Dependência de sexo: quando é que as relações sexuais são um vício?

Dependência de sexo: quando é que as relações sexuais são um vício?

No mês mais romântico do ano, falamos de dependência de sexo. Será que há uma linha que separa uma vida sexual ativa de uma dependência? Falámos com especialistas sobre Tinder, sexting e pornografia.

Por Fev. 15. 2018

A explosão de redes sociais e aplicações, como o Tinder, veio facilitar os encontros e promover relações fugazes. Mas como traçar a fronteira entre uma vida sexual ativa e a dependência de sexo?

Para a sexóloga Vânia Beliz, o conceito de dependência de sexo é polémico. “Observamos artigos americanos que usam o termo adição sexual sobre pessoas que procuram mais parceiros e estão menos tempo em relações duradouras”.

Porém, a sexóloga corrige. “A adição é um termo comercializado, sobretudo na América. Por vezes tira-se partido deste conceito, que tem de ser bem avaliado. Até que ponto é prejudicial para a vida do indivíduo?”. Na opinião do psicólogo Joaquim Quintino Aires, falamos de dependência de sexo quando “comprometemos a nossa atividade laboral para praticar sexo, quando nos afastamos da nossa rede social (família e amigos) para práticas sexuais”.

Sobre a dependência de sexo: “Só penso em sexo. Sou ninfomaníaca?”

Na opinião de Vânia Beliz, esta é uma pergunta de difícil resposta. “Acredito que existem pessoas com mais tendência para um comportamento compulsivo, com alterações ao desejo, e que só conseguem pensar em sexo. Tal pode ter como base vários fatores que precisam ser avaliados individualmente. Podem estar relacionados com experiências de vinculação inseguras, baixa autoestima e confiança, entre outras

Então o que é necessário questionar? “É preciso avaliar se isso está a ser prejudicial para a vida da pessoa e de quem a rodeia. Está a causar problemas na sua vida? Nas pessoas à sua volta? Então é necessário procurar ajuda e perceber de onde vem essa necessidade”, acrescenta a especialista.

Mais homens ou mulheres?

Uma vez que não existem muitos estudos sobre o assunto, torna-se complicado falar em prevalência. Ainda assim, segundo Rui Ferreira Carvalho, interno de Psiquiatria de Infância e Adolescência, podemos estar a falar numa prevalência reportada “de três a seis por cento da população geral, que será até superior a algumas doenças mais raras e com diagnóstico formal, o que levanta a questão: algo existente em quase cinco por cento da população é considerado normal ou anormal? Isso não está definido. Está mais descrito no sexo masculino, com dois a cinco casos para um no feminino. É mais comum na adolescência tardia e início da idade adulta”.

Tinderela e sexting

Muitos dos contos de fadas modernos têm origem no Tinder, mas será que a aplicação que promove os encontros pode ser uma das causas para o problema? Na opinião de Vânia Beliz, veio facilitar a procura, mas em especial facilitar os encontros. “As redes sociais são o que fazemos delas e se o objetivo é procurar sexo, então irá encontrar exatamente isso”.

Rui Ferreira de Carvalho tem vindo a estudar o assunto no âmbito do projeto SexED, um grupo voluntário de jovens médicos, psicólogos e estudantes das áreas da saúde e ciências sociais.

“Podemos estar a falar de um aumento do acesso a diversas redes sociais por adolescentes de forma não supervisionada, sem conhecimento de possíveis riscos e não está bem estabelecida a prática de sexting com a tomada de risco. Muitos menores não estão cientes das ramificações legais que o sexting pode ter – posse de pornografia infantil ou consequências sociais como humilhação, bullying.

Porém, o investigador prefere uma visão perspetiva mais positiva. “Não devemos ser castradores, uma vez que podemos estar perante um novo processo a que só nesta geração tivemos acesso: um desenvolvimento sexual emergente e pode existir uma relação positiva de relação sexual, com a relação a tornar-se mais forte. É importante debater os prós e contras destas problemáticas”.

Há tratamento?

Segundo Vânia Beliz, este pode passar pela “prescrição clínica de fármacos que inibam o desejo e diminuam a ansiedade e pela psicoterapia”.

O primeiro passo, na opinião de Quintino Aires, é perceber o que acontece àquela pessoa em particular. “O que o fez procurar no ambiente de uma forma excessiva e a comprometer a sua vida social e laboral, quer estejamos a falar de pornografia na Internet ou encontros de forma quase compulsiva no Tinder (…) Estes casos são tratados em programas de desenvolvimento pessoal, com recurso a exercícios de estimulação cerebral através de atividades realizadas entre o terapeuta e o cliente. Na maioria dos casos, este tipo de intervenção é efetiva e por isso sem necessidade de uma intervenção psicoterapeuta no sentido clássico”.

Texto: Sónia Ramalho


 

Já conhecia estas informações sobre dependência de sexo? Saiba ainda quais as alturas em que deve evitar fazer sexo.

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