Um estudo realizado recentemente em Portugal, pela Associação Portuguesa de Medicinal Geral e Familiar (APMGF), mostra que 70% dos portugueses acima dos 50 anos conhece herpes zoster. No entanto, a percentagem passa para os 80% quando falamos das pessoas que não sabem quais as doenças ou condições de maior risco associadas ao mesmo.
Contudo, o vírus herpes zoster merece a sua atenção, pois pode acabar por ter manifestações muito graves . Bolhas no corpo, dores muito fortes, dificuldade em mover-se, dormir ou mesmo tomar banho, são alguns dos sintomas associados ao vírus.
O especialista em medicina interna, José Nuno Raposo, fala-nos sobre as problemas associados à doença, familiar da varicela, mas causadora de muito maior desconforto, os sintomas aos quais deve estar em alerta e, felizmente, quais os tratamentos para quem vive com o vírus.
Herpes zoster: como combater a doença zona
O que é que o herpes zoster (ou zona)?
É uma doença infeto-contagiosa causada pela reativação do vírus varicela zoster (VZV), o mesmo vírus que causa a varicela.
Pode desenvolver-se a partir de que idade?
Quase todos os adultos têm o VZV adormecido no seu sistema nervoso. Este vírus pode ser reativado com o avançar da idade, uma vez que, à medida que as pessoas envelhecem, as células do sistema imunitário perdem a capacidade de manter uma resposta forte e eficaz à reativação do VZV.
Mais de 90% das pessoas com mais de 50 anos vivem com o vírus e cerca de 1 em cada 3 adultos vão desenvolver herpes zoster (zona) ao longo da sua vida.
Como surge e quais são os sintomas?
A zona normalmente apresenta-se como uma erupção cutânea muito dolorosa e pruriginosa. Desenvolve-se num dos lados do corpo (dermátomo) e pode durar entre duas a quatro semanas.
A dor associada à zona é frequentemente descrita como uma queimadura “insuportável” e reportada como a “pior dor imaginável” (em alguns estudos, em cerca de 65% dos indivíduos). Mesmo depois da erupção cutânea se resolver, os doentes podem ter nevralgia pós-herpética (NPH), uma dor que pode surgir meses a anos após o aparecimento das vesículas.
O diagnóstico é feito com base na avaliação da pessoa e a observação das lesões (bolhas) na pele.
Trata-se de uma doença transmissível?
Sim. O herpes zoster (HZ) pode ser contagioso, principalmente para as pessoas que nunca tiveram contato com o vírus responsável pela doença, que também provoca a varicela.
Caso a pessoa nunca tenha tido contato com o vírus da varicela e/ou não tenha sido vacinada e tenha contacto direto com as lesões pode ficar doente.
O contacto com uma pessoa com zona pode transmitir o vírus, que não provocará doença nas pessoas que já tiveram a varicela, mas que pode infetar quem nunca a teve. A manifestação deste contágio é, então, a varicela e não a zona.
O contágio é possível a partir do momento em que surgem as bolhas na pele e deixa de o ser quando se formam as crostas. O período de incubação é muito variável.
O vírus afetou o cantor Justin Bieber e, como consequência, levou-o a desenvolver o síndrome de Ramsay Hunt. Quais são as principais consequências do vírus?
No caso da zona, a principal complicação do herpes zoster é a nevralgia pós-herpética (5-30% dos casos). Outras menos frequentes incluem o herpes oftálmico, desenvolvimento de cicatrizes, envolvimento de pares ou nervos cranianos, perda de audição e eventos cardio e/ou cerebrovasculares. Os sintomas e complicações do HZ podem ser mais frequentes e duradouros em doentes imunocomprometidos.
Quais os fatores risco para quem desenvolve a zona?
- Ter idade superior a 50 anos;
- Sofrer de doenças que interferem com o sistema imunitário como cancro ou VIH, imunossupressão (por quimioterapia ou pós transplante) trauma físico ou stresse psicológico.
Podemos prevenir o herpes zoster? Como?
A prevenção da zona, e das suas possíveis complicações, baseia-se na utilização de vacinas.
As vacinas são muitas vezes a única opção de proteção contra doenças infeciosas que podem representar riscos significativos para a saúde pública, uma vez que tendencialmente estas doenças caracterizam-se por serem agudas, com opções de tratamento limitadas e que, em algumas situações, podem resultar em morte ou morbilidade significativa em populações saudáveis. Estas indicações aplicam-se também à zona.
A vacinação pode ajudar a prevenir o contágio e a disseminação da doença grave. Reduz ainda outras questões não clínicas, mas igualmente importantes, como as despesas médicas, o absentismo laboral e a impossibilidade de cuidar da família.
A vacinação ajuda a manter a imunidade do indivíduo e evita o surgimento de surtos. Contribui ainda para reduzir desfechos desfavoráveis em doentes com co-morbilidades crónicas.
Atualmente, existem vacinas para a zona que estão indicadas para a prevenção de herpes zoster e nevralgia pós-herpética, em adultos com idade igual ou superior a 50 anos e em adultos com idade igual ou superior a 18 anos, com risco aumentado para HZ.
Quais os tratamentos disponíveis atualmente?
O tratamento (para o HZ e suas complicações) é limitado e sub-óptimo. Consiste, essencialmente, em:
- Antivirais: podem reduzir a gravidade e duração do episódio de HZ;
- Analgésicos e anti-inflamatórios: para alívio sintomático;
- Adjuvantes no tratamento da NPH: antidepressivos tricíclicos, agentes tópicos e opióides.
De referir, no entanto, que o tratamento atempado é útil na diminuição dos sintomas em intensidade e duração, mas não tem influência na ocorrência da nevralgia pós-herpética.