Usar máscara: sim ou não? Esta tem sido uma das questões mais recorrentes na população e que tem suscitado desacordo mesmo entre instituições fidedignas desde o início do combate à doença COVID-19, provocada pelo novo coronavírus e que colocou o mundo em estado pandémico em 2020.
O início
No Oriente, a utilização de máscaras é algo bastante comum, que está mesmo enraizado na cultura destes países. O uso deste item é visto como um procedimento natural, sendo utilizado mesmo em situações não pandémicas, por exemplo, em condições simples como as constipações ou até para evitar a poluição do ar.
Desta forma, quando o coronavírus apareceu na cidade de Wuhan, na China, e se disseminou pela Ásia, não se estranhou que um dos métodos de prevenção usados, a par com a contenção social e higienização recorrente, tenha sido o uso da máscara.
Falta de consenso
Já na Europa e restantes países do mundo, a situação foi diferente. De facto, nunca se conseguiu uma unanimidade internacional, com as políticas dos vários governos em desacordo entre si.
As vozes, mesmo entre especialistas eram – e continuam a ser – dissonantes, pelo que os cidadãos têm tomado a decisão individual de utilizar ou não esta proteção.
Ressalva-se que esta dúvida nunca abrangeu os profissionais de saúde ou população infetada, mas antes se esta utilização seria necessária aos que se encontravam saudáveis – ou seja, a grande maioria da população.
O papel da OMS
Perante esta indecisão, todos os olhos estavam postos nas recomendações das reputadas instituições de saúde internacionais, nomeadamente a Organização Mundial da Saúde (OMS). Este órgão sempre apontou a falta de dados disponíveis acerca da eficácia das máscaras na contenção do vírus.
Do que se pode ler no seu site oficial, só deve usar máscara quem esteja doente e tenha os sintomas da Covid-19 (febre, cansaço e tosse seca como os mais comuns) ou esteja a tomar conta de alguém que esteja ou possa estar infetado.
Se nenhum destes casos estiver contemplado, a organização alerta para o desperdício de máscaras, até porque estas devem ser usadas com prudência. Este uso racional de máscaras visa evitar o “desperdício desnecessário de recursos preciosos”, segundo a mesma.
A decisão de contenção no uso destes equipamentos prendeu-se muito com o facto de que uma recorrência desenfreada a estes materiais poderia agravar a falta dos mesmos para quem mais precisa – os profissionais de saúde e doentes.
Mais, o argumento da “falsa sensação de segurança” também foi bastante difundido aqui, pelo que as máscaras só funcionam se usadas corretamente – veja como utilizar mais abaixo. Estas não seriam a forma mais eficaz de proteção do próprio e do outro, mas antes as restantes medidas: lavagem das mãos, etiqueta respiratória e distanciamento social.
Muitos países orientaram-se por estas mesmas recomendações da OMS, tal como Portugal. Mas antes de perceber o que aconteceu no caso português, importa, em primeiro lugar, saber a que nos referimos quando falamos em máscaras. É que existem vários tipos deste mesmo equipamento, que deve por tudo conhecer, até para se inteirar das notícias que saem nos mass media.
Tipos de máscaras
O conceito geral de máscara abrange três tipos distintos de artigos:
• Respiradores (Filtering Face Piece, FFP). Um equipamento de proteção individual destinado aos profissionais de saúde de acordo com determinadas normas – consoante os modelos 2 ou 3.
• Máscaras cirúrgicas. Um dispositivo que previne a transmissão de agentes infeciosos das pessoas que utilizam a máscara para as restantes;
• Máscaras não-cirúrgicas, comunitárias, de uso social ou equipamentos de proteção. São dispositivos diferentes dos anteriores que não obedecem à normalização. Podem ser de diferentes materiais têxteis, sendo destinados à população geral (e não a profissionais de saúde ou pessoas doentes) e não são certificados.
O caso Português
No nosso país, a postura da OMS foi seguida pela Direção Geral da Saúde (DGS), pelo que os argumentos desta organização internacional em relação ao uso de máscaras foram também difundidos junto da população, ainda que com críticas opostas de alguns outros especialistas.
Assim, quando o diretor-geral do Centro Chinês de Controlo e Proteção de Doenças, Georce Cao, destacou à revista Science que “o maior erro dos E.U.A. e da Europa foi o facto de as pessoas não estarem a usar máscara”, Portugal estava incluído neste discurso.
Em relação aos dois primeiros artigos, respiradores e máscaras cirúrgicas, nunca houve propriamente controvérsia gerada, pelo que foi perfeitamente interiorizado a quem se destinavam, sendo que a sua utilização está clara em várias normas.
