© SHUTTERSTOCK
Herpes zoster ou doença zona: o vírus contagioso ao qual deve dar mais importância

Herpes zoster ou doença zona: o vírus contagioso ao qual deve dar mais importância

O herpes zoster, também conhecido por doença zona, é um vírus contagioso e potencialmente perigoso. José Nuno Raposo, especialista em medicina interna, explica-nos quais os sintomas, as repercussões e os tratamentos para esta doença.

Por Jul. 11. 2022

Um estudo realizado recentemente em Portugal, pela Associação Portuguesa de Medicinal Geral e Familiar (APMGF), mostra que 70% dos portugueses acima dos 50 anos conhece herpes zoster. No entanto, a percentagem passa para os 80% quando falamos das pessoas que não sabem quais as doenças ou condições de maior risco associadas ao mesmo.

Contudo, o vírus herpes zoster merece a sua atenção, pois pode acabar por ter manifestações muito graves . Bolhas no corpo, dores muito fortes, dificuldade em mover-se, dormir ou mesmo tomar banho, são alguns dos sintomas associados ao vírus.

O especialista em medicina interna, José Nuno Raposo, fala-nos sobre as problemas associados à doença, familiar da varicela, mas causadora de muito maior desconforto, os sintomas aos quais deve estar em alerta e, felizmente, quais os tratamentos para quem vive com o vírus.

Herpes zoster: como combater a doença zona

O que é que o herpes zoster (ou zona)?

É uma doença infeto-contagiosa causada pela reativação do vírus varicela zoster (VZV), o mesmo vírus que causa a varicela. 

Pode desenvolver-se a partir de que idade?

Quase todos os adultos têm o VZV adormecido no seu sistema nervoso. Este vírus pode ser reativado com o avançar da idade, uma vez que, à medida que as pessoas envelhecem, as células do sistema imunitário perdem a capacidade de manter uma resposta forte e eficaz à reativação do VZV.

Mais de 90% das pessoas com mais de 50 anos vivem com o vírus e cerca de 1 em cada 3 adultos vão desenvolver herpes zoster (zona) ao longo da sua vida.

O contacto com uma pessoa com zona pode transmitir o vírus, que não provocará doença nas pessoas que já tiveram a varicela, mas que pode infetar quem nunca a teve – José Nuno Raposo, especialista em medicina interna

Como surge e quais são os sintomas?

A zona normalmente apresenta-se como uma erupção cutânea muito dolorosa e pruriginosa. Desenvolve-se num dos lados do corpo (dermátomo) e pode durar entre duas a quatro semanas.

A dor associada à zona é frequentemente descrita como uma queimadura “insuportável” e reportada como a “pior dor imaginável” (em alguns estudos, em cerca de 65% dos indivíduos). Mesmo depois da erupção cutânea se resolver, os doentes podem ter nevralgia pós-herpética (NPH), uma dor que pode surgir meses a anos após o aparecimento das vesículas.

O diagnóstico é feito com base na avaliação da pessoa e a observação das lesões (bolhas) na pele.

Trata-se de uma doença transmissível?

Sim. O herpes zoster (HZ) pode ser contagioso, principalmente para as pessoas que nunca tiveram contato com o vírus responsável pela doença, que também provoca a varicela.

Caso a pessoa nunca tenha tido contato com o vírus da varicela e/ou não tenha sido vacinada e tenha contacto direto com as lesões pode ficar doente.

O contacto com uma pessoa com zona pode transmitir o vírus, que não provocará doença nas pessoas que já tiveram a varicela, mas que pode infetar quem nunca a teve. A manifestação deste contágio é, então, a varicela e não a zona.

O contágio é possível a partir do momento em que surgem as bolhas na pele e deixa de o ser quando se formam as crostas. O período de incubação é muito variável.

A vacinação pode ajudar a prevenir o contágio e a disseminação da doença grave  – José Nuno Raposo, especialista em medicina interna

O vírus afetou o cantor Justin Bieber e, como consequência, levou-o a desenvolver o síndrome de Ramsay Hunt. Quais são as principais consequências do vírus?

No caso da zona, a principal complicação do herpes zoster é a nevralgia pós-herpética (5-30% dos casos). Outras menos frequentes incluem o herpes oftálmico, desenvolvimento de cicatrizes, envolvimento de pares ou nervos cranianos, perda de audição e eventos cardio e/ou cerebrovasculares. Os sintomas e complicações do HZ podem ser mais frequentes e duradouros em doentes imunocomprometidos.

Quais os fatores risco para quem desenvolve a zona?

  • Ter idade superior a 50 anos;
  • Sofrer de doenças que interferem com o sistema imunitário como cancro ou VIH, imunossupressão (por quimioterapia ou pós transplante) trauma físico ou stresse psicológico.
De referir, no entanto, que o tratamento atempado é útil na diminuição dos sintomas em intensidade e duração, mas não tem influência na ocorrência da nevralgia pós-herpética – José Nuno Raposo, especialista 

Podemos prevenir o herpes zoster? Como?

A prevenção da zona, e das suas possíveis complicações, baseia-se na utilização de vacinas. 

As vacinas são muitas vezes a única opção de proteção contra doenças infeciosas que podem representar riscos significativos para a saúde pública, uma vez que tendencialmente estas doenças caracterizam-se por serem agudas, com opções de tratamento limitadas e que, em algumas situações, podem resultar em morte ou morbilidade significativa em populações saudáveis. Estas indicações aplicam-se também à zona.

A vacinação pode ajudar a prevenir o contágio e a disseminação da doença grave. Reduz ainda outras questões não clínicas, mas igualmente importantes, como as despesas médicas, o absentismo laboral e a impossibilidade de cuidar da família.

A vacinação ajuda a manter a imunidade do indivíduo e evita o surgimento de surtos. Contribui ainda para reduzir desfechos desfavoráveis em doentes com co-morbilidades crónicas. 

Atualmente, existem vacinas para a zona que estão indicadas para a prevenção de herpes zoster e nevralgia pós-herpética, em adultos com idade igual ou superior a 50 anos e em adultos com idade igual ou superior a 18 anos, com risco aumentado para HZ. 

Quais os tratamentos disponíveis atualmente?

O tratamento (para o HZ e suas complicações) é limitado e sub-óptimo. Consiste, essencialmente, em:

  • Antivirais: podem reduzir a gravidade e duração do episódio de HZ;
  • Analgésicos e anti-inflamatórios: para alívio sintomático;
  • Adjuvantes no tratamento da NPH: antidepressivos tricíclicos, agentes tópicos e opióides.

De referir, no entanto, que o tratamento atempado é útil na diminuição dos sintomas em intensidade e duração, mas não tem influência na ocorrência da nevralgia pós-herpética.

Mais sobre doença , especialista , mal-estar