Saúde

A obsessão em ganhar músculo é uma doença e chama-se vigorexia

O desejo incessante em ganhar músculo e a ansiedade causada por não conseguir fazê-lo pode significar algo mais: a vigorexia. Falámos com a psicóloga Catarina Lucas que nos explicou mais sobre esta doença.

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A obsessão em ganhar músculo é uma doença e chama-se vigorexia A obsessão em ganhar músculo é uma doença e chama-se vigorexia
© SHUTTERSTOCK
Mafalda Barbosa
Escrito por
Jul. 05, 2022

Fazer exercício físico com mais frequência e praticar um estilo de vida saudável tem sido algo cada vez mais instituído nos tempos atuais. Parece algo normal, passar horas no ginásio, organizar cada detalhe da dieta para atingirmos o “corpo de verão” que sempre desejámos.

Bem, às vezes pode não ser assim tão fácil. A obsessão constante em querer tonificar e ganhar músculo, associada à frustração contínua em nunca ver resultados, pode ser significado de um problema mais grave conhecido como vigorexia.

Esta doença está associada a uma dismorfia muscular que leva ao desejo incessável de querer ganhar mais músculo. Nas redes sociais, os afetados pela doença têm demonstrado a necessidade crescente em falar sobre o problema.

Por isso, a psicóloga Catarina Lucas esclareceu-nos a definição de vigorexia, bem como procurou explicar os sinais de alerta a ter em atenção para que possa evitar (ou ajudar alguém a evitar) os seus riscos no futuro.

Esta obsessão pode levar a pessoa a ter uma distorção da imagem corporal, em que mesmo estando saudável e com um bom nível de massa muscular, continua a ver-se como franzina – Catarina Lucas, psicóloga

Vigorexia: da mente para o corpo

O que é e como se pode manifestar

Segundo a psicóloga, “a vigorexia é uma perturbação psicológica com uma forte componente obsessiva, onde a pessoa vive angustiada por não ter o corpo desejado, por se achar demasiado “pequena” ou com pouco músculo”. Trata-se de uma doença que se manifesta no corpo, mas em que a semente é plantada na mente.

Esta obsessão pode levar a pessoa a ter uma distorção da imagem corporal, em que mesmo estando saudável e com um bom nível de massa muscular, continua a ver-se como franzina”, acrescenta Catarina Lucas. 

A manifestação da vigorexia não é exclusiva, podendo ser fruto de diversas razões. A psicóloga acredita que “fatores como baixo autoconceito e autoestima tendem a estar associados a esta perturbação”, bem como anecessidade de validação e o culto da imagem presente na sociedade atual e estruturas de personalidade tendencialmente obsessivas ou perfeccionistas também podem tornar a pessoa mais vulnerável”.

Trata-se de uma condição que pode afetar quer homens quer mulheres, embora a especialista acredite que tende a ser mais frequente no sexo masculino, “sobretudo pela imagem culturalmente imposta ao homem”. 

Principais sinais da doença

Como advém do constante pensamento negativo sobre o corpo, a doença leva a horas infinitas no ginásio que, por sua vez, se transformam numa obsessão. Para Catarina Lucas, os principais sintomas da vigorexia são:

  • Prática excessiva de exercício físico;
  • Preocupação excessiva com a alimentação e dieta;
  • Gasto de muito tempo a organizar as refeições e horários de treino;
  • Obsessão com a imagem corporal;
  • Uso de suplementos alimentares;
  • Ansiedade devido às metas não alcançadas;
  • Angústia ou alterações de humor.

Embora, à primeira instância, estes aparentem ser sinais de alerta pouco difíceis de distinguir, a constante necessidade em atingir metas corporais impossíveis ou fora do alcance pode significar mais do que apenas querer ser saudável e estar em boa forma. É, por isso, importante estar atenta às pessoas que a rodeiam.

A psicoterapia incidirá sobre a obtenção de um estilo de vida saudável aliado à compreensão de vulnerabilidade no funcionamento psíquico da pessoa – Catarina Lucas, psicóloga

Como tratar a vigorexia

Esta condição pode ser combatida, embora, como qualquer doença relativa à saúde mental, trata-se de uma batalha constante com o “Eu”.

Além das consequências a nível físico, no futuro podem manifestar-se “problemas a nível da ansiedade e depressão. Este estilo de vida pode ainda conduzir ao afastamento social e à perda das rotinas habituais”, afirma a especialista.

Por isso, é importante que os afetados por esta condição sejam levados a um tratamento que envolva acompanhamento psicológico ou, em casos mais graves, a prescrição de fármacos. “A psicoterapia incidirá sobre a obtenção de um estilo de vida saudável aliado à compreensão de vulnerabilidade no funcionamento psíquico da pessoa”, explica a psicóloga.

Embora muitas vezes seja uma condição escondida e ignorada, o “grau de sofrimento associado tende a ser elevado”, pelo que a necessidade imediata de pedir ajuda é fulcral.

Ser vulnerável não fará da pessoa menos forte, apenas mais consciente da sua condição e dos seus limites.

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