Tudo o que deve saber sobre a hepatite
Esta sexta-feira, 28 de julho, celebra-se o Dia Mundial das Hepatites. A propósito desta data, e do surto do vírus A, que já infetou cerca de 400 portugueses, a Saber Viver elaborou um manual para sobre a doença. Aqui encontrará tudo o que deve saber sobre a hepatite: as diferenças, as formas de contágio, os tratamentos e a forma de prevenção.
Portugal está a ser vítima de um surto hepatite A. Há, até à data, 402 casos confirmados de pessoas infetadas pela doença. 88% são homens e em 52% dos casos o contágio deveu-se a contacto sexual não protegido. A Direcção-Geral de Saúde (DGS) já reforçou a vacinação e alertou para medidas de prevenção. Quer, em simultâneo, aumentar os rastreios para as hepatites B e C.
Falar desta doença, de afecção hepática, é urgente. É preciso compreender as diferenças entre os diferentes tipos de hepatite. É essencial saber como é que se dá o contágio. E é urgente falar de meios de prevenção e dos comportamentos de risco.
Rui Tato Marinho é médico e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia e Hepatologista do Hospital de Santa Maria. Com a ajuda deste especialista criámos um manual de perguntas e respostas para conseguir proteger-se desta doença silenciosa, que raramente dá sinais de estar presente.
O que é uma hepatite?
Antes de tudo, é importante compreender que as hepatites são, como o próprio nome indica, doenças hepáticas, ou seja, que resultam de infeções no fígado. Podem ser provocadas por diferentes agentes: bactérias, vírus, consumo e contacto com produtos tóxicos (como fezes, através de águas ou alimentos contaminados), medicamentos ou algumas plantas. Existem vários tipos de hepatite, porém, como refere Rui Marinho, “as mais importantes são as virais, decorrentes do vírus da hepatite A, B e C”. Aquilo que caracteriza cada uma destas doenças é a sua forma de contágio, o tratamento e maneira como a doença se desenvolve ou manifesta.
Quais as diferenças?
Comecemos pela A. Como explica Rui Tato Marinho, a hepatite A “nunca se torna crónica”, ou seja, tem um período de incubação que dura, em média, entre 28 a 30 dias, e cura-se sozinha. A letalidade é de 0,3 a 0,6%. Porém, este número aumenta conforme a idade avança, chegando a atingir os 1,8% em doentes com mais de 50 anos. Quando alguém é infetado pela hepatite A e cura a doença, torna-se imune ao vírus.
A hepatite B existe sobre a forma aguda e sobre a forma crónica. Pode transformar-se numa doença oncológica e dar origem a um cancro. Contudo, como explica a Associação para o Planeamento da Família, “90% dos adultos saudáveis que são infetados com hepatite B recuperam e libertam-se do vírus no período de seis meses.”
Já a hepatite C, torna-se, “em 70% dos casos, quase sempre crónica”. Porém, é a única para a qual há tratamento disponível, o qual é capaz de eliminar o vírus em 97% dos casos, como adianta Rui Marinho.
Como é que se dá o contágio?
O contágio da hepatite A é diferente do contágio das hepatites B e C, que se propagam da mesma forma.
De acordo com a DGS, na hepatite A “o principal modo de transmissão é por via fecal-oral, através de fonte comum por ingestão de alimentos ou água contaminados.” Acontece muito em viajantes ou em contactos pessoa a pessoa. Este modo de propagação faz com que o o contacto sexual entre homens, quer seja por via anal ou oral, seja uma forma de contágio frequente.
As hepatites B e C são transmitidas pelo contacto direto com sangue ou fluídos de pessoas infetadas. Assim, transfusões de sangue, relações sexuais desprotegidas, partilha de seringas, material cirúrgico e até de uma lâmina de barbear podem ser formas de propagação da doença. A amamentação é também um meio de contágio.
Como é que se manifesta?
“O mais característico é não haver sintomas. As pessoas não podem estar à espera de sintomas”, refere o médico. Contudo, nos poucos casos em que se manifestam, as pessoas podem apresentar febre, icterícia (coloração amarelada dos olhos e pele), mialgias (dor no corpo generalizada) e dor abdominal.
Como é que deve ser feita a prevenção?
É essencial, em primeiro lugar, não ter comportamentos de risco e, em segundo, apostar nos métodos de prevenção. “O mais importante é fazer análises. Defendemos que toda a gente as deve fazer uma vez na vida. Se o resultado for negativo para as hepatites A e B, há vacinação que protege para o resto da vida”, adverte o médico.
As hepatites A e B não têm tratamento específico. Apenas o corpo pode eliminar os vírus e apenas se podem tratar os sintomas. Relativamente à hepatite C, não existe nenhuma vacina, mas pode curar-se com a medicação. “Hoje em dia é muito mais fácil curar com medicação”, explica.
Resumindo: faça análises. Caso o resultado seja negativo para as hepatites A e B, vacine-se logo – fica protegida para o resto da vida. De resto, não tenha comportamentos de risco. Tenha relações sexuais protegidas, com a utilização de preservativo, não partilhe materiais que entrem em contacto com o sangue ou fluídos, cuidado com as águas que consome e em que nada, e cuidado com os alimentos que ingere, sobretudo se estiver em viagem.
Ficou esclarecida em relação aos diferentes tipos de hepatites? Veja ainda as nossas sugestões para ser mais saudável.