Surdez, ou hipoacusia, é o termo genérico para designar a diminuição da audição. É uma patologia que afeta pessoas de todas as idades e tem um impacto significativo na qualidade de vida dos doentes. Nos países ocidentais, a percentagem da população com perda auditiva é de 7% a 8 %.
É fundamental ser tratada precocemente porque a possibilidade de recuperar a audição depende em muito da rapidez com que se inicia o tratamento. Por isso, torna-se importante conhecer os principais sinais de alerta associados à perda de audição e procurar o aconselhamento de um especialista tão breve quanto possível.
Quais são as causas da surdez?
A surdez pode ser de origem genética ou ser adquirida durante a vida pós-natal pela exposição a traumatismo acústico, infeção, rolhão de cerúmen, substâncias ototóxicas, envelhecimento, entre outros fatores.
• Ao nascimento, três quartos dos casos de surdez são de causa genética. O outro quarto é adquirida durante a gravidez ou no período perinatal (infeções víricas, isquemia, etc.).
• Na criança, a maioria dos casos de surdez são devidos a problemas do ouvido médio como a otite média com efusão ou seromucosa e a otite crónica. A percentagem de casos de hipoacusia de causa genética reduz-se para aproximadamente 10%.
• No adulto, as otites médias crónicas só são responsáveis por 20% dos casos, algo menos que a doença da Meniére, que também atinge o sistema vestibular (vertigem).
O traumatismo acústico causado pela sobre-exposição sonora, ocupa hoje o primeiro lugar dos fatores responsáveis pela surdez e a sua importância só pode aumentar.
Outras causas são as substâncias ototóxicos e a surdez súbita. A surdez de origem genética só é responsável por uma pequena percentagem do total, mas deve-se assinalar que em muitos casos é provável que existam componentes genéticos que predisponham a surdez adquirida.
A presbiacusia é o envelhecimento “natural” da audição que se inicia pela quinta década de vida e vai progredindo com a idade, no entanto pode estar acelerado por todas as agressões acumuladas ao longo dos anos. Por exemplo, a exposição excessiva a ruídos pode ser responsável por uma presbiacusia precoce: pode ter-se 50 anos e ter ouvidos como uma pessoa de 90 anos.
Sinais a que devemos estar atentos
A idade de aparecimento da surdez é um aspeto muito importante. Por exemplo, nas crianças, as repercussões da surdez são muito diferentes se esta surgir antes ou depois da aquisição da linguagem, pois a integridade da função auditiva é fundamental para o desenvolvimento da comunicação oral.
• Nos recém-nascidos, é muito importante estar atento à sua reação ao som e à emissão dos primeiros sons (palrar) e devem realizar um rastreio da audição ao nascimento.
• Nas crianças, para além de ter atenção à diminuição da audição (não perceber o que lhe dizem, colocar o som da TV muito alto ou colocar-se muito próximo), deve-se ter atenção ao desenvolvimento da fala, pois a sua alteração frequentemente está associada a surdez.
• No adulto, os primeiros sinais de alerta são:
- Dificuldade na perceção dos sons, por exemplo campainhas;
- Dificuldade de discriminação da fala – começa por se notar em ambientes ruidosos, como festas, cafés, etc., mas acaba por provocar sérias dificuldades de comunicação levando ao isolamento do doente. O isolamento social provocado pela perda auditiva é um fator de risco para a demência;
- O aparecimento de um zumbido (ou acufeno) é frequentemente consequência de surdez e deve ser investigado.
A importância do diagnóstico precoce
Uma surdez detetada pouco após a sua instalação tem melhor prognóstico do que uma surdez com longa evolução.
O diagnóstico da surdez é realizado pelo otorrinolaringologista, após realizar um exame clínico geral e do ouvido e de exames que são requisitados de acordo com a idade do doente e a situação clínica. Nos casos de surdez de aparecimento súbito, devemos sempre consultar um especialista, com urgência.
Nos lactentes e crianças, a privação parcial ou completa da audição tem repercussões sistemáticas sobre o desenvolvimento da linguagem oral. Só a imersão no mundo sonoro permite ao lactente desenvolver as suas capacidades fonológicas, léxicas e sintáticas, e aceder a uma ou mais línguas orais.
Cada vez mais países têm vindo a desenvolver programas de deteção precoce de surdez nos recém-nascidos e campanhas de prevenção para a restante população.
Nos adultos, perante uma diminuição progressiva da audição (presbiacusia, por exemplo), é importante não demorar demasiado tempo a iniciar a intervenção médica.
É necessário que a intervenção seja realizada no período que precede o agravamento acelerado do problema auditivo, para atenuar tanto quanto seja possível os seus efeitos. Mesmo quando não é possível curar, pode-se compensar a hipoacusia.
É por isso importante procurar um médico especialista assim que detetar os primeiros sintomas.
Que tratamentos existem?
O tratamento poderá ser cirúrgico, médico ou envolver o uso de próteses auditivas. É importante reforçar que a prescrição de próteses auditivas deve ser realizada por um especialista em otorrinolaringologia.
Nos tratamentos e reabilitação do doente, deve haver o envolvimento de outros profissionais de saúde, como audiologistas, terapeutas da fala, entre outros. Um dos fundamentos do sucesso da reabilitação auditiva é a precocidade da intervenção.
Um tratamento só é eficaz se for corretamente aplicado. O tratamento tem que ter em conta os meios utilizados, a aceitação pelo doente e a sua família e o acompanhamento por uma equipa médica multidisciplinar.
Em função de cada caso de hipoacusia, a equipa médica especializada pode escolher entre próteses convencionais (condução aérea), próteses de condução óssea, implantes de ouvido médio (amplificação mecânica) ou implantes cocleares (estimulação elétrica).