Sabe o que é a ansiedade de desempenho sexual?

Se se sente culpada porque o clímax do seu parceiro chegou cedo demais, saiba que a culpa não é sua. É um problema e tem um nome: ansiedade de desempenho sexual.

Por Nov. 20. 2019

Ter relações sexuais quando se está nervosa é o mesmo que pedir ao cérebro concentração extra para realizar várias tarefas simultaneamente. “É quase como se tivesse dois concorrentes pelo mesmo sistema neurológico”, diz o psiquiatra Abby Altman ao Huffpost, explicando que a ansiedade e a atividade sexual recorrem às mesmas funções do sistema nervoso.

De acordo com um estudo publicado no Journal of Sexual Medicine, um dos problemas sexuais mais recorrentes entre os casais é a ansiedade de desempenho sexual. Nos homens, este problema contribui para a ejaculação precoce e, nas mulheres, é uma das principais causas para a fraca libido.

Se, em pleno ato sexual, os batimentos fortes e a respiração ofegante não são sinais de um possível clímax à vista, possivelmente sofre de ansiedade de desempenho sexual.

A origem do problema

“A ansiedade interfere na resposta sexual e impede que se sinta prazer, pois está-se focado em preocupações, medos e receios de que o sexo não seja bom ou suficientemente satisfatório”, diz-nos a sexóloga Joana Almeida.

Nesta situação, aquilo em que pensamos durante o ato sexual tem uma importância fundamental para que “se entregue a boas sensações ou, por outro lado, a vários medos, como o de falhar ou de não conseguir satisfazer a outra pessoa”, adianta a especialista.

A sexóloga Vera Ribeiro corrobora a afirmação anterior, dizendo que “as expectativas que criamos em relação ao que o outro espera de nós gera ansiedade, o que promove, em algumas situações, uma preocupação excessiva sobre a forma como nos devemos comportar no ato sexual”.

Da dificuldade de lubrificação à ejaculação precoce

A ansiedade de desempenho pode fazer com que uma pessoa, independentemente do seu sexo, não consiga atingir o orgasmo. Dependendo de cada contexto, “a ansiedade pode variar entre um friozinho na barriga e um ataque pânico”, explica Vera Ribeiro.

No entanto, é frequente que as mulheres, nesta situação, “tenham dificuldades na lubrificação e dor na penetração, porque o estar ansiosa significa estar contraída e, por essa razão, pode não conseguir ter uma relação sexual prazerosa”, adianta a especialista.

Já nos homens, este tipo de ansiedade é mais visível e pode manifestar-se principalmente “por disfunção erétil e ejaculação precoce, devido à preocupação excessiva do seu próprio desempenho, estimulando o cérebro a pensar em tudo, menos no prazer e no ato sexual”, diz-nos Vera Ribeiro. Por essa razão, “uma das queixas mais frequentes é a ausência de ereção”, completa a especialista.

A importância da autoestima

No geral, temos tendência para nos preocuparmos em demasia com a nossa imagem e esta pode ser uma das principais causas em torno da ansiedade do desempenho sexual. Mas neste campo, que pertence ao da autoestima, também estão outros fatores, como “estar tão apaixonada e não querer perder a outra pessoa ou recear não estar à sua altura”, diz-nos Joana Almeida.

Neste sentido, é fundamental que perceba a verdadeira causa do problema e que seja sincera com o seu parceiro. No entanto, podem ser vários os motivos que levam a este tipo de ansiedade. “É diferente alguém passar por um problema sexual – que quase toda a gente já atravessou num determinado momento da sua vida – do que sentir uma dificuldade prolongada. Nestas alturas, a procura de tratamento com um sexólogo é importante para prevenir que uma perturbação se instale e progrida”, esclarece Joana Almeida.

Um trabalho a dois

O sexo e o mistério andam praticamente de mãos dadas, por isso, querer controlar e prever o que vai acontecer antes do próprio ato é quase como estar a matar o melhor que o sexo tem. A solução para conseguir controlar a ansiedade é tentar “ser o mais natural possível, sem criar expectativas e desfrutar de cada momento sem prever os seguintes”, diz-nos Vera Ribeiro.

Não há receitas mágicas, mas explorar o prazer a partir do que já se gosta e do que se gostava de descobrir pode ser um bom caminho – Joana Almeida, séxologa

Mas, sobretudo, “não colocar uma pressão excessiva sobre aquilo que vai acontecer. É mais importante focar o olhar na pessoa que está à nossa frente do que estar a pensar no que vai ou não fazer e de que forma”, acrescenta a especialista.

Para Joana Almeida, a comunicação também tem um papel importante na ansiedade pré-sexual. Por isso, o primeiro passo pode ser “encontrar um modo de comunicação sobre o prazer e formas de relaxarem juntos no sexo”, explica a especialista.

Joana Almeida adianta ainda algumas dicas que podem ajudar a desbloquear situações como “conversar pela positiva e chamar as coisas pelo seu nome, tanto as partes do corpo, como as práticas sexuais”. A especialista diz ainda que “não há receitas mágicas, mas explorar o prazer a partir do que já se gosta e do que se gostava de descobrir pode ser um bom caminho”.

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