O tromboembolismo venoso (TEV) é uma doença cardiovascular e designa “um grupo de situações clínicas que decorrem da formação de coágulos (trombos) na circulação venosa (nas veias) e que provocam a sua obstrução e, em algumas circunstâncias, a sua migração (embolização) para outras localizações do sistema circulatório do nosso organismo”, explica Sérgio Barroso, médico oncologista e presidente do Grupo de Estudos de Cancro e Trombose (GESCAT).
A trombose venosa profunda (TVP), que ocorre mais frequentemente nas veias das pernas, e a embolia pulmonar (EP), que resulta da migração do trombo para a circulação pulmonar, são as duas condições que dão origem ao TEV, que, avisa o médico, também se pode manifestar “em localizações menos frequentes, como a circulação venosa cerebral, nos membros superiores e nas veias da circulação abdominal”.
Fatores de risco
Na grande maioria das situações, uma TVP ou uma EP acontecem porque os doentes reúnem um ou vários fatores de risco em simultâneo. São eles, segundo o presidente do GESCAT:
- A idade;
- A imobilidade (condicionada pela idade, pelo sedentarismo, por imobilidade após doença médica aguda, trauma ou cirurgia);
- As doenças oncológicas;
- Algumas doenças inflamatórias sistémicas;
- A hospitalização;
- Os procedimentos endovasculares e cirúrgicos;
- Algumas terapêuticas farmacológicas.
A doença oncológica é um fator de risco para o tromboembolismo venoso, pois altera o sistema de coagulação
Já a história familiar de TEV, a obesidade, o tabagismo e o uso de alguns tipos de contracetivos são fatores de risco relevantes, embora com menor peso no risco do que os anteriores.
Olhando, em particular, para a doença oncológica, esta “constitui um fator de risco independente e relevante para TEV, fundamentalmente porque altera o normal equilíbrio do sistema de coagulação do organismo, desviando-o no sentido ‘pró-coagulante’”, esclarece o nosso entrevistado, que realça ainda que se estima que cerca de 1/5 de todos os doentes oncológicos sofra de TEV durante a evolução da sua doença.
As doenças autoimunes podem também estar associadas ao tromboembolismo venoso, “isto porque o sistema imunitário e o sistema da coagulação estão intimamente ligados.
O processo inflamatório crónico e a presença de alguns tipos de autoanticorpos, típicos das doenças autoimunes, favorecem a coagulação e aumentam assim o risco de trombose. Esse risco depende da doença em causa e também de fatores próprios do doente”, afirma.
Sinais de alerta
Trombose venosa profunda
- Dor ou desconforto na barriga da perna ou coxa;
- Inchaço da perna, pés ou tornozelos;
- Vermelhidão local;
- Aumento da temperatura da perna;
- Sensação de pele esticada;
- Rigidez da musculatura na região onde se formou o trombo.
Embolia pulmunar
- Dor no peito (que pode piorar com a inspiração);
- Falta de ar inexplicável e/ou respiração rápida;
- Frequência cardíaca acelerada;
- Vertigens/tonturas e/ou desmaios.
Fonte: Grupo de Estudos de Cancro e Trombose.
Tratamento imediato
Uma vez confirmado o diagnóstico, o tratamento da TVP deve começar imediatamente para impedir o crescimento do coágulo sanguíneo e o avanço para outras regiões do corpo e, assim, evitar uma possível embolia pulmonar.
Esta complicação, tal como relata Sérgio Barroso, “pode ocorrer em até 15% dos casos de TVP. É um evento de repercussões dramáticas porque é capaz de pôr a vida em risco em função da insuficiência respiratória aguda, um quadro que gera grande dificuldade para respirar. Esta complicação grave e potencialmente fatal precisa de atendimento médico de emergência”.
Sérgio Barroso realça que “é importante lembrar que o sentido do sangue no interior das veias dos membros inferiores é ascendente, isto é, de baixo para cima. O facto de sermos bípedes e ficarmos boa parte do tempo sentados ou em pé dificulta, pela ação da gravidade, o regresso do sangue aos pulmões. É, por este motivo, que praticar exercício físico regularmente (caminhada, corrida, ciclismo…) é tão importante e essencial na prevenção. A sua prática proporciona uma melhor amplitude respiratória, estimula a circulação e, por conseguinte, aumenta a velocidade do sangue nas veias”.
Os cuidados diários para a prevenção “incluem ainda atitudes simples como evitar ficar muito tempo sentado sem se movimentar, manter uma alimentação equilibrada, manter o peso, evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, principalmente se associadas ao cigarro e ao uso de anticoncecionais, em viagens longas utilizar sempre roupas e sapatos confortáveis e fazer uso de meias elásticas caso tenha algum histórico pessoal ou familiar de formação de coágulos sanguíneos”, enumera o presidente do GESCAT.