Apesar de atingir apenas 1% da população, o vitiligo é uma doença crónica que, embora não ponha em risco a vida do doente, pode ter um impacto psicológico significativo, principalmente em crianças e jovens.
Como Sónia Fernandes, dermatologista do Hospital Lusíadas Lisboa, nos explica, “o vitiligo é uma doença que resulta da destruição ou redução dos melanócitos – as células que produzem o pigmento na nossa pele –, os quais deixam de funcionar adequadamente, levando ao desenvolvimento de manchas de coloração branca na pele”.
O vitiligo é uma doença multifatorial, ou seja, resulta de vários fatores, desde genéticos, autoimunes e ambientais. Alguns doentes relacionam, ainda, o início da doença com eventos específicos, tais como stresse emocional, doença, gravidez, traumatismo, mais ainda não existe consenso científico sobre este assunto.
Quando o vitiligo afeta áreas pilosas pode manifestar-se por lesões de poliose, o que é especialmente evidente no couro cabeludo, sobrancelhas, pestanas e barba.
Apesar de afetar todas as etnias, ambos os sexos e tipos de pele, os seus efeitos são mais visíveis em indivíduos de pele morena devido ao contraste de cor. Na maior parte dos casos desenvolve-se na juventude, entre os 10 e os 30 anos de idade. Ou seja, uma pessoa que tenha (ou venha a ter) vitiligo deverá começar a ver os primeiros sinais antes dos 40 anos de idade.
As pessoas com antecedentes familiares com vitiligo estão mais propensos a herdar fatores genéticos que lesam os melanócitos, logo há mais probabilidade de vir a ter vitiligo. Por outro lado, pessoas que já tenham outro tipo de doenças autoimunes relacionadas com a tiroide ou diabetes tipo I, podem estar, igualmente, entre a população mais afetada.
A evolução da doença
A evolução da doença é variável, as lesões tanto podem progredir ao longo dos anos como, pelo contrário, permanecer estáveis.
A partir do momento que a despigmentação ocorre, pode haver um período de estagnação, mas é expectável que as zonas afetadas alastrem, nalguns casos até à totalidade da pele. É comum o aparecimento de zonas despigmentadas em feridas, nas áreas mais expostas ao sol, à volta de sinais, unhas, sobrancelhas e cabelo.
Há casos em que as lesões deixam de progredir e recuperam a pigmentação sem qualquer tratamento. No entanto, na maioria dos casos observa-se um agravamento progressivo.
2 tipos de vitiligo
Vitiligo segmentar
Afeta só uma zona do corpo, normalmente uma mão, perna ou rosto. Metade dos indivíduos com vitiligo segmentar têm também despigmentação no cabelo, nas sobrancelhas e pestanas (poliose).
Os primeiros sinais podem aparecer numa idade jovem e vão progredindo ao longo dos anos. “Ao contrário do vitiligo não-segmentar, o vitiligo segmentar não está habitualmente associado à perda generalizada de pigmento noutras áreas anatómicas”, menciona a especialista.
Vitiligo não-segmentar
É o mais comum e afeta o corpo por inteiro. No entanto, começa, normalmente, pela despigmentação das mãos, pés ou rosto.
Diagnóstico
O dermatologista é o médico especialista indicado para fazer um diagnóstico de vitiligo, de forma a excluir outras doenças que podem, igualmente, determinar alterações da pigmentação da pele, como lentigo solar ou do envelhecimento (manchas da idade), micoses (caso da tinha do corpo ou “impingem”), fotodermatose (como a alergia ao sol), lúpus ou mesmo melanoma.
Tratamento
Infelizmente, ainda não existe tratamento curativo para esta doença. Contudo, após avaliação e diagnóstico corretos pelo médico dermatologista, podem ser aconselhadas algumas abordagens terapêuticas com variável eficácia caso a caso e consoante as áreas anatómicas envolvidas. Sónia Fernandes enumera-as:
• Terapêutica tópica (cremes ou pomadas que contêm corticosteróides ou inibidores da calcineurina) – deve ser sempre utilizada sob vigilância e com prescrição médica, lembrando, por exemplo, que os corticosteróides tópicos utilizados num esquema ou potência errados podem originar diminuição da espessura cutânea, estrias ou lesões irreversíveis;
• Fototerapia (maioritariamente é utilizada a exposição controlada a ultravioletas UVB de banda estreita) – nos casos de doença extensa tem como objetivo principal estabilizar a progressão das lesões e como objetivo secundário a repigmentação de algumas áreas anatómicas;
• Laserterapia (laser excimer) – na abordagem de áreas de menores dimensões, de forma direcionada;
• Tratamentos cirúrgicos, por exemplo com micro-enxertos de pele dadora “normal” para a área despigmentada;
• Dermocosmética – apesar de não modificarem as lesões, existem várias alternativas disponíveis que camuflam o aspeto branco das manchas (maquilhagem corretora, por exemplo) e que podem ajudar a torná-las menos percetíveis.
É importante ressalvar que existe uma probabilidade significativa de recorrência da despigmentação após os tratamentos.
Cuidados a ter com o sol
Um doente com vitiligo tem que ter cuidados redobrados com a pele, sobretudo no que diz respeito à exposição solar. Como já foi referido anteriormente, esta doença caracteriza-se pela perda parcial ou destruição de melanócitos – as células que produzem a melanina. A melanina, além de determina a cor da nossa pele, cabelo e olhos, constitui uma barreira natural aos raios ultravioleta (UV).
A pele branca das áreas com vitiligo tem muito menos proteção natural contra os ultravioletas. “Por isso, tem maior risco de, a curto prazo, facilmente sofrer queimadura solar e, a longo prazo, poder vir a desenvolver várias formas de cancro da pele”, alerta a especialista.
É aconselhável o uso de roupas protetoras como uma camisa fresca de mangas compridas, calças, chapéu de aba larga e óculos de sol, e ainda a procura de sombra e aplicação de protetor solar em todas as áreas do corpo que estejam descobertas. É, igualmente, recomendado o uso de um fotoprotetor (SPF 50 ou superior e resistente à água).