Deixe-nos adivinhar. Secretamente, adorou o filme As Cinquenta Sombras de Grey e chegou a considerar comprar a trilogia de livros e devorá-los numa semana, na privacidade da sua casa. Melhor ainda, leu-os em modo maratona no decorrer de três (intensos) dias e não tem vergonha nenhuma de o admitir.
Claro, o seu lado são e racional sabe perfeitamente que o filme é apenas isso, um filme, ficção que em nada se assemelha à realidade. Sim, o Christian é extremamente controlador, possessivo e chega a roçar o abusivo, e à Anastasia, de vez em quando, só apetece dar um abanão.
Mas se há algo que o filme conseguiu fazer, foi pôr a prática de BDSM nas bocas do mundo. E tudo o que faz da sexualidade um tema menos tabu merece, na nossa humilde opinião, um aplauso.
Será que o BDSM obriga à utilização de chicotes e algemas? Tem mesmo de envolver um quarto extremamente intimidante, pintado em tons de vermelho e decorado com objetos que mais parecem de tortura medieval?
Já lhe falámos de práticas mais comuns, como o sexo oral, e de outras que são ainda tabu, como o sexo anal. Desta vez, vimos matar a sua curiosidade e explicamos-lhe o que é o BDSM e o que deve ter em atenção se gostaria de se iniciar na prática. Não vá a lado nenhum, as coisas estão prestes a aquecer.
Consentimento é a palavra-chave
O BDSM define-se por três categorias: bondage e disciplina, dominação e submissão, e sadismo e masoquismo. E, ao contrário do que muita gente possa pensar, não é sinónimo de abusos ou agressões sem consentimento, mas sim de uma manipulação erótica e emocional do(s) parceiro(s).
Em primeiro lugar, e como em tudo no que à sexualidade diz respeito, o consentimento entre as partes envolvidas é obrigatório. Depois, é importante perceber que esta é uma judgement free zone, ou seja, os julgamentos e juízos de valor têm mesmo de ficar à porta, já que a ideia é que toda a gente se sinta bem e confortável.
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É normal que palavras como “sadismo” e “masoquismo” a intimidem, principalmente quando os exemplos que temos disponíveis estão apenas presentes em filmes de Hollywood pouco realistas ou sites de pornografia que inspiram pouca confiança. Mas é possível misturar o sexo, o poder, o prazer e a dor de uma forma saudável e entusiasmante.
Confiança acima de tudo
Na vida real, as coisas são bem diferentes daquilo que vemos nos filmes. Partilhar um momento íntimo com outra(s) pessoa(s) implica uma série de fatores que raramente são retratados no grande ecrã.
Falamos de corpos imperfeitos, barulhos constrangedores e posições desconfortáveis que nos fazem duvidar da nossa sensualidade (continuamos sem saber como é possível ter relações sexuais no duche sem que haja casualidades).
A prática de BDSM não tem de ser assustadora e intimidante e pode ser uma forma de tornar a vida sexual de um casal mais excitante. Mas, para isso, é essencial que exista confiança entre os dois.
A relação entre quem domina e quem é dominado deve ter como base o respeito pelos limites impostos e há que saber traçar uma linha entre o que estamos dispostas a fazer e aquilo a que nos negamos por completo.
Normas de segurança a ter em conta no BDSM
Tenha uma safe word
Na maioria das relações de BDSM, o parceiro submisso abdica do controlo da situação e passa-o (quase por completo) para o parceiro dominante.
No entanto, é importante que se estabeleça uma palavra de segurança, que ambos acordaram previamente, para a eventualidade de que uma das pessoas envolvidas queira parar ou dar por terminada a atividade sexual. Pense numa palavra que não costuma usar frequentemente ou em contexto sexual, como abacaxi ou hipopótamo.
Chegar aos seus limites sim, ultrapassá-los não
A ideia não é acabar o dia nas urgências ou ficar traumatizada para o resto da vida. O BDSM continua a ser uma prática sexual, e o sexo deve dar prazer. Um pouco de dor, se assim o desejar, é ok. Dor insuportável é um grande NÃO.
Comece a pouco e pouco
Mergulhar de cabeça na prática de BDSM pode ser assustador. Não é preciso ir a correr comprar um chicote de pele ou umas algemas de pelo. Há pequenas coisas que pode fazer para se aventurar, lentamente, neste mundo.
Algumas sugestões, para se ambientarem, são: começar com dirty talk ou sexting, experimentar uma venda para os olhos, um jogo sexual, utilizar um lenço em vez de algemas, dar pequenas mordidelas ou brincar com cera de velas ou molas da roupa.
A partir daí, só têm de dar asas à imaginação e explorar os fetiches de cada um, já que o BDSM tem significados diferentes para cada pessoa.
Alguns termos a conhecer
Baunilha: o oposto de BDSM, é a expressão utilizada para definir uma relação sexual convencional.
Bondage: o ato de prender uma pessoa. Por norma, o dominador é quem ata as mãos (ou os pés) do submisso, utilizando lenços, cintos, cordas, algemas ou correntes.
Dominador: o indivíduo que tem a autoridade na relação BDSM.
Fetiche: uma obsessão ou grande curiosidade em relação a uma experiência sexual específica, uma parte do corpo ou um objeto.
Masoquista: alguém que encontra prazer na dor.
Role Play: situação em que os participantes fingem uma identidade diferente da sua. Algumas das mais comuns são professor/estudante, médico/paciente e chefe/empregado.
Sadismo: o ato de sentir prazer ao infligir dor.
Submisso: o indivíduo que abdica do controlo na relação BDSM.