Durante as duas últimas semanas a questão da saúde mental esteve em cima da mesa, depois de uma famosa atleta americana ter desistido de participar nos jogos olímpicos. Simone Biles, atualmente a melhor ginasta do mundo, trouxe para a discussão este tema importante e tantas vezes ignorado e menosprezado.
A saúde mental é o que nos confere o equilíbrio e bem-estar. Sem ela podemos ter dificuldade em lidar com os desafios, connosco próprias e também com os outros.
Esta área é vasta e qualquer mal-estar deve ser avaliado de forma a podermos tratar ou melhorar qualquer sintoma que nos limite ou prejudique.
E por que é importante falarmos de saúde mental se o tema de vos falo é sexo? Porque existem muitas dificuldades na intimidade que acontecem porque não estamos bem.
Longe vai o tempo em que os psicólogos e os psiquiatras eram vistos como o destino dos maluquinhos, hoje são especialidades importantes e muitas vezes necessários para ajudar a encontrar o caminho ou a luz ao fundo do túnel.
A ansiedade, a depressão, as fobias, entre outras são patologias frequentes e muito limitativas. Mas queria centrar esta crónica na ansiedade e frustração que tantas vezes sentimos e que nos atiram para a tristeza.
Vivemos cada vez mais conectadas e num instante comunicamos com alguém do outro lado mundo. Enviamos um e-mail, recebemos tantos outros, vivemos rodeadas de notificações que nos roubam a atenção e o tempo.
Os nossos ídolos são agora o que chamam de influencers e as vidas mostradas como perfeitas fazem-nos sentir angústia, ansiedade, frustração.
Sentimos o peso de sermos “perfeitas”, de não falhar, de ter sucesso. Esta pressão constante tem consequências negativas na nossa autoestima e, claro, nas nossas relações.
O stresse e a ansiedade são grandes inimigos do sexo, pois não há desejo ou excitação que aguente com os alertas todos ligados.
Em Portugal, o consumo de antidepressivos e a ansiolíticos é muito grande e estes fármacos também têm consequências na nossa resposta sexual. A falta de desejo ou a dificuldade em chegar ao orgasmo podem ser dificuldades comuns nas pessoas que tomam estes fármacos, mas enquanto o tratamento durar, este deve ser priorizado.
Não somos máquinas com pilhas de longa duração. Assumir que não conseguimos e que não queremos pode ser determinante para uma mudança mais significativa.
A nossa intimidade e sexualidade é mais gratificante se nos sentirmos melhor connosco. Priorizemos cuidar de nós para depois podermos realmente dedicarmo-nos aos outros.
Procure caminhos reais e evite expectativas irrealistas. Lembre-se: somos pessoas, não somos máquinas. Aproveite as férias para se desconectar do que a distrai e cuide de si como merece, para depois conseguir aproveitar os outros.
Vânia Beliz licenciou-se em Psicóloga Clinica e da Saúde. Mestre em Sexologia e doutoranda em Estudos da Criança na especialidade de Saúde Infantil, na Universidade do Minho, participa em projetos no âmbito dos Programas de Educação para a Saúde (PES) e o Projeto de Educação Sexual “A viagem de Peludim”, para crianças. É autora do livro Ponto Quê?, sobre a sexualidade feminina, e de Chamar As Coisas Pelos Nomes, dirigido às famílias sobre como e quando falar sobre sexualidade.