Dormir. Gastamos cerca de um terço da nossa vida a fazê-lo. Mas será que sabemos realmente do que se trata?”, questionou o neurocirurgião Jeff Illif na sua TED Talk, Mais uma razão para ter uma boa noite de sono.
O sono, entre todas as nossas atividades, tem uma incrível função reparadora. Mas como é que o cérebro resolve o problema da limpeza dos resíduos entre as células? A pesquisa de Jeff Illif concluiu que esta limpeza só acontece no cérebro adormecido. “Quando o cérebro está acordado e na sua atividade máxima, adia para mais tarde a limpeza dos resíduos dos espaços entre as células que se acumulam durante o dia. É um pouco como deixarmos de lado as nossas tarefas caseiras durante a semana de trabalho, quando não temos tempo para as fazer e, depois fazemo-las todas ao fim de semana”.
Conclusão, quando estamos a dormir, o nosso cérebro não descansa. À semelhança da limpeza da casa, se não a fizermos durante um mês, esta fica totalmente impossível de se viver. Imagine então no cérebro? Arriscamos a nossa saúde. Mais uma razão para ter uma boa noite de sono. Mas será preciso para isso dormir 8 horas?
Dormir 8 horas sob a perspectiva de quem estuda o sono
Jeffrey C. Hall, Michael Rosbash e Michael W. Young ganharam no passado dia 2 outubro o Prémio Nobel da Medicina de 2017. Conseguiram isolar o gene que controla o ritmo circadiano biológico diário, o “relógio interno de 24 horas” que gere todas as funções do nosso organismo. Demonstraram que este gene codifica uma proteína que se acumula na célula durante a noite e que é degradada durante o dia.
O nosso relógio interno regula funções críticas, como comportamento, níveis hormonais, sono, temperatura corporal e metabolismo. E o bem-estar é afetado quando há um desencontro entre o ambiente externo e esse relógio biológico interno. Por exemplo, quando atravessamos diferentes fusos horários (jet lag). Isto acontece porque o sono sai afetado. Não na sua quantidade, mas qualidade.
O projeto da designer Ana Gil Wakeup Toughts propõe que tire um selfie assim que acorda. A página de Instagram é rica em expressões de sono. Geralmente, com cara de quem dormiu pouco.
Sono polifásico
Depois de 16 anos de pesquisa, Roger Ekirch, historiador da Universidade de Virginia Tech, publicou um estudo que revelou que o sono humano se divide em dois períodos. O autor de At Day’s Close: Night in Times Past descobriu que as referências ao primeiro e segundo sono começaram a desaparecer no final do século 17.
A maioria das pessoas só dorme uma vez por dia, geralmente à noite. Este é o sono monofásico. Há o caso de pessoas dormem à noite e fazem uma sesta durante o dia – o sono bifásico. A controvérsia chega com o sono polifásico, um padrão alternado de sono em vários momentos, curtos, do dia.
Katarzyna Bosak, responsável de pesquisa científica da app Nightly, afirma que “os nossos antepassados dormiam assim. Tinham o primeiro e o segundo sono. Deitavam-se às 20h30. Pelas 02h30 acordavam, saiam e iam visitar os vizinhos. Quando estava frio, liam, escreviam, rezavam… E voltavam a dormir. Tudo mudou com a descoberta da eletricidade. Tornou-se desnecessário dividir o sono em dois ciclos. Podíamos tentar repetir o hábito, mas a luz artificial para a secreção de melatonina durante a noite. Não vivemos no século 18 ou 19”.
Robert Lindeman, estudioso do sono acredita que “tudo depende dos hábitos de sono de cada indivíduo. O mais importante é dormir o suficiente para que o seu corpo se sinta saudável e energizado, passando, adequadamente, pelos ciclos de sono”.
Um artigo no The New York Times de David K. Randall, autor de Dreamland: Adventures in the Strange Science of Sleep questiona o sono assim como o conhecemos. “A noção de que devemos dormir oito horas de seguida é relativamente recente. A população mundial dorme de formas variadas e surpreendentes. Milhões de trabalhadores chineses continuam a fazer sestas de uma hora nas suas secretárias de trabalho, depois do almoço. Da Índia a Espanha, as sestas diurnas são uma prática comum”.
Descanso de qualidade
A Associação Portuguesa do Sono (APS) quando questionada relativamente ao artigo de David K. Randall no The New York Times, revelou “não haver fundamento científico e serem relatos individuais e especulação”. E recomenda para o sono do adulto que “a duração do sono deve ser suficiente para descansar e estar alerta no dia seguinte. Não durma menos nem mais do que é necessário. O sono deve ser contínuo, sem interrupção e deve ser profundo o suficiente para ser restaurador”.
Para Jim Horne, director do centro de Pesquisa do sono da universidade de Loughborough e autor do livro Sleeplessness, não precisamos de dormir 8 horas: “é como dizer que todos devíamos calçar o 40 ou ter 1,70 de altura”. O neurologista assegura que é uma questão genética, física.
Por isso, mais do que ler ou se informar de quanto tempo deve dormir é importante saber escutar o corpo, para definir quanto tempo este precisa para se sentir saudável e desperto. Interessa que acorde naturalmente – sem despertador. E se não conseguir adormecer 30 minutos depois de se ter deitado, levante-se e faça qualquer coisa – leia, escreva. Continuar a tentar só a vai frustar.
Antes que recorra a um comprimido para dormir, faça download da faixa Weightless do grupo de Manchester, Marconi Union. Especialistas de som identificaram esta música, com ritmos contínuos de 60 BPM, como a melodia perfeita para sincronizar as nossas ondas cerebrais com as do coração. A companheira ideal de uma noite bem dormida.
Afinal, a resposta para um dia saudável sempre esteve nas despedidas noturnas da infância. Desejar bons sonhos não é desejar que se durma muitas horas. Antes, que tenha uma boa qualidade de sono.
Costuma dormir 8 horas? Não leve as preocupações diárias para a cama…relaxe! Saiba também por que deve dormir nua.