes pode ser difícil fazê-lo. Se sente que está mais inchada, que tem dores abdominais e que tem uma sensação de bloqueio, é provável que esteja a ter um episódio de obstipação.
Esta é desconfortável, claro, e pode ter algumas consequências a longo prazo se não for tratada.
A Saber Viver conversou com João Freitas Cruz, especialista em Medicina Geral e Familiar no Hospital CUF Descobertas, para conhecer tudo sobre a obstipação.
O que é, na verdade, a obstipação
Ao contrário do que pode pensar, a obstipação não é uma doença, mas sim um sintoma, que pode afetar qualquer pessoa, de qualquer idade.
De acordo com o especialista, a obstipação “prende-se com a dificuldade em evacuar, com defecações incompletas ou pela diminuição do número de dejeções (duas ou menos vezes por semana)” e pode surgir de três formas diferentes, ou seja, “na forma de um episódio agudo, ser intermitente ou crónica, quando persiste por mais de seis meses”, continua.
Na verdade, quase toda a população pode experienciar um episódio de obstipação durante a vida, visto que esta está relacionada com a falta de atividade física e uma dieta pobre em fibras e líquidos.
João Freitas Cruz afirma ainda que a obstipação “se torna mais prevalente à medida que a idade aumenta” e que “é mais frequente na mulher, sobretudo durante a gravidez, ocorrente também nas crianças na altura de desfralde e da aquisição do controle dos esfíncteres”.
Porém, é preciso ter em atenção que, “se não for devidamente controlada e tratada, pode levar a quadros de hemorroidas, impactação ou incontinência fecal”, alerta o profissional.
Porque surge
Se não consegue descobrir a causa do seu desconforto abdominal, saiba que não está sozinha. O especialista explica que, de facto, “nem sempre é fácil identificar a causa da obstipação“.
Todavia, enquanto em algumas ocasiões a causa não chega a ser identificada, “noutras são várias as patologias que podem levar a esse quadro”, relata.
Podemos, contudo, dividir as principais causas de obstipação em cinco grupos:
- Doença neurológica (neuropatia diabética, esclerose múltipla, Parkinson);
- Doença não neurológica (hipotiroidismo, gravidez);
- Síndrome do Intestino Irritável;
- Fármacos (antidepressivos, anti-histamínicos, opióides, ferro);
- Idiopática (sem causa conhecida).
Alimentação e a obstipação
A alimentação é a chave para manter um intestino feliz e a funcionar de forma correta.
Para tal, o profissional aconselha a “manter uma ingestão adequada de líquidos e de alimentos ricos em fibra“, tais como:
- Frutas: maçã (com casca), tâmaras, laranja, uva, ameixas, pera (com casca);
- Vegetais: ervilhas, brócolos, couve-de-bruxelas, cenoura, espinafre;
- Leguminosas: feijão manteiga, feijão vermelho, lentilhas;
- Cereais: aveia, trigo;
- Frutos-secos: amendoins, amêndoas.
Como evitar
Para prevenir a obstipação e evitar o desconforto abdominal, nada melhor que “a adoção de um estilo de vida saudável com exercício físico regular, uma dieta rica em alimentos com fibra e uma ingestão frequente de líquidos”, confirma o especialista.
É ainda importante realçar que “em pessoas que tomam vários medicamentos, cabe ao médico de família rever a terapêutica e identificar possíveis fármacos causadores da obstipação”, acrescenta.
Por fim, estes são os conselhos de João Freitas Cruz para evitar a obstipação:
• Ingira cerca de 2-2,5 litros de água por dia;
• Pratique no mínimo 150 minutos de exercício moderado/intenso cardiovascular (natação, marcha, corrida, bicicleta) por semana;
• Tenha uma dieta diversificada e rica em fibras (aproximadamente 25-30g/dia);
• Reveja regularmente a sua medicação com o seu médico de família;
• Procure aconselhamento médico se não melhorar com a alteração do estilo de vida ou se a obstipação tiver um impacto negativo na sua qualidade de vida.