Os respiradores (máscaras com bico de pato) seriam os que ofereceriam maior proteção devendo ser utilizadas pelos profissionais de saúde com as máscaras cirúrgicas (geralmente, azuis) por cima.
Quanto às máscaras cirúrgicas, a DGS recomendou a sua utilização a todos os profissionais de saúde, pessoas com sintomas respiratórios e pessoas que entrem em instituições de saúde.
Depois, alargou esta recomendação a pessoas mais vulneráveis, como idosos com mais de 65 anos, com doenças crónicas e em estados de imunossupressão. Estes deveriam utilizar a máscara cirúrgica sempre que saíssem de casa.
Finalmente, e já em abril, foi ainda contemplado para o uso deste equipamento a alguns grupos profissionais: forças de segurança e militares, bombeiros, distribuidores de bens essenciais ao domicílio, trabalhadores de lares e IPSS’s de Unidades de Cuidados Integrados, agentes funerários e profissionais que façam atendimento ao público onde não sejam possíveis outras medidas de isolamento.
Até aqui sem grandes dúvidas. A questão que se pôs foi em relação às ditas máscaras comunitárias. O que aconteceu no início do mês é que alguns países decidiram-se reposicionar relativamente às medidas vigentes.
A República Checa, Áustria e Eslováquia tornaram, deste modo, a utilização de máscaras obrigatórias nas suas nações, de forma a reduzir a transmissão em massa. Muito também porque as medidas de isolamento se estão a tornar menos rígidas, com a vida, aos poucos, a voltar à normalidade.
Perante este cenário, a DGS recorreu ao Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças, que apresentou argumentos contra e a favor do uso de máscaras sociais e fez um comunicado, na semana passada, sobre o uso de máscaras na comunidade.
“De acordo com o princípio básico da precaução em saúde pública, e face à ausência de efeitos adversos associados ao uso de máscara, esta pode ser considerada para espaços interiores fechados e com um elevado número de pessoas como: supermercados, farmácias, lojas ou estabelecimentos comerciais, transportes públicos, etc.”, declarou Graça Freitas, Diretora-Geral da Saúde.
Mas fez uma ressalva importante e que não lhe deve escapar a si, leitora: “O uso de máscaras na comunidade é uma medida adicional, suplementar, complementar, às medidas anteriormente recomendadas de lavagens das mãos, etiqueta respiratória e manutenção da distância social e de utilização de barreiras físicas”.
A utilização de máscaras pela população é considerada pela DGS um ato de altruísmo, uma vez que quem a utiliza não fica mais protegido, mas contribui para a proteção dos outros. Isto claro, quando utilizada como medida de proteção suplementar.
Desta forma, a DGS e o Infarmed, em conjunto com a Autoridade de Segurança Alimentar Económica (ASAE), o Instituto Português de Qualidade (IPQ) e o Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário Português (CITEVE) e ainda um conjunto de peritos, juntaram-se no sentido de definir as normas técnicas das máscaras comunitárias e consequentes mecanismos de certificação, que partilharam com a indústria e que se podem encontrar aqui.
DIY em casa
Se não tiver oportunidade de adquirir uma destas máscaras sociais, é possível que consiga um equipamento semelhante em casa. Mas atenção, embora a DGS não encontre obstáculos a que, neste momento, muito portugueses produzam máscaras de forma artesanal, alerta que estas podem não ser totalmente eficazes.
O pressuposto aqui será o de que é preferível ter algo a cobrir o rosto do que nada, num esforço para travar, de alguma forma, o contágio na população. Assim, segue-se uma proposta ilustrada, por passos, que lhe permite fazer a sua máscara em casa.
Como usar a máscara de forma adequada
Agora que já sabe que tipo de máscaras existem, qual a mais adequada para si e quando é próprio utilizá-la, resta saber como fazê-la corretamente, de forma a evitar ao máximo utilizações inequívocas. Estas são as recomendações da OMS:
1. Antes de tocar/colocar a máscara, lavar as mãos com álcool gel ou água e sabão.
2. Averiguar se a máscara está em condições de ser utilizada, sem buracos por exemplo.
3. Verificar sempre se o lado correto da máscara está voltado para fora.
4. Cobrir a cara desde o nariz até ao queixo e garantir que não há espaços entre o rosto e a máscara.
5. Evitar tocar na máscara enquanto está a ser utilizada e fazê-lo somente com as mãos lavadas.
6. No final, remover a máscara por trás e nunca pela frente, isto é, retirando as presilhas elásticas por detrás das orelhas e não tocando na parte da frente da máscara.
7. Neste processo, afastar a máscara do rosto e roupas (ou outras superfícies) e descartá-la em lixo fechado ou na máquina de lavar roupa – caso seja reutilizável, sendo suficiente para esterilizá-la.
8. Terminar com a higienização das mãos tal como no ponto 1.