Suplementos nutricionais orais: o que são, a quem se destinam e quando tomar

Indicados para assegurar a gestão nutricional de doentes malnutridos, os suplementos nutricionais orais distinguem-se dos multivitamínicos e substitutos de refeições devido aos seus fins medicinais específicos. Saiba tudo.

Desengane-se quem pensa que a malnutrição, causada por uma alimentação insuficiente, é um problema exclusivo da terceira idade. Na verdade, existem uma série de doenças e complicações que contribuem de forma significativa para o elevado número de pessoas malnutridas – só na Europa, estima-se que existam cerca de 33 milhões de indivíduos em risco de malnutrição.

A malnutrição afeta pessoas de todas as idades e com diferentes doenças, como cancro, diabetes, doença renal, doença inflamatória intestinal, demências. Está associada a pessoas com estados de magreza, mas também a estados de peso normal, excesso de peso/obesidade. Passa muitas vezes despercebida, mas pode ser revertida com uma atempada terapêutica nutricional.

Os suplementos nutricionais orais são indicados quando a ingestão alimentar não é suficiente, constituindo um complemento e não um substituto da alimentação.

Os suplementos nutricionais orais repõem os nutrientes em falta no seu organismo. Contudo, é importante ter em conta que a introdução dos mesmos na alimentação deverá ser sempre aconselhada por um profissional de saúde, que irá adequar a suplementação de acordo com as suas necessidades nutricionais específicas.

Entre mitos e verdades, benefícios e riscos, falámos com a médica e nutricionista Paula Ravasco sobre estas e outras questões relacionadas com os suplementos nutricionais orais. Descubra tudo.

O que são, afinal, os suplementos nutricionais orais?

Considero ser importante começar por esclarecer logo de início que os suplementos nutricionais orais não são o mesmo que suplementos alimentares ou substitutos de refeição.

Os suplementos nutricionais orais são produtos nutricionais indicados para a gestão nutricional de doentes malnutridos ou com risco de malnutrição associada à doença. São considerados uma alimentação especial com fins medicinais específicos. E, devem ser recomendados pelo médico ou nutricionista para implementar com o doente uma terapêutica nutricional que permita atingir as necessidades nutricionais diárias no caso de não as conseguir alcançar com a sua alimentação habitual.

A categoria dos suplementos alimentares é muito diversificada e existem outros fins para a sua utilização, mas não são certamente utilizados como forma de garantir um aporte nutricional diário adequado.

Que tipos de suplementos nutricionais orais existem?

Existem diferentes composições nutricionais, consistências e formatos para dar resposta às necessidades nutricionais dos doentes. Podem ter elevado teor calórico e/ou proteico, e serem, inclusive, enriquecidos em diversos nutrientes.

Em determinadas condições clínicas específicas podemos até recorrer à utilização de suplementos nutricionais com composições específicas, como para doentes com diabetes, disfagia, doença renal, doença hepática entre outras condições.

A quem se destinam?

A doentes com limitação/impossibilidade em atingir as necessidades nutricionais diárias através da alimentação habitual diária. Por esta razão, necessitam de suplementação nutricional para suprir as suas necessidades diárias.

A literatura científica existente até à data, mostra de forma inequívoca que caso os doentes não consigam satisfazer as suas necessidades nutricionais basais e totais, e se mantiverem um estado de insuficiente ingestão alimentar, irá desenvolver-se malnutrição. Este estado nutricional deficitário resultará na perda de peso não programada, perda de massa muscular, redução da capacidade funcional e diversas complicações clínicas graves.

Posso enumerar uma situação concreta, a dos doentes oncológicos. São reconhecidos como grupo de risco para o desenvolvimento de malnutrição, uma vez que as alterações no seu metabolismo, associadas a sintomas diversos que experienciam, tornam-nos mais suscetíveis ao desenvolvimento de desequilíbrios nutricionais.

Mas existem vários doentes, desde a área da geriatria, demências, diabetes, cirurgia e pós-operatório, doença renal, doença gastrintestinal, entre outros, que podem beneficiar da utilização de uma adequada suplementação nutricional oral.

Quais os principais benefícios?

A toma adequada dos suplementos nutricionais orais tem como benefícios a melhoria do estado nutricional e do peso corporal à custa de massa muscular, levando à redução do risco de complicações clínicas e readmissões hospitalares.

São também uma ferramenta/estratégia nutricional com um impacto fundamental na autonomia e qualidade de vida dos doentes.

Quais os mitos associados a este tipo de suplementos?

Os principais mitos associados aos suplementos nutricionais orais são sobretudo a confusão com os suplementos alimentares (multivitamínicos), apesar de serem regulados por um Regulamento Europeu distinto, a comparação com produtos de substituição de refeições, os suplementos utilizados por desportistas, e também, a confusão com os iogurtes e outros lacticínios.

Apesar de poderem existir muitas comparações possíveis, é muito importante que se faça a devida distinção porque a suplementação nutricional oral é crucial para muitos doentes e não deve nem pode ser banalizada.

Sem necessidade de prescrição, qual a importância do acompanhamento médico?

Apesar de ainda serem produtos sem prescrição médica, devem ser utilizados sob supervisão de um profissional de saúde, desde a sua recomendação à sua posterior monitorização e revisão terapêutica.

O aconselhamento nutricional detalhado, ao doente e familiares/cuidadores, é fundamental para assegurar a ingestão nutricional adequada, bem como a adesão aos suplementos nutricionais sempre que o doente deles necessite.

É necessário explicar as razões para a toma, as quantidades diárias recomendadas e horários de toma, que existem diferentes sabores disponíveis e apresentações e como devem ser utilizados, bem como os benefícios esperados da suplementação nutricional.