Os ecrãs fazem mal aos olhos? 7 perguntas a fazer sobre oftalmologia pediátrica
O estrabismo cura-se ainda na infância? E será que faz mal as crianças usarem óculos de sol? Deixamos-lhe aqui sete mitos associados à oftalmologia pediátrica que precisa de desmistificar.
No que diz respeito ao tempo passado em frente aos ecrãs, sabemos que as crianças são capazes de exceder as recomendações médicas, e também pode ser complicado para os pais terem este controlo. Mas este não é o único problema associado à visão nos mais novos.
A propósito do Dia Mundial da Criança, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia explora o tema da oftalmologia pediátrica com respostas às perguntas mais frequentes para ajudar os pais.
Tire todas as dúvidas!
7 mitos sobre oftalmologia pediátrica a desmistificar
1. Os ecrãs fazem mal aos olhos?
Os dispositivos digitais quando são bem utilizados podem ser importantes ferramentas educativas e de lazer. Contudo, é importante monitorizar a sua utilização, nomeadamente evitar que os mesmos estejam muito próximos dos olhos pois podem levar a queixas de cansaço visual, olho seco e a perturbações da focagem.
Assim, aconselha-se seguir a regra 20/20/20, ou seja, a cada 20 minutos, uma pausa mínima de 20 segundos a uma distância mínima de 20 pés (6 metros).
2. As crianças podem utilizar óculos de sol?
As medidas que se aplicam à proteção da pele nos mais novos estendem-se também à proteção ocular, ou seja, deve evitar-se a exposição direta ao sol entre as 11h e as 15h no período do verão. Os óculos de sol não sendo obrigatórios, são aconselháveis.
Ao escolher uns óculos para o seu filho certifique-se de que as lentes têm filtro de proteção contra os raios ultravioleta (UV) próximo dos 100% e que são de boa qualidade ótica (sem distorção), nunca devendo estar riscadas ou com falhas. E lembre-se: a cor escura não é sinónimo de maior proteção!
Mais do que existir uma cura simples, o tratamento do estrabismo é um processo de reabilitação exigindo um trabalho conjunto com o médico oftalmologista, a criança e os pais.
3. As crianças até falarem não precisam de ir ao médico oftalmologista?
Existem exames simples que são capazes de quantificar a visão nos bebés desde tenra idade como, por exemplo, o teste do olhar preferencial em que através do interesse demonstrado pelo bebé por padrões de riscas com larguras diferentes se consegue obter o valor da acuidade visual de cada um dos olhos. Existe para cada idade nas consultas de oftalmologia testes adaptados com complexidade crescente até às escalas de visão dos adultos.
Em crianças sem antecedentes pessoais ou familiares relevantes e com comportamento visual aparente normal, a primeira consulta de oftalmologia deve ser realizada por volta dos três anos e depois com a periodicidade indicada pelo seu médico oftalmologista.
4. O estrabismo na criança cura-se de forma natural com o seu crescimento?
Qualquer alteração do alinhamento dos eixos visuais, mesmo que não permanente, presente depois dos seis/nove meses de idade não é normal e a criança deve ser observada numa consulta.
Por outro lado, há formas de estrabismo que aparecem mais tarde, nomeadamente as que estão associadas ao esforço acomodativo (de focagem), que tipicamente surgem pelos três/quatro anos de idade, em crianças até aí sem qualquer alteração aparente. Mais do que existir uma cura simples, o tratamento do estrabismo é um processo de reabilitação exigindo um trabalho conjunto com o médico oftalmologista, a criança e os pais.
A primeira ferramenta na correção das perturbações de focagem (erros refrativos) nas crianças são os óculos com lentes graduadas
5. É natural as crianças coçarem os olhos?
É natural, mas não significa que seja benéfico. Coçar os olhos de maneira repetitiva constitui um traumatismo físico que pode levar ao adelgaçamento e deformação da córnea (parte transparente do olho que se situa à frente da íris).
Adicionalmente, o coçar pode induzir a inflamações oculares e até mesmo infeções, uma vez que as mãos são portadoras de agentes infeciosos. Neste sentido, apesar do estímulo que as crianças têm para o fazer, nomeadamente as que sofrem de alergias, este comportamento deve ser fortemente desincentivado pelos pais.
6. As crianças não podem usar lentes de contacto?
A primeira ferramenta na correção das perturbações de focagem (erros refrativos) nas crianças são os óculos com lentes graduadas. No entanto, em casos selecionados as lentes de contacto também são uma opção, podendo ser adaptadas a qualquer idade. O uso de lentes de contacto neste escalão etário exige maior vigilância pelo médico oftalmologista e uma monitorização contínua diária por parte dos pais.
7. Lacrimejar é comum e normal nos mais novos?
A obstrução do canal nasolacrimal (que leva as lágrimas do olho ao nariz) é frequente nos bebés, acabando por se resolver nos primeiros meses de vida na grande maioria dos casos só com recurso a massagem no canto interno do olho.
No entanto, na presença de lacrimejo constante que condicione episódios repetidos de infeção ocular (conjuntivite) e/ ou na ausência de resolução até aos seis meses, o bebé deve ser observado por um médico oftalmologista.
Ana Vide Escada, coordenadora da secção de oftalmologia pediátrica e estrabismo do Hospital Garcia de Orta e Secretária-Geral Adjunta da SPO, afirma: “Com o avançar da idade, os mais pequenos podem não apresentar queixas e não notar que por exemplo a visão de um dos olhos é diferente da visão do outro e vão-se habituando a ver desta forma. Por vezes, são os professores que notam que a criança cerra os olhos ou cobre um olho para ler o quadro. Os pais devem estar atentos a qualquer alteração do normal comportamento visual dos seus filhos, nomeadamente se se aproximam muito da televisão ou dos monitores, ou se têm tendência para quase colarem a cara aos livros para conseguir ler”.
Neste sentido, “a prevenção e as consultas regulares com um médico oftalmologista são sempre a melhor opção a seguir por parte dos pais, principalmente quando se verificam indícios de que a criança pode ter alguma dificuldade visual”, acrescenta ainda Madalena Monteiro, coordenadora do Grupo de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo da SPO.