Saúde

Perguntas (e respostas) que não temos coragem de fazer ao ginecologista

Imagine que este artigo é um consultório médico onde não entram tabus. Aqui vai poder encontrar as respostas às perguntas que habitualmente não temos coragem de fazer ao ginecologista. Deixe a vergonha à porta e entre.

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Perguntas (e respostas) que não temos coragem de fazer ao ginecologista Perguntas (e respostas) que não temos coragem de fazer ao ginecologista
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Mar. 08, 2019

Ser acompanhada por um médico ginecologista é um cuidado que todas as mulheres deveriam ter e, em situações normais, é aconselhado fazê-lo (pelo menos) uma vez por ano. Mas ir ao ginecologista não tem de ser um filme de terror.

É verdade que há temas sobre os quais temos algum pudor em falar. Mas para elaborar este artigo, despimo-nos (não literalmente) de preconceitos e falámos com Rosa Carvalho, ginecologista-obstetra do Hospital da CUF, que respondeu às perguntas que provavelmente muitas mulheres – das mais jovens às adultas – querem ver respondidas mas que, habitualmente, têm vergonha de fazer.

20 perguntas que não temos coragem de fazer ao ginecologista

1. Posso ir ao ginecologista quando estou com o período?

Por norma, não é aconselhado ir ao ginecologista quando se está no período menstrual. No entanto, há exceções:

Quando existe um problema menstrual, como menstruações prolongadas (metrorragias) ou muito abundantes (menorragias) para que haja uma avaliação da situação;

Quando se pretende fazer a introdução do dispositivo intrauterino, uma vez que é mais fácil e menos doloroso nesse período.

2. A menstruação irregular tem algum tratamento?

O padrão menstrual varia de mulher para mulher e, ao longo da vida de cada mulher, também podem haver pequenas alterações fisiológicas que são normais.

As alterações dos ciclos são muito frequentes – longos, curtos, ausentes, muito abundantes ou em pequena quantidades mas prolongados – e, para todas as situações, há terapêuticas ajustadas à idade e fatores de risco de cada mulher.

3. Devo fazer a depilação antes de ir ao ginecologista?

A depilação deve e pode ser feita quando a mulher achar que é necessário. Há mulheres que não se depilam e há quem faça depilação parcial ou totalmente, depende de cada uma.

Ainda assim, não convém fazer a depilação na semana em que vai à consulta, porque pode haver alguma alteração da cor ou textura da pele que esconda alguma patologia.

4. É verdade que devemos evitar cuecas de materiais acrílicos?

Idealmente, a roupa interior deverá ser de algodão. Não sendo possível, é aconselhável usar roupa confortável. Devem evitar-se as chamadas cuecas “fio dental”, uma vez que traumatizam a zona genital.

Devemos falar de tudo o que suscitar dúvidas com o nosso ginecologista.

5. O aspeto da minha vagina é normal?

A vagina “normal” não existe. Esta questão poderá ser colocada em relação à vulva (parte visível da vagina) e existem diversas variantes, quer em termos de morfologia dos pequenos lábios, quer em relação à cor, tamanho do clítoris ou profundidade e elasticidade da vagina.

Tirando alguns casos patológicos de malformações vulvovaginais e de alterações do clítoris por questões hormonais, o aspeto do aparelho genital feminino varia de mulher para mulher.

6. Devo falar de sexo anal com o meu ginecologista?

A resposta a esta pergunta é “sim”! Devemos falar de tudo o que suscitar dúvidas com o nosso ginecologista.

O sexo anal faz parte da prática sexual de muitas mulheres e, portanto, é importante esclarecer com o ginecologista todas as dúvidas que se tenha, como por exemplo, as infeções do trato urinário que aumentam com esta prática sexual.

7. Como sei se tenho uma doença sexualmente transmissível?

As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são, por norma, sintomáticas. Nesse caso, a ida ao ginecologista é obrigatória para avaliação clínica e realização de exames, nomeadamente das secreções vaginais e sanguíneas. As mulheres com comportamentos de risco devem fazer periodicamente o despiste de DST.

8. Há risco de transmissão de doenças através do sexo oral masculino?

Sim, as mucosas orais podem estar em contacto com os microrganismos transmissores das DST.

9. Sendo lésbica, devo ter cuidados diferentes das mulheres heterossexuais?

A sexualidade é uma escolha de cada indivíduo. No caso de uma relação lésbica, se a parceira tiver uma DST os cuidados terão de ser iguais.

 O excesso de lavagem [das zonas íntimas] é desaconselhado.

10. Por que sinto dor a fazer sexo?

Em linguagem médica, a dor durante o ato sexual chama-se dispareunia. Há dois tipos:

Um que pode estar relacionado com problemas de secura vaginal e falta de lubrificação na introdução do pénis na vagina;

• Outro mais profundo, relacionado com a anatomia da mulher ou do homem (tamanho ou forma do pénis), nomeadamente as características morfológicas da vagina e posicionamento do colo uterino ou outras patologias, como a endometriose ou miomas uterinos.

