Gravidez aos 40: quatro mães partilham as suas experiências

Uma gravidez aos 40 anos tem mais riscos associados, mas há cada vez mais mulheres a terem filhos nesta idade. Descubra as diferenças face a uma gravidez mais jovem e os riscos e cuidados a ter pela voz de quatro mães perto dos 40.

Por Mar. 21. 2019

Lembro-me de ouvir o meu obstetra dizer “a fertilidade não aumenta, diminui!”, como que incentivando-me a não atrasar muito a gravidez que eu desejava. De acordo com o American College of Obstetricians and Gynecologists, a facilidade em engravidar naturalmente diminui à medida que nos aproximamos dos 40 anos. O número de óvulos com que nascemos é finito.

Aos 40, as hipóteses de engravidar não são as mesmas que aos 20. É por isso ainda mais extraordinária a gravidez acima dos 35 ou depois dos 40 anos.

O aumento da idade da grávida pode ter riscos associados para a mãe e para o bebé. É por isso que é tão importante seguir à risca os conselhos do médico. Uma grávida que não tenha problemas de saúde anteriores não deverá ter com que se preocupar. Mesmo assim, tem de estar atenta a questões fundamentais:

 O risco de alterações cromossómicas é maior: pode ocorrer aborto espontâneo nas primeiras semanas de gestação ou haver malformações no feto;

 A tensão arterial tem tendência para aumentar e pode tornar-se um risco para a gravidez (pré-eclâmpsia);

 Os níveis de açúcar no sangue podem elevar-se (diabetes gestacional);

 O risco de prematuridade é maior.

Rastreio pré-natal na gravidez aos 40

Os potenciais problemas da gravidez podem ser detetados cada vez mais cedo. Os avanços da medicina entram no cálculo do sucesso.

Joana Pereira, à espera do António Maria, que vai nascer em julho, conta que “o médico que a acompanha não deu muita ênfase à idade (38 anos), a não ser pelas questões do risco aumentado da presença de trissomias ou outras malformações. [O médico] explicou que o risco basal destas complicações, acima dos 35 anos, era muito superior ao verificado, por exemplo aos 30 anos, mas que esse risco poderia ser diminuído com exames de rastreio combinado no primeiro trimestre”.

Joana Pereira

Além destas informações, o médico também a informou de que apenas com um “exame de diagnóstico invasivo poderíamos ter a certeza da inexistência de complicações, mas que esse exame, embora fosse sempre uma opção dos pais, poderia ser dispensado, em caso de risco baixo nos rastreios”.

Joana conta que, “face ao risco muito baixo que os exames evidenciaram, optámos por não realizar um exame invasivo e apenas completámos o rastreio combinado do primeiro trimestre, por sugestão do médico, com um ecocardiograma fetal“.

O médico irá recomendar-lhe o rastreio pré-natal, que permite obter informações vitais sobre o bebé e avaliar o risco da gravidez.:

• Entre as 10 e as 13 semanas (preferencialmente às 11 semanas): rastreio combinado do 1.º trimestre para deteção de anomalias genéticas (idade da mãe; exame bioquímico do sangue materno; exame ecográfico da translucência da nuca do feto e verificação da presença do osso nasal);

 Entre as 20 e as 22 semanas: ecografia morfológica para avaliar o estado da formação do bebé e análise bioquímica do sangue materno;

 Caso o rastreio inicial sugira a existência de malformações fetais, o cariótipo do bebé poderá ser analisado através de exames invasivos como a amniocentese ou a biópsia das vilosidades coriónicas.

Atualmente, já existem testes não invasivos que permitem analisar o ADN do feto a partir de uma amostra do sangue periférico da mãe, com um elevado nível de precisão, mas de preço elevado (Harmony, Panorama, Tranquility, Tomorrow). Verifique com a sua companhia de seguros se o exame é comparticipado.

A maternidade foi sempre um desejo, mas nunca foi um ‘cavalo de batalha’. Só faria sentido se encontrasse a pessoa certa para [a] acompanhar nesta aventura – Joana Pereira

Porquê uma gravidez tardia?

