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Quantas vezes por dia devemos ir à casa de banho? Um especialista responde

Quantas vezes por dia devemos ir à casa de banho? Um especialista responde

Não sabe quantas vezes por dia vai à casa de banho? Ou, melhor, quantas deveria ir? A Saber Viver falou com Miguel Mascarenhas Saraiva, coordenador de Gastrenterologia do Hospital CUF Porto, que não só nos disse qual o número ideal, como explicou como melhorar o sistema digestivo.

Por Ago. 11. 2022

 

Já se questionou quantas vezes por dia é considerado “normal” ir à casa de banho? Ou, numa ou noutra circunstância, já deu por si a pensar que, se calhar, há algo de errado com o seu sistema digestivo? Falámos um especialista no assunto que nos respondeu a estas e outras questões.

De acordo com o nosso entrevistado, três parece ser o número mágico para o famoso “número dois” – mas, para isto, é essencial uma alimentação rica em fibras. Para além disso, tenha especial atenção ao aspeto das fezes, pois desta forma consegue perceber se existe, de facto, necessidade de ir ao médico devido a um problema maior.

Veja a entrevista a Miguel Mascarenhas Saraiva, coordenador de Gastrenterologia do Hospital CUF Porto e Instituto CUF Porto, e esclareça todas as dúvidas sobre este tema.

Tudo o que precisa de saber para ‘evacuar’ com sucesso

Quantas vezes por dia é considerado ‘normal’ ir à casa de banho?

A frequência defecatória varia de pessoa para pessoa, não havendo um número mágico de anormalidade. No entanto, o mais comum são três defecações por dia – não mais que isso, porque senão é considerado diarreia – e ter pelo menos três defecações por semana.

Ou seja, entre três por semana e três por dia são os números mais frequentes na população. Contudo, ao longo do tempo esta frequência pode alterar.

Consideramos obstipação crónica quando dois ou mais sintomas enumerados persistem mais de três meses
Miguel Mascarenhas Saraiva, gastroenterologista

Quais são as consequências de ficar sem evacuar durante muito tempo?

O facto de ficar sem ir à casa de banho por muito tempo acaba por levar a um mal-estar, onde o doente sente uma sensação de distensão abdominal. Pode também causar dor, hemorragias e agravar a patologia hemorroidária.

Se este fator prevalecer por vários dias, pode estar a ocorrer uma oclusão intestinal e, nesse caso, é aconselhado procurar ajuda médica.

O que é que pode contribuir para a  prisão de ventre? Como podemos evitá-la?

Habitualmente, considera-se prisão de ventre (ou obstipação, como é designada) se há menos de três evacuações por semana, se as fezes são muito duras, se há dificuldade persistente em evacuar, se a evacuação obriga a muito esforço ou também o facto de sentir um bloqueio/sensação de obstrução.

Consideramos obstipação crónica quando dois ou mais sintomas enumerados persistem mais de três meses.

A principal causa desta condição é, muitas vezes, ambiental: uma dieta à base de fast food, por exemplo, diminui a ingestão de fibras, e beber pouca água contribui também para a obstipação.

Certos fármacos, como sedativos e antidepressivos, por exemplo, podem provocar esta doença.

A obstipação é mais comum na mulher, principalmente na gravidez, e o risco é maior nas pessoas sedentárias, que não praticam atividade física.

Existem, ainda, situações de doença que levam ao aumento da obstipação, como por exemplo, doenças neurológicas, diabetes ou hipotiroidismo.

Muitas vezes temos uma adaptação ambiental que nos leva a ficar com mais obstipação, isto acontece quando resistimos ou ignoramos o estímulo para a evacuação
Miguel Mascarenhas Saraiva, gastroenterologista

Quais os alimentos a evitar quando sofremos prisão de ventre? E quais devemos de consumir?

O fundamental é termos uma alimentação rica em fibra dietética: devemos ter uma ingestão regular de legumes e fruta para que tenhamos um funcionamento normal do aparelho digestivo. Este consumo deve ser sempre superior a 15gr, idealmente entre 25 a 30gr de fibra por dia (uma maçã grande, por exemplo, representa cerca de 3gr de fibra).

Algumas pessoas, nomeadamente com síndrome do intestino irritável, podem sentir desconforto abdominal intenso se consumirem altas quantidades de fibra, principalmente a insolúvel presente nos cereais integrais. Nestes casos, o ideal é ingerir uma fibra solúvel através de suplementos alimentares.

Como podemos regular o nosso sistema digestivo?

  • Através de uma boa ingestão alimentar, com ingestão de alimentos ricos em fibra, legumes, fruta, hidratos de carbono com fibra;
  • Ter uma boa gestão hídrica – pelo menos 1,5l de líquidos por dia;
  • Fazer exercício físico regular.

Quando estas medidas não são suficientes para resolver a obstipação, o médico pode aconselhar um laxante, designado de laxante osmótico, que estimula a absorção de água no intestino. A toma de laxantes deve ser sempre orientada pelo médico.

O rastreio do cancro colorretal deve ser feito a partir dos 45 anos de idade, por colonoscopia

Podemos verificar se existe algum problema com a nossa saúde através das fezes?

A vigilância das fezes é um cuidado de saúde que todos devemos ter – verificar se temos alterações da consistência, e presença de sangue, por exemplo. Em casos de diarreia acentuada – alteração do nosso hábito intestinal – deve ser consultado um médico de imediato.

Através das fezes podem fazer-se exames laboratoriais que poderão ser úteis, já que são utilizados a nível de cuidados de saúde, como por exemplo: a pesquisa de sangue oculto é um método utilizado para o rastreio do cancro colorretal; outras análises permitem-nos perceber se há ou não inflamação no nosso intestino ou também podemos saber se a nossa função pancreática está normal.

Com que regularidade devemos realizar exames para avaliar o trato digestivo e quais?

O risco de cancro colorretal em Portugal é considerável e, mesmo numa pessoa que não tenha antecedentes familiares, deverá ser feito o rastreio populacional. Idealmente é feito por colonoscopia, iniciando-se aos 45 ou 50 anos de idade.

No rastreio populacional é recomendado que inicialmente se realize uma pesquisa de sangue oculto nas fezes e, caso o resultado seja positivo, realiza-se então uma colonoscopia.

Pessoas com antecedentes familiares de cancro colorretal, nomeadamente parentes próximos, deverão realizar o procedimento o mais cedo, pelo menos 10 anos antes da idade em que esse cancro foi detetado no seu familiar. Portanto, nestes casos, deverá consultar o médico para que, avaliando todos os fatores, este o informe acerca da altura indicada para a realização do exame.

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