Saúde

Todas as perguntas que sempre quis fazer sobre menopausa respondidas por uma ginecologista

O estigma em que a menopausa continua envolta impede-nos de colocar as questões que queremos. Para não ter de as fazer na próxima consulta de ginecologia, fizemo-las por si.

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Todas as perguntas que sempre quis fazer sobre menopausa respondidas por uma ginecologista Todas as perguntas que sempre quis fazer sobre menopausa respondidas por uma ginecologista
© rawpixel
Inês Aparício
Escrito por
Dez. 18, 2023

Poderia ser apenas uma provocação, mas é a realidade: se envolve o corpo da mulher, há muito ainda para investigar e descobrir. Aliás, existem inúmeras perguntas que queremos fazer, mas temos demasiada vergonha para as colocar.

A menopausa é um desses temas envoltos em mistério e estigma, sobre a qual a maioria das pessoas – muitas mulheres incluídas – pouco sabe.

Contudo, como informação é poder, pedimos à ginecologista e obstetra do centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e também docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Maria João Carvalho, que esclarecesse todas as dúvidas.

Tudo sobre menopausa

A última menstruação dita o início da menopausa?

A menopausa define-se após 12 meses de falha de menstruação, secundária à cessação definitiva da função ovárica. Ocorre habitualmente por volta dos 50 anos, podendo rondar entre os 45 e os 55 anos.

A menstruação para de repente, do dia para a noite?

Habitualmente, a última menstruação é precedida por ciclos menstruais irregulares, começando a ficar mais longos e acompanhados por sintomas vasomotores.

Se a mulher utilizar métodos hormonais, poderá não ser possível avaliar a regularidade. Aqui, será a presença de sintomatologia característica que poderá indicar o estado hormonal.

Por norma, a menopausa tem início a partir de que idade? Existem exceções?

A menopausa espontânea surge em média aos 50-51 anos, frequentemente entre os 45 e os 55 anos. Quando surge entre os 40 e 45 anos denomina-se menopausa precoce. A situação mais particular é a insuficiência ovárica prematura, considerada antes dos 40 anos.

Existem várias causas, como genéticas, associadas a tratamentos médicos tóxicos para os ovários e intervenções cirúrgicas sobre os ovários. Em várias situações a causa pode ser desconhecida.

Qual a diferença entre menopausa e pós-menopausa?

Menopausa é um marco cronológico após 12 meses sem menstruação. Após esta data, consideramos que a mulher se encontra na pós-menopausa.

As baforadas de calor repentinas são um sintoma comum a todas as mulheres?

Os calores e afrontamentos são a sintomatologia característica. Afeta cerca de 70% das mulheres nesta fase. O predomínio noturno é muito característico e pode interferir com descanso .

Porque é que as mulheres sentem mais calor durante a menopausa?

A sintomatologia vasomotora, calores e afrontamentos têm mecanismos que não estão totalmente esclarecidos. O défice de estrogénios desencadeia alterações no centro de termorregulação central e provoca o aparecimento dos calores.

Como reduzir essa sensação de calor?

De facto, o tratamento disponível mais eficaz para este sintoma é a terapêutica hormonal com estrogénios.

Existem outras opções não hormonais, como por exemplo antidepressivos, que podem ter algum efeito, sendo uma escolha preferencial em mulheres com contraindicação a hormonas.

Quais são os sintomas mais comuns?

A sintomatologia mais frequente são os calores e afrontamentos. No entanto também é típica a descrição de sintomas neurovegetativos, como irritabilidade, dificuldade de concentração e labilidade emocional.

A complicação tardia mais grave é a osteoporose, associada a fraturas ósseas patológicas.

É possível minimizar esses sintomas?

A terapêutica hormonal é o tratamento mais eficaz e por isso considerado de primeira linha. Existem várias opções e formas de administração que podem ser individualizadas a cada mulher. A terapêutica não hormonal deve ser considerada em mulheres com contraindicação ou que não pretendem hormonas.

A menopausa traz uma diminuição da líbido?

A diminuição da líbido e desconforto na atividade sexual são frequentes nesta fase. Após algum tempo, a secura vaginal intensifica e permanece na pós-menopausa.

A redução dos níveis hormonais acarreta diminuição da líbido, no entanto existe uma constelação de eventos que contribuem para a disfunção sexual. é de salientar a atrofia vulvovaginal, responsável por dor e desconforto associados com as relações sexuais e que contribuiu grandemente para esta situação.

Durante a menopausa, as mulheres não devem ingerir determinados alimentos?

Como em qualquer fase da vida das mulheres, o ideal é ingestão de uma dieta equilibrada, evitar excesso de gorduras e hidratos de carbono.

O equilíbrio da ingestão calórica é fundamentar para controlo de patologias a longo prazo, como a doença cardiovascular.

A ingestão de laticínios é uma fonte importante de cálcio, fundamental para o metabolismo do osso.

Existem riscos associados à menopausa?

A menopausa acarreta modificações particularmente graves no sistema cardiovascular e a osteoporose. Na pós-menopausa, os eventos cardiovasculares aumentam na mulher, chegando a níveis equiparados ao sexo masculino, acelerando a doença aterosclerótica.

A osteoporose é outra complicação grave a longo prazo, com taxas de morbilidade e mortalidade importantes na população idosa, secundárias a fraturas patológicas.

Engordar é uma consequência inevitável da menopausa?

Após a menopausa, pela modificação do perfil hormonal, existe um predomínio de deposição da gordura corporal na zona do tronco. Assim o biótipo feminino modifica-se para um formato mais androide.

Muitas vezes mais do que um aumento ponderal significativo, é esta modificação do formato do corpo que mais se salienta nesta fase.

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