As prioridades das mulheres mudaram. A construção de uma carreira profissional assente em formação adequada demora bastante tempo e exige muita dedicação. Pensar no futuro implica, por vezes, adiá-lo um bocadinho. Por outro lado, para muitas mulheres, não faz sentido construir uma família sem a pessoa ideal. E nem sempre é fácil encontrá-la.

Joana Pereira confessa que para ela “a maternidade foi sempre um desejo, mas nunca foi um ‘cavalo de batalha’. Só faria sentido se encontrasse a pessoa certa para [a] acompanhar nesta aventura”.

Joana partilha a enorme alegria de ter sido recompensada com o “amor da [sua] vida, um pouquinho mais tarde do que teria imaginado, mas acho que foi muito a tempo”. Acrescenta que se sente “totalmente tranquila com o timing e com imensa vontade de abraçar esta nova fase da vida”.

A notícia que vem mudar tudo

Poucos dias depois de fazer 40 anos, a minha irmã Joana partilhou que estava à espera de bebé. Já tinha dois filhos, de 11 e 14 anos, e estávamos todos longe de achar que teria mais. Os riscos de uma gravidez tardia foram a sua primeira preocupação.

Depois, descreve a “surpresa normal de uma gravidez não planeada numa altura em que tinha dois filhos (muito) crescidos e já pensava estar tudo fechado nesse capítulo. Depois, foi a preocupação normal com a saúde do bebé até ir à primeira consulta. Não tinha tomado ácido fólico nem feito qualquer preparação para a gravidez.”

E acrescenta: “na primeira consulta, o médico de sempre disse, sem qualquer margem para negociação, ‘não diga a ninguém que está grávida‘. Isso bateu muito cá dentro.” Sentiu “insegurança e medo de estar à espera de um bebé que não ia ter sorte nenhuma na vida porque já não tinha idade para estas aventuras.” Juntou a esta conta um “sentimento de culpa e solidão por não poder contar a ninguém”.

Joana e Filipa

Para Rita Pires Marques, que foi mãe da Mercês aos 37 anos, a descoberta da sua primeira gravidez foi “um misto de alegria imensa, coração cheio, e alguma incerteza em relação ao que estava para vir”.

Surgiu também a dúvida sobre “se estaríamos à altura dos papéis de mãe e pai a que nos propúnhamos.” A gravidez “não foi uma surpresa. Já tinha deixado de tomar a pílula. Deixámos a natureza seguir o seu rumo.”

Margarida Matos de Sousa, mãe aos 36 anos, confessa que quando teve a confirmação de que vinha lá o Sebastião, “foi um choque. Acho que demorei mais de uma semana a digerir a ideia. Depois aos poucos comecei a achar piada.”

O percurso normal da gravidez aos 40

A gravidez de Rita Pires Marques “foi fantástica, correu tudo lindamente, tanto física como psicologicamente. Não tive nada de enjoos, azia ou outros. A certa altura, andava mais sensível e chorava por tudo e por nada, mas na verdade ríamos sempre imenso quando isso acontecia pois tínhamos plena noção das transformações hormonais que o corpo estava a sofrer.”

Rita Pires Marques e a Mercês

A minha irmã relata alguma ansiedade até chegar o resultado do teste Harmony. Nesse momento, diz: “como fiquei livre de fazer amniocentese, pude respirar de alívio e contar a toda a gente que estava à espera de uma bebé.” Depois, seguiu-se “a gravidez mais tranquila de todas, por estar tudo bem e por ter tido as dúvidas todas resolvidas nas primeiras gravidezes.”

Margarida, que, confessa, até engravidar dizia sempre “gravidez não é doença“, passou a acrescentar a essa máxima “mas está lá perto”. “Estava sempre maldisposta, a engordar, mas sem sentir que estava grávida, via-me deformada. Não estava a gostar! Mas depois do primeiro trimestre, os enjoos passaram. Foi a partir deste momento que gozei ao máximo. Estava totalmente zen! Fisicamente, sentia-me muito bem.”