11. Como sei se o odor da minha vagina é normal?

O odor da vagina tem características sui generis e varia de mulher para mulher. Depois há, naturalmente, casos de infeções bacterianas que provocam odores anormais e, nestes casos, há que fazer tratamentos específicos para a patologia em causa.

12. Como devemos lavar as zonas íntimas no dia a dia? E em casos especiais (comichão, corrimento, menstruação, etc)? Este facto está diretamente ligado com o equilíbrio da flora vaginal?

As lavagens da região genital devem ser feitas com produtos de pH neutro, específicos para higiene íntima. Em casos de candidíase que tem como sintoma o prurido (comichão), a lavagem deve ser feita com uma solução de pH alcalino.

O equilíbrio da flora vaginal é fundamental, pelo que o excesso de lavagem é desaconselhado.

É igualmente importante que a alimentação seja variada e rica em probióticos (como vegetais ou iogurte). Ainda assim, sempre que as secreções vaginais tenham um cheiro desagradável, uma coloração diferente do branco ou haja sintomas de prurido, ardor ou dor, deve sempre consultar-se o ginecologista, para despiste de DST ou infeções vaginais.

13. O meu fluído vaginal é normal?

Desde que não tenha alteração da cor ou cheiro e não provoque comichão, sensação de ardor ou queimadura, o fluído vaginal pode ser considerado normal.

Existem mulheres com muita secreção vaginal, a qual pode estar relacionada com pequenas alterações fisiológicas do colo uterino. Estas, apesar de serem normais em jovens e mulheres grávidas, podem ser tratadas.

14. Tive relações sexuais sem proteção. O que devo fazer?

Fazer relações sexuais sem proteção pode ter consequências como uma gravidez não desejada – para a qual deverá tomar a pílula do dia seguinte -, ou a contração de DST – em que deve fazer os despistes necessários na altura e, no caso do vírus do HIV, após seis meses.

Depois do parto, há um período de adaptação fisiológica de todo o corpo e, especialmente, da vagina. É recomendado não haver relações sexuais nas primeiras quatro semanas.

15. O anel vaginal é aconselhável?

Todos os métodos anticoncetivos existentes no mercado são aconselhados, dado que foram devidamente testados e avaliados. Cada caso é um caso que terá de ser avaliado em consulta e ajustado a cada pessoa.

16. Hoje em dia, com o aparecimento de tantas alternativas à pilula, podemos dizer que este é o método contracetivo com mais desvantagens para a saúde da mulher? Se sim, quais são as principais?

Não, até porque existe um vasto leque de opções de pílula, com variações ao nível dos componentes. Nada é desaconselhado. Tem, sim, de se ajustar o método contracetivo às necessidades de cada mulher.

17. Raramente atinjo o orgasmo e não tenho prazer sexual. Porquê?

A falta de prazer sexual e dificuldade em atingir o orgasmo tem interferência de duas componentes:

• Física: dor, infeções ou carência hormonal (sobretudo na menopausa);

 Psicológica e social (com um peso muito importante): stresse no trabalho e em casa ou falta de descanso e tempo para namorar e desfrutar da vida de casal, entre outras;

Dependendo do caso, poderá ser necessária uma consulta de apoio em sexologia (individual ou em casal).

18. O sexo dói depois de ser mãe?

Após o parto, há um período de abstinência sexual aconselhado de quatro semanas. Após esse período, é recomendado o uso de lubrificante.

É importante as mulheres perceberem que é normal existirem algumas alterações durante a prática sexual, nomeadamente devido à secura vaginal (relacionada com a amamentação) e eventuais queixas relacionadas com a episiorrafia (sutura do períneo ou dos tecidos à volta da vulva). Em todo o caso, há sempre solução, quer com terapêutica médica, quer com fisioterapia. Ou, em situações raras, com uma pequena cirurgia para reparar alguma sequela.

19. A minha vagina vai voltar à sua forma normal depois do parto?

Depois do parto, há um período de adaptação fisiológica de todo o corpo e, especialmente, da vagina. É recomendado não haver relações sexuais nas primeiras quatro semanas após o parto.

Na grande maioria dos casos, tudo volta ao normal. Mas, claro, há exceções, e neste caso podem estar relacionadas com episiorrafia, lacerações do canal de parto ou, mesmo, alterações do perfil vaginal como cistocele (bexiga descaída), retocelo (protusão da parede anterior do reto na vagina) ou até incontinência urinária (que na  maioria dos casos é transitória e pode ser resolvida com exercícios de Kegel) e incontinência de fezes – casos raros mas que obrigam a reconstruções cirúrgicas.

20. Acho que sofro de secura vaginal. O que posso fazer?

Secura vaginal é mais frequente no pós-parto e na menopausa, devido à ausência ou baixa das hormonas sexuais, nomeadamente os estrogénios e a testosterona. Deverá ser tida em conta também a questão psicológica e a falta de preliminares na relação sexual. Há muitos lubrificantes comercializados que ajudam a melhorar a situação.


Já fez alguma destas perguntas ao seu ginecologista? Tire, ainda, todas as suas dúvidas sobre candidíase vaginal.

Este artigo foi atualizado e publicado originalmente a 10 de janeiro de 2019.

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