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“O impacto psicológico da psoríase pode ser avassalador”

Não é uma doença contagiosa, como à partida se poderia pensar, e afeta ambos os sexos de igual forma. Um especialista explica tudo sobre a psoríase e como esta pode afetar a autoestima e a qualidade de vida dos doentes.

Por Out. 29. 2018

A pele descama, fica vermelha e dá comichão. Os outros olham, com receio de que seja algo contagioso, e esse repúdio, ainda que inconsciente, pode ser “avassalador” para quem tem estes sintomas.

Um dos desafios diários de quem tem sofre de psoríase é muitas vezes o desconhecimento da sociedade face à doença. Estes dramas foram inclusive dados a conhecer recentemente numa personagem da novela Jogo Duplo, da TVI, interpretada por Mariana Marques Guedes.

É importante conhecer e combater o estigma, por isso, pedimos ao médico dermatologista Pedro Mendes Bastos para nos explicar tudo o que precisamos de saber sobre psoríase.

5 perguntas & respostas sobre psoríase

1. O que é a psoríase?

Trata-se de uma doença crónica que se manifesta de forma predominante na pele. Não é contagiosa e a sua causa é desconhecida. Há várias formas de psoríase e a mais frequente caracteriza-se pelo surgimento de lesões na pele chamadas placas, áreas bem delimitadas de pele espessada, avermelhada e descamativa.

As placas de psoríase podem aparecer em qualquer área da pele, mas as zonas mais características são os cotovelos, os joelhos, o couro cabeludo e o sulco interglúteo (entre as nádegas). Em alguns casos, pode também surgir nas unhas, com espessamento, amarelecimento, descolamento e outras manifestações de Psoríase ungueal.

2. Esta doença afecta mais homens ou mulheres? De que idades?

A psoríase é uma doença frequente, afetando ambos os sexos de igual forma. Estima-se que a sua prevalência seja de 2%, existindo cerca de 200 mil portugueses com esta doença.

Admitem-se dois picos de surgimento de psoríase: aos 20-30 anos e aos 50-60 anos. Embora mais rara, a Psoríase pode iniciar-se em idade pediátrica.

3. Por que motivo surge a psoríase?

Classificamos a psoríase como uma doença imuno-mediada, isto é, uma doença que resulta de um “erro” no sistema imunitário. Sabemos que resulta da conjugação de fatores genéticos com estímulos ambientais. É habitual haver outros casos na família de psoríase ou outras doenças imuno-mediadas.

Fatores ambientais, como infeções da orofaringe causadas pela bactéria Steptococcus pyogenes, podem induzir o surgimento de placas em pessoas com um perfil genético favorável.

Até ao momento, não foi identificada uma relação causal entre psoríase e a ingestão de certos alimentos.

O impacto psicológico da Psoríase pode ser avassalador. Infelizmente as alterações na pele podem danificar a autoestima e perturbar imenso a vida pessoal, profissional, social e sexual dos doentes – Pedro Mendes Bastos, médico dermatologista

4. Que implicações traz este diagnóstico?

Sabemos que a psoríase é uma doença imprevisível, podendo manter-se estável, melhorar ou agravar ao longo dos anos. Na maioria dos pacientes, esta evolui de uma forma crónica e reincidente, com períodos de acalmia intercalando com crises.

Fruto de investigações recentes mas já bem documentadas, passámos a encarar a psoríase como uma doença sistémica, podendo envolver a pele, as unhas, as articulações e o sistema cardiovascular, entre outros sistemas. A nível músculo-esquelético, pode ocorrer artrite psoriática em 30% dos pacientes, sendo uma situação particular que carece de acompanhamento especializado.

O impacto psicológico da psoríase pode ser avassalador. Infelizmente as alterações na pele podem danificar a autoestima e perturbar imenso a vida pessoal, profissional, social e sexual dos doentes.

De uma forma a garantir o controlo de toda a esfera da doença psoriática, privilegiamos uma abordagem holística, focando-nos no que se vê mas também no sofrimento que pode não estar imediatamente à flor da pele

5. Qual o melhor tratamento?

Esta pergunta não tem uma resposta fácil. A chave para o sucesso terapêutico passa pela individualização do tratamento a cada pessoa e a cada momento. Existem opções terapêuticas tópicas (na forma de pomadas, soluções, cremes, etc), bem como medicamentos orais ou injetáveis e ainda a fototerapia (tratamento médico recorrendo a radiação ultravioleta em cabines).

Avaliando a extensão da doença, o impacto na qualidade de vida e a presença de outras doenças, como a artrite, escolhemos caso a caso a opção mais indicada para cada doente. Para as situações mais difíceis, temos hoje em dia acesso a medicamentos biotecnológicos, fármacos com regras bem definidas e protocolos de prescrição específicos, mas que garantem grande probabilidade de controlo da doença no médio e longo prazo.

De uma forma a garantir o controlo de toda a esfera da doença psoriática, privilegiamos uma abordagem holística, focando-nos no que se vê mas também no sofrimento que pode não estar imediatamente à flor da pele.

Texto de Pedro Mendes Bastos, médico dermatologista da consulta especializada de Psoríase do Centro de Dermatologia do Hospital CUF DescobertasEdição: Carolina de Almeida


 

Tem ou conhece alguém que tenha psoríase? Descubra ainda como lidar com a dor crónica.

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