Problemas a dormir? Pode tratar-se de apneia do sono
Esta doença respiratória nem sempre é levada a sério, diga-se. Normalmente, são os parceiros, testemunhas dos sinais da apneia do sono, a dar o alerta. Conheça os sintomas e fatores de risco, mas também as consequências na vida e o tratamento possível, sem esquecer a prevenção.
Não se conhece ainda a prevalência da apneia do sono no nosso país. Contudo, estudo internacionais apontam números de respeito.
Estima-se, pois, que esta condição afete 4% a 6% do sexo masculino e 2% a 3% do sexo feminino, pelo que é cada vez mais frequente conhecermos alguém que sofre desta doença. A faixa etária mais afetada situa-se entre os 40 e os 60 anos.
Sabia, por exemplo, que parte dos sintomas da apneia do sono se manifesta com o doente acordado? Nós também ficámos surpreendidas. Mas mais, o risco de não se tratar a doença alia-se a consequências cardiovasculares sérias.
Por sua vez, a prevenção está diretamente relacionada a um estilo de vida saudável, onde uma alimentação adequada e uma atividade física regular prevalecem.
Mas vamos por partes. Para compreender esta patologia em pleno, conversámos com Susana Teixeira de Sousa, pneumologista – consulta do sono no Hospital CUF Descobertas e CUF Infante Santo e colocámos as questões mais imperativas.
Nunca ouvi falar em apneia do sono. De que se trata?
Antes de nos elucidar, e bem, sobre esta condição, a médica começa por deixar um apontamento referente ao momento que se vive. Ora, “em época de pandemia as restantes doenças persistem”.
Quer isto dizer que, embora não exista, à partida, relação entre a apneia do sono e a Covid-19, a realidade é que “a apneia do sono se associa frequentemente a doenças que constituem fatores de risco de gravidade da Covid-19”.
Dito isto, a médica deixa um apelo “é preciso ficar alerta e procurar ajuda em caso de suspeita da apneia do sono”.
Mas afinal de que estamos a falar?
“A síndrome de apneia obstrutiva do sono é uma doença que se caracteriza por paragens na respiração durante o sono”, explica-nos Susana Teixeira de Sousa. De que forma, neste caso, é que este fica comprometido?
“A apneia do sono leva a um sono de má qualidade, com dificuldade em alcançar o sono profundo e pode apresentar consequências graves como enfarte do miocárdio, arritmias ou acidente vascular cerebral (AVC)”.
Como sei se tenho apneia do sono?
Tal como já foi referido, aqui os sintomas podem ser tanto diurnos como noturnos, pelo que, com grande frequência, os pacientes são trazidos à consulta pelos(as) parceiros(as), quem mais denota os sinais de alerta.
Isto porque uma parte dos sintomas passa-se com a pessoa a dormir e os restantes, os que ocorrem à luz do dia, não são automaticamente associados a uma patologia, ou a esta patologia.
Principais sintomas
• Ressonar;
• Paragens respiratórias durante o sono;
• Engasgamentos ou sono agitado com múltiplos despertares;
• Sono pouco reparador “acordo mais cansada do que quando me deito”;
• Facilidade em adormecer durante o dia;
• Alterações da memória;
• Dores de cabeça quando se levanta;
• Capacidade para desempenhar tarefas comprometida;
• Acidentes de trabalho ou de viação;
• Problemas conjugais ou sociais;
• Irritabilidade ou fadiga;
• Isolamento social.
Relativamente aos fatores de risco e a quem está mais vulnerável, a pneumologista destaca a obesidade como o principal fator. Também o tabagismo e as bebidas alcoólicas agravam o ressonar e podem aumentar a probabilidade de apneia do sono.
Daí a necessidade de um estilo de vida o mais saudável possível como prevenção – prezar uma nutrição adequada, praticar exercício físico regular e evitar o tabagismo ou o álcool.
Que implicações pode ter na minha vida?
Relativamente às consequências na vida da pessoa afetada, especialmente quando não é tratada, Susana Teixeira de Sousa é peremptória e afirma que “o risco de não se tratar esta doença prende-se sobretudo com consequências cardiovasculares”.
E oferece-nos uma explicação por detrás desta resposta: “as paragens respiratórias causam descidas do oxigénio no sangue e quando ocorrem de forma repetida ao longo da noite aumentam o risco de hipertensão arterial, enfarte agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e arritmias”.
O que acontece “muito infelizmente”, acrescenta a médica, é que, muitas vezes os pacientes só procuram ajuda depois de um enfarte ou de uma hipertensão mais difícil de tratar, quando no fundo o que existia era uma apneia do sono não tratada há vários anos.
A pneumologista deixa, no entanto, uma mensagem de alento: “Apesar de frequente, trata-se de uma doença tratável”.
Como é que os médicos sabem que é mesmo apneia do sono?
Relativamente ao diagnóstico, este é um procedimento simples. Primeiro, é avaliada a história clínica, depois realiza-se um estudo do sono, que pode ser realizado no hospital ou no domicílio.
Este estudo “regista as alterações na respiração durante o sono e o impacto destas variações na estrutura do próprio sono”, explica-nos Susana Teixeira de Sousa.
E continua: “o exame permite o diagnóstico e perceber qual a gravidade de acordo como o número de paragens (apneias) ou diminuição da passagem do fluxo de ar (hipopneias)”
Finalmente, “de acordo com os sintomas, existência de doença cardiovascular e gravidade é decidido o tratamento mais adequado a cada caso”.
Qual é, então, o tratamento mais eficaz?
“Nos casos de apneia obstrutiva do sono moderada a grave, o tratamento de primeira linha recomendado é o CPAP (continuous positive airway pressure)”, tratando-se, pois, da “aplicação de uma pressão positiva de ar através de um equipamento elétrico gerador de pressão e de uma máscara que impede o encerramento da via aérea superior durante o sono, corrigindo as paragens respiratórias”.
A pneumologista explica-nos que este tratamento não só melhora a sonolência e o cansaço diurnos, como reduz os acidentes de viação e o risco de doença cardíaca. Indica-nos também que este equipamento pode ser utilizado sempre que se dorme e mesmo durante as férias ou períodos curtos fora de casa.
“Em casos ligeiros a moderados ou em que os doentes recusem outras alternativas de tratamento, a Medicina Dentária pode ser a solução através da utilização de dispositivos orais que permitem a redução ou eliminação do ressonar e da apneia de sono”.
Noutros casos, explica-nos ainda Susana Teixeira de Sousa, em que o ressonar se deva a alterações da via aérea superior, “a Otorrinolaringologia pode oferecer uma solução cirúrgica adequada a cada caso”.
Em suma…
No fim da nossa conversa, a médica pneumologista faz uma ressalva. É que um diagnóstico atempado é o que se quer, essencialmente.
Assim, para além das medidas preventivas já anunciadas, é necessário estar bastante atenta aos principais sinais de alerta. Se tivermos essa oportunidade, poder contar com o nosso(a) parceiro(a) é fundamental.
Agora que sabe o essencial sobre esta condição, esteja mais atenta à sua saúde e à dos que a rodeiam.