© Rawpixel
Tudo sobre a vacinação contra a Covid-19, explicado por um especialista

Tudo sobre a vacinação contra a Covid-19, explicado por um especialista

A vacinação contra a Covid-19 é, até ao momento, a melhor arma contra a pandemia. Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, explica-nos porque nos devemos vacinar.

Por Jan. 31. 2021

Esperámos meses por este momento, mas assim que foi anunciada a primeira vacina contra o coronavírus, começou a especulação. A sua eficácia foi, e é ainda, posta em causa por muitos devido à rapidez com que foi conseguida.

Mas não se inquiete, Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, explica tudo para que nada tema quando chegar a sua vez de se vacinar.

A resposta às suas dúvidas sobre a vacinação contra a Covid-19

Um por todos

A vacina é uma das armas contra a pandemia e, até agora, não temos outra solução, ou seja, não temos uma terapêutica eficaz e temos tido dificuldade em conter o problema com medidas não farmacológicas.

A vacina apresenta um horizonte mais risonho da nossa capacidade de resolver o problema a nível individual, mas também do ponto de vista coletivo. Neste sentido, a vacina é um direito, mas acaba também por ser um dever cívico de todos nós.

A disrupção que a pandemia causou nas nossa vidas está à vista, portanto resolver esta situação é do interesse de todos. Estamos a falar de uma doença que se transmite de pessoa para pessoa, portanto as nossas opções e comportamentos são fundamentais para evitar que continue a dissemininar-se.

Evitar a mortalidade

Os estudos que foram feitos para a introdução das vacinas no mercado mostram que são um meio para evitar a mortalidade e as formas mais severas da Covid-19.

À medida que se avança na vacinação, vamos conseguindo perceber melhor o seu efeito e tentar perceber, por exemplo, se as pessoas vacinadas terão ou não capacidade de transmitir a doença.

Apelo para as pessoas se protegerem e protegerem os mais vulneráveis, porque estamos longe de ter a situação resolvida e ultrapassada – Ricardo Mexia médico de Saúde Pública

Quem já esteve doente

Quem já teve Covid-19 deve ser vacinado porque acredita-se que a vacina dá uma proteção mais duradoura e abrangente do que a doença natural.

A questão que se coloca é a escassez de vacinas e, como se sabe, quem já teve a doença apresenta algum grau de imunidade, logo não serão dos primeiros, mas, oportunamente, penso que deverão ser.

Imunidade grupo

Atingir a imunidade de grupo é um dos objetivos das vacinas para a Covid-19, no entanto, ainda não sabemos qual é o nível de imunidade necessário nesta doença para a atingir. De qualquer forma, deverá ser um valor elevado, atendendo ao que verificámos noutras comunidades onde o vírus circulou de forma mais abrangente. As estimativas apontam para 70%.

Aqui, a grande questão é se vamos ter a capacidade de produzir vacinas de forma tão célere que nos permita atingir esse volume.

A imunidade de grupo é importante para conter o problema do ponto de vista da comunidade e proteger aqueles que não podem ser vacinados, fruto das doenças que já têm. A única proteção para essas pessoas é a imunidade de grupo.

Baixar a guarda

Quando tivermos vacinado os mais vulneráveis, é provável que possa haver uma redução relevante das restrições e medidas que estão em curso, mesmo sem atingirmos a imunidade de grupo, mas ainda estamos longe disso.

O medo

Percebo que as pessoas tenham receio, mas é importante que percebam que os reguladores que autorizaram a introdução da vacina no mercado não baixaram os critérios da avaliação. A diferença substancial em relação a outras vacinas tem a ver mais com os prazos dos próprios reguladores e licenciamentos.

As pessoas têm de ter a perceção que o fundamento para a admissão das vacinas no mercado foi rigoroso. É sabido que qualquer vacina e medicamento tem efeitos adversos, mas muito raros quando comparados com aquilo que é o impacto da doença.

As vacinas para a Covid-19 não contêm vírus ou agentes infecciosos vivos – aliás, hoje, já são muito raras as vacinas que são desenvolvidas dessa forma –, logo ninguém terá a doença por se vacinar.

Negacionismo

Tenho muita dificuldade em dizer alguma coisa aos negacionistas, porque, olhando para a realidade em que vivemos, é-me difícil perceber que haja pessoas que não reconheçam a gravidade da situação.

É certo que maioritariamente afeta com maior gravidade as pessoas mais idosas, mas também pode afetar os mais jovens e pessoas perfeitamente saudáveis.

Tem uma letalidade bastante maior do que outras doenças e todos sabemos o impacto que tem tido à volta do mundo, mesmo perante medidas muito robustas e abrangentes. Além disso, ainda não percebemos o impacto, das consequências que deixa e da chamada Covid longa, o certo é que temos pessoas com sintomatologia há vários meses.

Saiba mais sobre o plano de vacinação, aqui.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 248, fevereiro de 2021.
Mais sobre doença , especialista