Sexo

Crónica. Os homens não são máquinas

Aprenda a Saber Viver sem tabus. Todos os meses, a sexóloga Vânia Beliz promete falar abertamente sobre sexualidade, com o propósito de desmistificar questões associadas ao sexo e à intimidade, e para a fazer pensar e refletir sobre temas que podem, mesmo, mudar a sua vida.

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Crónica. Os homens não são máquinas Crónica. Os homens não são máquinas
© twenty20
Vânia Beliz, cronista
Escrito por
Mar. 23, 2021

Se a forma como somos educadas constrange tantas vezes a nossa sexualidade, a verdade é que também os homens reportam, hoje, muitas dificuldades por causa dos estereótipos que recaem sobre si.

Se antes, a maior parte das mulheres nunca tinha visto um pénis antes do casamento, hoje temos uma liberdade que nos permite experimentar e fazer as mais variadas comparações.

A liberdade que merecemos e conquistámos coloca-nos, muitas vezes, na ótica dos parceiros como avaliadoras, posição desconfortável para os homens ensinados, durante décadas, a terem iniciativa e dominarem os lençóis.

Acreditamos que eles estão sempre prontos e que nada os atrapalha, surpreendemo-nos com esta certeza, mas isto não podia ser mais falso e mais frustrante. Em consulta, tenho tido muitos homens que evitam a intimidade com medo de falhar. Afastam-se simplesmente.

A ideia de que os homens estão sempre prontos e não perdem uma oportunidade é um mito que precisamos reconhecer. Os homens também sofrem a pressão, também se cansam, têm dores de cabeça ou falta de desejo. Os homens também são sensíveis ao stresse, aos problemas no trabalho ou em casa, contudo não falam sobre isso com tanta facilidade.

No sexo, os homens têm muitas vezes a vida complicada e questionam com frequência a sua performance
Vânia Beliz Vânia Beliz

Apesar de continuarem a ter dificuldade em expressar as suas emoções, os homens são igualmente influenciados pelas mulheres. “Não chores! Não tenhas medo! Não sejas mariquinhas!” são expressões que todos os homens já ouviram e que fazem parte da construção das suas personalidades.

Os meninos são, assim, educados desde cedo a reprimirem as suas emoções e a estarem sempre prontos para qualquer oportunidade de relacionamento.

A relação com o pénis é outra dificuldade. Demasiado valorizada, faz com que qualquer contratempo e dificuldade os faça questionar a sua masculinidade. Na hora do sexo, existem homens que também têm dias em que não estão para aí virados.

No sexo, os homens têm muitas vezes a vida complicada e questionam com frequência a sua performance. Assim, uma dificuldade transforma-se, muitas vezes, num problema que tantas vezes os leva ao desespero e à procura de fórmulas milagrosas, algumas muito perigosas.

A venda de suplementos para melhorar a performance sexual é um negócio que se aproveita da fragilidade masculina. Se queremos ajudar os nossos parceiros, assumir que não são máquinas com um botão on e off é uma boa ajuda.

É importante que os incentivemos a falar do que sentem,  sem vergonha. No sexo, evitemos a pressão e perante uma falha ou dificuldade, tornemo-nos parte da solução e nunca do problema.

Vânia Beliz licenciou-se em Psicóloga Clinica e da Saúde. Mestre em Sexologia e doutoranda em Estudos da Criança na especialidade de Saúde Infantil, na Universidade do Minho, participa em projetos no âmbito dos Programas de Educação para a Saúde (PES) e o Projeto de Educação Sexual “A viagem de Peludim”, para crianças. É autora do livro Ponto Quê?, sobre a sexualidade feminina, e de Chamar As Coisas Pelos Nomes, dirigido às famílias sobre como e quando falar sobre sexualidade.

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