Depois de ficar viúva, Nancy, uma professora aposentada, decide contratar um prostituto para ter um orgasmo, algo que nunca tinha experienciado. Esta é a história do filme Boa Sorte, Leo Grande, com Emma Thompson no papel principal, mas poderia ser uma história verídica, como nos faz crer o estudo liderado por Elisabeth Lloyd, investigadora da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos da América, que analisou 52 mil indivíduos.
Ora vejamos: 10% das mulheres diz nunca ter atingido um orgasmo; apenas 35% das heterossexuais consegue atingir o orgasmo só com a penetração; já 80% das mulheres na mesma condição e 91% das mulheres lésbicas afirmam ter um orgasmo quando combinam estimulação genital, beijos profundos e sexo oral.
No que diz respeito aos homens, 95% atinge o orgasmo quando tem relações sexuais.
Apenas 35% das mulheres consegue atingir o orgasmo só com a penetração
Deixar-se ir
As pesquisas mostram que a maioria das mulheres não tem qualquer problema físico que as impeça de atingir o orgasmo, mas essa incapacidade está associada à sua própria forma de ver a sexualidade, tabus, pouca comunicação com o parceiro e também com experiências sexuais anteriores negativas.
“Para muitas mulheres, o diálogo interno negativo e a má imagem corporal podem prejudicar a capacidade de se libertarem totalmente e sentirem prazer”, afirma Megwyn White, sexóloga e diretora de educação da Satisfyer, empresa de dispositivos de bem-estar sexual.
Convém lembrar que “o orgasmo pode ser influenciado por diversos fatores, além dos físicos; contam também fatores emocionais e psicológicos”, acrescenta, avisando que não existe um passo a passo para atingir o clímax “por causa da sua subtileza”.
Mas a boa notícia é que há várias coisas que as mulheres e os homens podem fazer para aumentar a probabilidade de tê-los, e Megwyn White enumera-as:
1. Ninguém pode ‘dar-lhe’ um orgasmo
“Não é algo que recebe de outra pessoa, como chocolate ou flores. É algo que gera ao ser capaz de se ‘deixar ir’ e ‘ceder’ à experiência do prazer em cada momento”, afirma.
“Não é que o toque do seu parceiro não seja importante, mas uma vez que perceba que o orgasmo é um trabalho interno e um processo de autodescoberta, pode realmente aprender a melhorar a experiência orgástica”, acrescenta a especialista.
2. Comunicação
“Em primeiro lugar, a comunicação é fundamental quando se trata de prazer. Os casais precisam de ser capazes de falar abertamente sobre o que é bom e o que não é prazeroso. Ser honesta e aberta com o parceiro é uma ótima maneira de construir confiança e intimidade”, começa.
“Além disso, tente usar dicas não verbais quando for apropriado, pois dizer explicitamente o que deseja do seu parceiro durante o sexo pode ser um desafio, especialmente se ele se sentir constrangido ou julgado. É importante aprender a ser compassiva e diplomática com o seu parceiro e usar uma linguagem encorajadora que ajude a guiá-lo para áreas que lhe são particularmente agradáveis”, explica.
3. Concentre-se no prazer e não no orgasmo
“É melhor evitar concentrar-se apenas nos orgasmos porque tendem a desaparecer no instante em que tenta gerá-los. Se ter um orgasmo é o foco, isso pode levar a uma ansiedade crescente, o tiro pode sair pela culatra e tornar o orgasmo muito mais desafiador. Em vez disso, concentre-se na intimidade e no prazer entre si e o seu parceiro.”
4. Conheça seu corpo, especialmente o clitóris
“É fundamental que a mulher conheça as zonas erógenas do seu corpo, principalmente o clitóris. Estima-se que até 70% das mulheres necessitem de alguma forma de estimulação do clitóris para chegar ao orgasmo”, afirma Megwyn White.
“Aquele órgão é uma chave para o prazer e pode ser estimulado diretamente através da glande do clitóris ou por estimulação indireta. É aqui que os dispositivos de bem-estar sexual podem ajudar. Experimente um brinquedo e torne-o uma prática para aprender mais sobre o seu corpo”, aconselha.
5. Antecipe-se
“As mulheres costumam ser lentas quando se trata de prazer. Levam aproximadamente 14 minutos para atingir o orgasmo durante o sexo com um parceiro e oito minutos durante a masturbação. É, por isso, que é sempre bom envolver-se em preliminares, beijos, fantasias e edging [parar quando se está quase a atingir o clímax].”
Na prática
Desbloquear o orgasmo de dentro para fora é possível e, para a sexóloga Megwyn White há uma palavra-chave para isso, a incorporação sensual.
“É uma prática poderosa que pode ajudar a experimentar orgasmos mais gratificantes. Implica estar totalmente presente no seu corpo e envolver-se ativamente em experiências prazerosas. Quando estamos desconectados, experimentar o prazer e a excitação sexual pode ser um desafio”, refere.
Pelo contrário, continua, “ao praticar a incorporação, pode-se desenvolver um relacionamento mais positivo com o corpo, o que pode melhorar a capacidade de sentir e expressar prazer”.
A sexóloga aconselha a:
1. Conectar-se com a sua respiração
“Quando uma mulher está conectada com sua respiração, fica mais sintonizada com os diferentes aspetos do prazer, como sensações, emoções, tensão e alívio. De acordo com uma pesquisa feita pela OMGyes, 44% das mulheres disse que a respiração aumentou drasticamente a sua capacidade de atingir o orgasmo“, explica.
“Ao aprofundar a respiração, a mulher também pode estimular indiretamente o clitóris, usando os músculos do soalho pélvico. Além disso, a respiração pode ajudar a desacelerar a mente e redirecionar a experiência para onde deseja, que é o corpo”, continua.
“Em geral, as mulheres precisam de relaxar e desacelerar a respiração para aprofundar o prazer. A maneira como respiramos pode ampliar as sensações e o prazer durante a atividade sexual. Respirações profundas e lentas podem ajudar-nos a permanecer presentes nos nossos corpos e abraçar as sensações”, afirma a especialista.
2. Explorar a técnica belly press
“No caso de não haver estimulação adequada do clitóris, a mulher também pode estimulá-lo indiretamente através de técnicas como a pressão abdominal, pressionando levemente a parte inferior do abdómen, para ajudar a estimular indiretamente o ponto G”, informa.
“Quando se faz uma pressão suave na parte inferior da barriga com a mão ou brinquedo sexual pode estimular-se indiretamente o ponto G através da matriz fibrosa do tecido conjuntivo, que se estende pelas regiões abdominal e pélvica. As fibras nervosas e vasos sanguíneos do tecido conjuntivo transmitem mensagens entre as diferentes partes do corpo”, explica a sexóloga.
“Além disso, pode-se estimular os músculos e tecidos que estão ligados ao ponto G para ajudar a criar um efeito cascata de prazer que pode irradiar pelo corpo”, termina.
3. Usar a sua voz
“Quando usamos a nossa voz no contexto do prazer e respondemos com murmúrios suaves ou variações mais intensas de tom, isso pode ter um efeito profundo na nossa experiência“, afirma Megwyn White.
“Não só pode ajudar a conectarmo-nos com as nossas emoções, mas também pode estimular o nervo vago, que desempenha um papel fundamental na regulação da excitação corporal. A voz pode atuar como um condutor, guiando e direcionando os sinais enviados pelo nervo já citado. Ao usar a voz para expressar prazer ou excitação, pode aumentar a intensidade das sensações”, finaliza.