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Não, os brinquedos sexuais não são competição para os homens

Não, os brinquedos sexuais não são competição para os homens

Os brinquedos sexuais podem ter estado, durante muito tempo, associados a mulheres insatisfeitas com os seus parceiros, mas devem ser pensados como realmente são: complementos ao prazer de ambos.

Por Mai. 18. 2023

Chegar lá”. “Fazer o amor”. “Ver Netflix and chill”. “Bater uma”. “Estar a vir-me”. São (quase) infinitas as expressões que usamos para tornar a conversa sobre sexo aparentemente menos constrangedora. Afinal, o estigma em torno desta temática, ainda que tenha diminuído com o passar do tempo, continua a existir.

E quando o tema “brinquedos sexuais” é levado para cima da mesa (ou da cama), o tabu parece multiplicar-se. Não é, portanto, de estranhar que questões relevantes acabem por nunca ser esclarecidas, experiências nunca aproveitadas e que algumas fragilidades venham à tona.

Falamos, por exemplo, das inseguranças que alguns homens sentem quando a sua parceira, numa relação heteronormativa, pretende apimentar as relações sexuais. “Os vibradores foram, durante muito tempo, associados a consolar as mulheres sem parceiro ou insatisfeitas e, por isso, a decisão de comprarem um brinquedo pode causar receios e assombrar a virilidade deles”, explica Vânia Beliz, sexóloga, após o evento de apresentação da nova linha de vibradores da Control.

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Um plus no sexo

Porém, estas ideias são, não só retrógradas, como completamente ultrapassadas. Os brinquedos eróticos, como também são designados, trazem uma série de benefícios para a saúde e as relações.

Ao despertar novas sensações, permite um conhecimento mais aprofundado do seu próprio corpo e dos companheiros, além de melhorar a comunicação entre o casal, contribuir para a redução do stress e aumentar a autoconfiança.

Todavia, os vibradores não fazem sexo. Em especial as mulheres, querem – e precisam – também de proximidade, de sentir o parceiro, de se conectarem. Além de que, claro, a penetração não é a única condição para podermos considerar uma relação sexual.

É por isso que qualquer ideia de competição ou substituição do outro com um estimulador é injustificada.

Em complemento

Os brinquedos devem ser vistos, pelo contrário, como complementos ao prazer. Como a sexóloga esclarece, existem algumas estruturas internas, dentro da vagina, que não são fáceis de estimular numa relação penetrativa. Portanto, por vezes, ao mudar de posição a questão resolve-se, mas, noutras, é preciso mais do que isso.

“A utilização de um produto destes permite chegar a essas zonas mais restritas”, avança, acrescentando: “Se conhecermos a anatomia feminina e a sua diversidade, será fácil perceber que existem zonas onde é difícil o pénis chegar e é aí que os brinquedos podem ser uma mais valia”.

No livro É normal?, Leonor de Oliveira, autora da recente publicação e terapeuta sexual pela Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, reforça esta ideia. “Algumas pessoas com vulva relatam sentir orgasmos diferentes com penetração profunda, porque há contacto com o cérvix, mas a maioria dos pénis não tem o comprimento para lá chegar e, quase sempre, precisa da ajuda de um brinquedo”, escreve.

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Inseguranças que chegam (lá)

Todavia, isto pode trazer à tona fragilidades estruturais. “Os homens continuam a ter muita preocupação com o tamanho do pénis”, recorda Vânia Beliz. “A maior parte assume que gostaria de ser maior e acredita que o tamanho pode ser importante para o prazer feminino”, adiciona.

Por isso, quando querem levar um brinquedo sexual para a cama, algumas mulheres preferem “tamanhos mais pequenos”. “Acredito que [o fazem] por receio de magoar o parceiro ou passar a ideia de que preferiam que [o órgão sexual masculino dele] fosse maior”, defende a sexóloga.

Desmontar ideias e fragilidades

Deste modo, para não reforçar esse tipo de inseguranças, é necessário assegurar que não é “uma pessoa com pénis maior” que desejam, mas a sensação de “penetração mais profunda ou larga”, aconselha Leonor de Oliveira, no livro. É importante explicar que “desejamo-lo a ele, mas com um adereço”, termina.

Aliás, de acordo com um estudo publicado em fevereiro deste ano, intitulado What Drives Sex Toy Popularity? A Morphological Examination of Vaginally-Insertable Products Sold by the World’s Largest Sexual Wellness Company, “os consumidores mostram uma preferência por brinquedos sexuais penetrativos que não são réplicas diretas do pénis masculino, o que sugere que não estão à procura de um substituto realista”.

Um é bom, dois também, três não é demais

Independentemente da sua forma, os vibradores podem ser utilizados a solo ou em casal (ou com a quantidade de parceiros que quiser, obviamente), “nos preliminares, de modo a aumentar a excitação feminina” ou “para continuar aquilo que começamos em conjunto”, salienta Vânia Beliz.

“Lembremo-nos que, com a penetração, exclusivamente, muitas mulheres não atingem o orgasmo e ainda demoram o dobro ou o triplo dos homens a atingi-lo”, por isso “ter algo que prolongue a excitação pode ser uma mais valia”, conclui.

Quando – ou se – decidir juntar um extra ao sexo, adicione um lubrificante à base de água, para facilitar a inserção do brinquedo. Caso seja feito de silicone, como o da gama premium da Control – chamada Soul Vibes -, evite um lubrificante de silicone, uma vez que, por ser do mesmo material, pode fundir-se com o estimulador e danificá-lo.

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Pode usar qualquer um dos três novos produtos da marca no banho, por exemplo, pois são à prova de água. Encontra-os já à venda no site da Control e também na Well’s do Centro Comercial Colombo, em Lisboa, e outras lojas online.

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