*De geração em geração, passam-se conselhos que deviam ficar perdidos algures no tempo. No entanto, muitas ideias preconcebidas sobre beleza e bem-estar teimam em regressar. Para as desconstruirmos, criamos esta rubrica, que é uma espécie de fact-check, em que poderá encontrar respostas às questões que sempre teve.*
Há alturas em que, por mais que queiramos, não conseguimos evitar comer alimentos mais processados, repletos de açúcar ou gordura. Pode ser durante uma viagem, uma época mais stressante ou em que o tempo para estar cozinha é diminuto.
Por norma, nesses momentos, a nossa pele parece um grande sinal de aviso: “cuidado com a alimentação”, grita-nos. Mas será que as borbulhas ou manchas avermelhadas que surgem no rosto são mesmo consequência do que ingerimos? A saúde do intestino tem impacto na nossa pele?
Colocámos essa pergunta a dois especialistas e estas são as suas respostas.
A saúde do intestino influencia a nossa pele?
Filipe Gomes, gastroenterologista na Clínica CUF Leiria, começa por clarificar que o intestino, quer o delgado, quer o grosso, “tem como função principal a absorção dos numerosos nutrientes que ingerimos”.
Deste modo, “qualquer desequilíbrio na sua função vai alterar a absorção destes nutrientes e, consequentemente, interferir com os diferentes órgãos onde são necessários, incluindo a pele”.
É assim que “pode ficar mais desidratada, sensível e frágil aquando a interação com o ambiente externo”, explica.
Além disso, Ana Catarina Carvalho, gastroenterologista no Hospital CUF Viseu, salienta que “a composição da microbiota intestinal é única para cada pessoa e possui um papel importante na regulação do sistema imune, sendo afetada por múltiplos fatores, como a alimentação, stresse e estilos de vida, fármacos ou doenças infeciosas que afetam o intestino”.
E continua: “Quando ocorre um desequilíbrio na homeostasia da microbiota intestinal (disbiose), são libertadas moléculas pró-inflamatórias na corrente sanguínea que afetam negativamente o aspeto da pele”.
Rosácea, aparecimento de pele seca e sensibilidade cutânea aumentada, dermatite atópica ou acne são algumas das possíveis consequências.
Casos concretos
Doenças intestinais, como a doença inflamatória intestinal – nomeadamente a doença de Crohn e a colite ulcerosa -, apresentam “múltiplas manifestações extraintestinais e a pele é um dos órgãos mais comummente afetados”, nota Ana Catarina Carvalho.
O outro especialista corrobora-o e evidência a “conexão intestino-pele” com exemplos concretos: “temos a associação das doenças inflamatórias intestinais com pioderma gangrenoso e, no caso da doença celíaca, com dermatite herpetiforme”. “Ambas as doenças cutâneas melhoram com tratamento para doença intestinal de base”, completa.
A profissional que trabalha em Viseu sublinha ainda que “as manifestações cutâneas típicas de cada doenças são muitas vezes a primeira manifestação de uma doença gastrointestinal subjacente oculta, pelo que um reconhecimento atempado de alterações cutâneas pode permitir um diagnóstico e tratamento precoces”.
Contudo, nem sempre é assim, uma vez que as “alterações da pele podem preceder, iniciar-se ao mesmo tempo ou aparecer posteriormente ao diagnóstico da doença inflamatória”, adiciona.
Como melhorar a saúde do intestino
Ana Catarina Carvalho deixa algumas recomendações para “melhorar a saúde do intestino e regular a microbiota intestinal”:
- Aumento da ingestão de alimentos com alto teor de fibra (ex: fruta, legumes, frutos secos);
- Incorporar a ingestão de produtos com probióticos (ex: iogurtes, kefir, miso, kombucha);
- Otimizar o estilo de vida (dieta mediterrânea, alimentação, exercício, sono).
Resumindo: #Afinal, a saúde do intestino tem mesmo impacto na nossa pele.