Vivemos, hoje, tempos únicos e desafiadores. Nesta altura, as dificuldades sexuais podem surgir ou acentuar-se perante este cenário de incerteza e de recolhimento. Por isso, reservo este momento para refletir sobre o impacto na nossa intimidade e na forma como podemos ultrapassar algumas dificuldades.
Acredito que, para muitas pessoas, falar de sexo nesta altura possa parecer até descabido, mas é importante sensibilizar que o cenário que nos rodeia pode influenciar e alterar a nossa intimidade. Devemos encarar isso como uma resposta normal ao clima de incerteza que estamos a viver.
Toda a resposta sexual pode ser afetada, desejo, excitação e o prazer. Por isso, no lugar de se culpabilizar ou achar que alguma coisa não está bem, compreenda que é expectável que surjam mais dificuldades.
Falta de Desejo
A falta de desejo pode ser a primeira fase a ser prejudicada. Perante a ansiedade e o stresse, é normal que a cabeça esteja noutro lugar, por isso é importante que se respeite este tempo e não se obrigue a nada. Isto é obviamente válido para os homens, e sublinho isto porque achamos muitas vezes que eles não se abalam com nada, mas isso é falso. Estamos todos perante tantas incertezas que é normal que todos passemos por isto independentemente do nosso sexo.
Aproveitar para ver um filme romântico ou ler um livro erótico pode ajudar a desviar o pensamento de matérias mais preocupantes e despertar o desejo.
Falta de Excitação
Homens e mulheres podem ser surpreendidos pela falta de excitação, de lubrificação, a ereção não chega… Se nos apetecer continuar, podemos sempre recorrer a um lubrificante ou a um estimulador interessante.
Mas, se depois de tantos recursos nada funcionar, não se culpabilize por não ter acontecido, aproveite ainda o tempo frio e entregue-se nos braços do seu parceiro/a e aproveitem para sentir o calor e o outro. Nunca foi tão importante o agora, usufrua dele sem pressa.
Orgasmo
Tantas vezes difícil de conseguir para as mulheres pode, nesta fase, ser uma missão também difícil para os homens. Não se culpe.
Para chegar a esta fase é preciso que as anteriores tenham sido bem-sucedidas, e não há qualquer problema se não chegar ao orgasmo. Aceite que existem muitos fatores que surgiram e que podemos, nesta altura, ter dificuldade em controlar.
A reter…
• Evite pressionar o seu/sua parceiro(a). Cada pessoa gere as situações à sua forma, evite cobrar do outro uma resposta mais ativa;
• Evite passar o dia de pijama em casa;
• Cuide de si e não perca hábitos de autocuidado;
• Aproveite para comunicar mais;
• Programem atividades juntos e em família. É possível, mesmo rodeados de quatro paredes;
• Façam refeições em conjunto, finalmente;
• Desafiem-se para um banho em família, ou depois dos mais novos na cama, a dois;
• Falem das vossas emoções, dos sentimentos.
Existem muitas formas de melhorarmos a nossa intimidade sem que isso passe pelo sexo. Estar próximo do outro, partilhar o que se sente e projetar novos desafios em conjunto podem ser formas de promover um reencontro numa altura em que andávamos todos tão dispersos.
Vânia Beliz licenciou-se em Psicóloga Clinica e da Saúde. Mestre em Sexologia e doutoranda em Estudos da Criança na especialidade de Saúde Infantil, na Universidade do Minho, participa em projetos no âmbito dos Programas de Educação para a Saúde (PES) e o Projeto de Educação Sexual “A viagem de Peludim”, para crianças. É autora do livro Ponto Quê?, sobre a sexualidade feminina, e de Chamar As Coisas Pelos Nomes, dirigido às famílias sobre como e quando falar sobre sexualidade.