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Overthinking. O que é e como podemos parar este tipo de pensamentos

Overthinking. O que é e como podemos parar este tipo de pensamentos

Os pensamentos são automáticos, mas, quando são repetitivos e estão associados a uma preocupação desmesurada, falamos de overthinking. A boa notícia é que é possível fugir dessa espiral negativa tão prejudicial para a nossa saúde.

Por Fev. 19. 2025

‘Quem nunca se sentiu sufocada por pensamentos levante o dedo!’ Se fizéssemos esta pergunta numa sala, certamente seriam mais as pessoas que não se manifestariam do que as que levantariam o dedo, sobretudo se a audiência fosse predominantemente feminina. Pensar é inato ao ser humano, e o nosso cérebro fá-lo constantemente, mas, quando o pensamento se transforma num círculo vicioso negativo, pode ser muito limitativo.

Falamos de um conceito conhecido como overthinking, em português algo como pensar de mais, e que nos impede de tomar decisões, consome a nossa energia, leva-nos a pormo-nos em causa e tem um impacto negativo na nossa saúde e nas relações com os outros, até porque pode estender-se a todas as áreas da nossa vida.

Como diria António Variações, “quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga”. Mas comecemos por perceber o que é isto de pensar em demasia.

“É um padrão de pensamento de cariz repetitivo e pautado por uma preocupação excessiva que leva a uma espécie de labirinto mental no qual se analisam inúmeras vezes as situações que já a aconteceram no passado e se antecipam cenários de uma forma tendencialmente negativa e muito exaustiva”, salienta Helena Paixão, psicóloga clínica.

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Mais frequente nas mulheres

Associado a esse pensamento ruminante estão, como mostram vários estudos, o stresse pós-traumático e também a depressão. “As pessoas com mais tendência para a ansiedade tendem a pensar em demasia, e ter pensamentos mais ansiosos e preocupados”, explica a também autora do livro O poder do autocuidado (Nuvem de Ideias).

As mulheres também estão mais predispostas a pensar de mais, em comparação com os homens. “Nós produzimos um número de palavras que muito superior ao dos homens, logo tendemos a complexificar um pouco mais as coisas, o cérebro é diferente em ambos os sexos”, refere Helena Paixão. No entanto, a explicação não se fica por aí.

Como escreve Susan Nolen-Hoeksema, num dos livros mais esclarecedores sobre este tema – Mulheres que pensam de mais (Presença) – “as provas do pensamento excessivo nas mulheres apontam para causas sociais e psicológicas”. Uma das causas apontadas pela a autora são “os aborrecimentos e os fardos que advêm do menor poder social das mulheres”.

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A tensão permanente em que vivem faz com que pensem demasiado para tentar controlar as suas vidas. Outras das razões são o abuso sexual de que muitas são alvo, bem como a excessiva preocupação para com os outros e a sua consciência emocional.

“As mulheres conseguem cismar sobre tudo e mais alguma coisa – a aparência, a família, a carreira, a saúde. Sentimos, muitas vezes que isso advém apenas de sermos mulheres – que é um reflexo do nosso temperamento atencioso e protetor. Mesmo que que haja nisto algum fundo de verdade, pensar de mais também nos é prejudicial. (…) A probabilidade de as mulheres sofrerem de depressão ou de ansiedade profunda é duas vezes superior à dos homens, e a nossa tendência para pensar demasiado parece ser uma das causas”, lê-se na obra já citada.

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Pensamento transversal

Quem pensa de mais fá-lo para todas as áreas da sua vida? “Há pessoas em que é um traço transversal que tem impacto quer na vida pessoal, quer na laboral e na relacional. Outras, por motivos internos, canalizam só para uma das áreas”, esclarece a psicóloga clínica. Certo é que sejam eles quais forem, os pensamentos ruminantes interferem na nossa vida de variadíssimas formas.

De acordo com Helena Paixão, “podem gerar insónias, levar a diversas somatizações, nomeadamente dores de cabeça, dores de costas, problemas gastrointestinais e dificuldades de concentração”. Além disso, dificultam as tomadas de decisão eficazes. “As dúvidas associadas à insegurança, como ‘será que vou fazer bem?’ são constantes e pode-se chegar a um ponto em que poderá não se conseguir avançar”, afirma a psicóloga clínica. Quando alguém que pensa demasiado toma uma decisão que se revela errada, vai provavelmente ruminar à volta daquela sem conseguir parar.

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Pensar de mais…

…torna a vida mais difícil: Os problemas que enfrentamos parecem maiores, a probabilidade de encontrarmos boas soluções para os nossos problemas é menor e somos mais suscetíveis de reagir ao stresse de forma intensa.

… prejudica as relações: os outros podem ficar irritados ou até deixar-nos, e temos dificuldade em compreender o que precisamos de fazer para melhorar os nossos relacionamentos.

.. pode contribuir para perturbações mentais graves, incluindo depressão e ansiedade generalizadas, bem como abuso de bebidas alcoólicas.

Fonte: adaptado do livro Mulheres que pensam de mais, Susan Nolenãhoeksema, Presença

 

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Plano de ação

Estratégias para gerir o pensamento excessivo, de acordo com a psicóloga clínica Helena Paixão:

Auto-observação com aceitação e com gentileza, contudo, para fazer isso é importante também ter uma boa dose de autoconhecimento. Isso passa por aceitar os pensamentos automáticos que surgem.

Interrogar os pensamentos de uma forma construtiva. Numa ótica de se questionar o porquê do pensamento e fazer uma avaliação da possibilidade versus probabilidade. Muitas vezes a probabilidade é muito reduzida e diminui a ansiedade.

Diferenciar as preocupações. Em psicologia há preocupações produtivas e improdutivas. A função da mente é de facto pensar, mas é preciso aprender a diferenciar ambas. As primeiras permitem-nos avançar; as outras não.

Estimular o músculo da atenção de qualidade, o que pode ser feito através do mindfulness, para estarmos mais no presente em vez de estarmos a ser disputados por outros estímulos.

Quebrar o estado de pensamento, o que pode ser feito com coisas simples como lavar as mãos com água fria, beber um copo de água, falar com alguém, olhar para uma árvore. Tudo isto descentra a atenção.

Investir na higiene psicológica, onde se inclui o mindfulness, a meditação, o exercício físico, minidoses de autocuidado e respiração consciente.

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A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 295, janeiro de 2025.