A explosão de redes sociais e aplicações, como o Tinder, veio facilitar os encontros e promover relações fugazes. Mas como traçar a fronteira entre uma vida sexual ativa e a dependência de sexo?
Para a sexóloga Vânia Beliz, o conceito de dependência de sexo é polémico. “Observamos artigos americanos que usam o termo adição sexual sobre pessoas que procuram mais parceiros e estão menos tempo em relações duradouras”.
Porém, a sexóloga corrige. “A adição é um termo comercializado, sobretudo na América. Por vezes tira-se partido deste conceito, que tem de ser bem avaliado. Até que ponto é prejudicial para a vida do indivíduo?”. Na opinião do psicólogo Joaquim Quintino Aires, falamos de dependência de sexo quando “comprometemos a nossa atividade laboral para praticar sexo, quando nos afastamos da nossa rede social (família e amigos) para práticas sexuais”.
Sobre a dependência de sexo: “Só penso em sexo. Sou ninfomaníaca?”
Na opinião de Vânia Beliz, esta é uma pergunta de difícil resposta. “Acredito que existem pessoas com mais tendência para um comportamento compulsivo, com alterações ao desejo, e que só conseguem pensar em sexo. Tal pode ter como base vários fatores que precisam ser avaliados individualmente. Podem estar relacionados com experiências de vinculação inseguras, baixa autoestima e confiança, entre outras
Então o que é necessário questionar? “É preciso avaliar se isso está a ser prejudicial para a vida da pessoa e de quem a rodeia. Está a causar problemas na sua vida? Nas pessoas à sua volta? Então é necessário procurar ajuda e perceber de onde vem essa necessidade”, acrescenta a especialista.
Mais homens ou mulheres?
Uma vez que não existem muitos estudos sobre o assunto, torna-se complicado falar em prevalência. Ainda assim, segundo Rui Ferreira Carvalho, interno de Psiquiatria de Infância e Adolescência, podemos estar a falar numa prevalência reportada “de três a seis por cento da população geral, que será até superior a algumas doenças mais raras e com diagnóstico formal, o que levanta a questão: algo existente em quase cinco por cento da população é considerado normal ou anormal? Isso não está definido. Está mais descrito no sexo masculino, com dois a cinco casos para um no feminino. É mais comum na adolescência tardia e início da idade adulta”.
Tinderela e sexting
Muitos dos contos de fadas modernos têm origem no Tinder, mas será que a aplicação que promove os encontros pode ser uma das causas para o problema? Na opinião de Vânia Beliz, veio facilitar a procura, mas em especial facilitar os encontros. “As redes sociais são o que fazemos delas e se o objetivo é procurar sexo, então irá encontrar exatamente isso”.
Rui Ferreira de Carvalho tem vindo a estudar o assunto no âmbito do projeto SexED, um grupo voluntário de jovens médicos, psicólogos e estudantes das áreas da saúde e ciências sociais.
“Podemos estar a falar de um aumento do acesso a diversas redes sociais por adolescentes de forma não supervisionada, sem conhecimento de possíveis riscos e não está bem estabelecida a prática de sexting com a tomada de risco. Muitos menores não estão cientes das ramificações legais que o sexting pode ter – posse de pornografia infantil ou consequências sociais como humilhação, bullying.
Porém, o investigador prefere uma visão perspetiva mais positiva. “Não devemos ser castradores, uma vez que podemos estar perante um novo processo a que só nesta geração tivemos acesso: um desenvolvimento sexual emergente e pode existir uma relação positiva de relação sexual, com a relação a tornar-se mais forte. É importante debater os prós e contras destas problemáticas”.
Há tratamento?
Segundo Vânia Beliz, este pode passar pela “prescrição clínica de fármacos que inibam o desejo e diminuam a ansiedade e pela psicoterapia”.
O primeiro passo, na opinião de Quintino Aires, é perceber o que acontece àquela pessoa em particular. “O que o fez procurar no ambiente de uma forma excessiva e a comprometer a sua vida social e laboral, quer estejamos a falar de pornografia na Internet ou encontros de forma quase compulsiva no Tinder (…) Estes casos são tratados em programas de desenvolvimento pessoal, com recurso a exercícios de estimulação cerebral através de atividades realizadas entre o terapeuta e o cliente. Na maioria dos casos, este tipo de intervenção é efetiva e por isso sem necessidade de uma intervenção psicoterapeuta no sentido clássico”.
Texto: Sónia Ramalho
Já conhecia estas informações sobre dependência de sexo? Saiba ainda quais as alturas em que deve evitar fazer sexo.