Conselhos para uma gravidez aos 40

 Cumpra à risca as recomendações do médico;
 Pratique uma alimentação saudável;
 Controle o peso;
 Não fume;
 Não beba álcool;
 Faça exercício físico moderado, caso o seu médico autorize;
 Descanse e evite motivos de stresse;
 Vigie os fatores de risco (doenças anteriores, se existirem);
 Goze a gravidez com tranquilidade.

E quando chega o bebé?

“A vida muda para sempre e as prioridades alteram-se“, afirma Rita. “Se antes, levava trabalho para casa, agora chego a casa e só quero abraçar o meu pintainho. Nada mais interessa”.

Margarida partilha: “quando o bebé nasceu, não tive aquele amor à primeira vista. O ‘clique’ só aconteceu já à noite. Lembro-me muito bem de olhar para o bebé e, de repente, dar por mim a sorrir e a encantar-me com aquele ser pequenino. E, todos os dias, a partir daquele momento, gosto cada vez mais dele. É um amor inexplicavelmente crescente e enorme.”

Queremos aproveitar o mais possível o nosso filho, damos o máximo e mesmo assim é pouco – Margarida Matos de Sousa

Para a minha irmã Joana, com dois filhos mais velhos, foi um pouco diferente: “um parto tranquilíssimo e depois confiança no que fazer, nos suspiros todos da bebé, nos choros“, mas aponta a “tristeza por não ter podido dar de mamar mais tempo (mais uma vez, a dúvida: deve ser por ter esta idade toda, com certeza foi algo de errado que fiz) mas também a pragmática aceitação do leite de substituição – os outros dois mamaram um ano inteiro cada um”.

E acrescenta que, talvez por já ser mais velha e por ser o terceiro filho, tenha sido tão mais fácil estabelecer rotinas: “muito maior facilidade no estabelecimento de rotinas, não há questão, saber que as rotinas são boas para os bebés (dormir, acordar, comer, tomar banho, essas coisas). Muito maior facilidade em descansar, em inventar menos coisas para fazer…”

Regressar à vida ativa depois da gravidez

É um misto de sensações. Margarida conta que “o regresso à rotina e ao trabalho foi estranho. Por um lado, foi bom voltar a trabalhar, rever os colegas e ter conversas de adultos. Por outro lado, estamos com a cabeça noutro sítio, sempre a pensar no nosso filho, se está bem, se comeu bem, se está a dormir bem. Temos saudades do cheiro, do sorriso, dos barulhos.”

Sebastião, filho de Margarida Matos de Sousa 

A minha irmã mantém “a sensação de estar permanentemente a fugir para regressar a casa, numa equipa em que ninguém tem filhos.” Acusa também o cansaço, “agora, uma noite interrompida paga-se em duas semanas.” Rita aconselha: “é muito importante cuidarmos de nós; o trabalho e a rotina ajudam a ‘descansar’ a cabeça de birras e fraldas. Não podemos esquecer os jantares com os amigos e os programas românticos.”

Na realidade, nenhum destes sentimentos muda com a idade. Aos 20, 30 ou 40, todas sentimos o mesmo.

Margarida realça que “queremos aproveitar o mais possível o nosso filho, damos o máximo e mesmo assim é pouco.” Rita acrescenta que o que é incrível na gravidez “é termos um ser dentro de nós, a formar-se, a crescer e a preparar-se para este mundo cá fora.”

A minha irmã Joana confessa “o orgulho de ter tido uma bebé com esta idade e de ter feito tudo certo; de ter dois filhos grandes e esta ‘mini’ e ninguém ficar indiferente a isso; de ter uma filha que sabe que toda a gente no mundo a adora e isso poder ter sido algo de certo que eu fiz.”

Fontes:


Agora que já sabe que a gravidez aos 40 (ou à volta disso) é um motivo de grande felicidade, saiba como identificar os primeiros sintomas. Já agora, prepare-se para algumas alterações no seu cérebro. Acima de tudo, divirta-se e aproveite esta maravilha da vida.

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