Este período é vivido com ansiedade e com frustração, principalmente quando nos sentimos inseguras em relação à nossa imagem. Os modelos sociais, muitas vezes estereotipados, são os responsáveis por não gostarmos do nosso corpo e da imagem distorcida que fazemos de nós próprias.
Na altura da primavera, os ginásios ficam repletos, as revistas atiram para as capas dicas de exercícios e dietas que parecem ter respostas milagrosas, mas tantas vezes tão pouco eficazes para quem, em pouco tempo, espera tanto.
A pressão dos corpos perfeitos e padronizados é constante e a autoestima parece ser a que se sai pior neste cenário.
A falta ou a baixa autoestima influencia o nosso bem-estar, mas também alimenta uma indústria que enriquece através da venda de serviços e produtos para atingirmos os objetivos que nos traçam quase sem nos apercebermos.
Apesar de a obesidade ser um problema de saúde pública, ninguém pode, nem deve, ser descriminado pelo seu peso ou imagem. Se gordura pode ser sinónimo de maior vulnerabilidade, a magreza extrema também o é.
Multiplicam-se, assim, os movimentos pela visibilidade das pessoas maiores e pesadas que reivindicam a liberdade de se amar como são e sensibilizam para a dificuldade que encontram até para se vestir nas lojas.
A normalização dos corpos é um problema grave que atira muitas mulheres para a angústia e infelicidade. Urge educar, desde cedo, para a auto-aceitação e para práticas saudáveis para todos e todas.
A distorção da imagem corporal pode acontecer muito cedo – é comum encontrarmos crianças que já manifestam desconforto e mal-estar com o seu corpo e que são alvo de violência pelos pares.
Na puberdade, estas dificuldades tornam-se mais preocupantes, com adolescentes em recusa alimentar e ou dietas que podem colocar em risco a sua saúde física e psicológica.
Sempre que chega o verão, e com ele a diminuição da roupa, milhares de mulheres sofrem em silêncio o mal-estar de verem descoberto o que não aceitam, evitando ou diminuindo, muitas vezes, até os contactos sociais com privação de inúmeras situações, como é exemplo uma ida à praia.
Seria importante que as capas das revistas mostrassem corpos diferentes, únicos e especiais, e não falo apenas de peso e tamanho, mas também em toda a sua diversidade.
A diversidade funcional, mais conhecida como deficiência, também é alvo de exclusão das campanhas dos corpos perfeitos. É quase como se nós, mulheres, fôssemos todas bonecas saídas de uma fábrica, descartando-se todas as que saem dos padrões dos tamanhos XS, S, M, L e XL.
Queremos que a educação ajude e apoie as mulheres nesta emancipação corporal, porque é nela que está, em grande parte, a paz que precisamos quando nos confrontamos com o espelho.
Vânia Beliz licenciou-se em Psicóloga Clinica e da Saúde. Mestre em Sexologia e doutoranda em Estudos da Criança na especialidade de Saúde Infantil, participa em projetos no âmbito dos Programas de Educação para a Saúde (PES) e o Projeto de Educação Sexual “A viagem de Peludim”, para crianças. É autora do livro Ponto Quê?, sobre a sexualidade feminina, e de Chamar As Coisas Pelos Nomes, dirigido às famílias sobre como e quando falar sobre sexualidade.