Quando falamos em masturbação, raramente colocamos a palavra sexo à mistura. É quase como se vivessem separados um do outro, associados a modos de vida completamente diferentes.
A masturbação é considerada um ato solitário, por norma associada ao sexo masculino e repulsiva por parte das mulheres. É ainda um tabu, enquanto o sexo é visto como uma conquista, um ritual de passagem necessário para se ter uma vida sexual ativa.
Mas e se houver pessoas que preferem a masturbação ao sexo? De que forma é que podemos aceitar esta realidade?
Falámos com a sexóloga Vânia Beliz, que nos explicou como a masturbação pode ser essencial como ato sexual na vida de um casal, bem como realçou a necessidade de normalizar esta prática. Descubra tudo!
É normal preferir a masturbação ao sexo?
Masturbação: ato privado sem ser inibido
A masturbação é um tópico que já vem acompanhado dos seus próprios pré-conceitos. Um dos mais conhecidos é talvez a opinião de que este é como se “fosse algum ato de serviço para compensar a falta de parceiro, a falta de prazer ou o mau sexo”, refere Vânia Beliz.
No entanto, masturbar-se pode ser um ato sexual por si só, embora muitos não o considerem. A sexóloga considera ainda que o facto de ter uma parceira ou um parceiro não impede o ato de masturbação.
“A masturbação deve ser vista como o autoconhecimento, como uma prática que pode ajudar na relação penetrativa a atingirmos o orgasmo”, explica.
Para esclarecimento, a masturbação não deve ser vista como um ato negativo, nem deve ser desaconselhada. Embora seja algo associado mais aos homens e praticamente reprimido nas mulheres, a verdade é que ambos os sexos podem beneficiar bastante da autoestimulação sexual.
Sexo vs. Masturbação. Qual ganha?
A componente sexual dentro de uma relação amorosa é considerada por muitos essencial. É uma parte privada que deve estar sempre em concordância com os desejos de todas as partes.
Se vê na masturbação um ato sexual mais confortável, não se deve inibir, mas também há maneiras de o incluir na sua vida sexual com um parceiro ou parceira.
A verdade é que ainda existe um entrave grande na sociedade, que não consegue ver a masturbação como um ato normal. Vânia Beliz admite que “muitos casais têm dificuldade em aceitar que o outro se autoestimula”. Por isso, talvez esteja na hora de mudar a perspetiva que temos da masturbação.
A sexóloga afirma ainda que existem pessoas que “preferem ficar na estimulação, sem haver penetração e não há problema nenhum nisso, se as pessoas envolvidas estiverem bem com isso”. Referiu ainda que “há cada vez mais casais que se autoestimulam durante o sexo. Nós chamamos da heteromasturbação: a masturbação ao outro. E isso é muito positivo do ponto de vista dos preliminares”.
Se olha para a masturbação e o sexo como práticas sexuais distintas, pode estar enganada. Na maioria, a sociedade vê o sexo como uma atividade penetrativa, quando na realidade, segundo Vânia Beliz, “a atividade sexual pode ser só a estimulação um ao outro e pode ser um complemento muito gratificante”.
É “uma prática de descobrimento e de autoconhecimento que pode ser partilhado, que deve ser partilhado, que pode permitir muita intimidade“, disse ainda.
Benefícios da masturbação
O prazer é capaz de ser o principal benefício da masturbação. “Quando eu me autoestimulo, sei os meus sítios de prazer, tenho um conhecimento o meu corpo”, afirma Vânia Beliz. Segundo a sexóloga, isto impulsiona a que o orgasmo seja atingido mais facilmente.
“As mulheres reportam que somente com a penetração é difícil para elas atingir o orgasmo, mas quando associam a estimulação feita por elas, ou feita pelos parceiros ou parceiras no clitóris, aumenta muito a possibilidade de elas atingirem o orgasmo”, afirma Vânia Beliz.
O mesmo se aplica aos homens, que se se habituarem a um certo ritmo ou pressão, o orgasmo através da masturbação pode ser atingido de forma mais fácil.
Pessoas que têm o hábito de se masturbarem com frequência, também acabam por sentir menos desejo sexual com parceiro ou parceira. Isto leva a que a masturbação seja o ato de eleição para satisfazer os desejos sexuais e não há problema nenhum nisso. Garanta apenas que, se estiver numa relação, o seu parceiro está bem com isso.
No fundo, é necessário lutar contra o estigma formado em relação à masturbação. É uma fonte de autoconhecimento necessária e não existe problema algum em preferir a autoestimulação a sexo (até lhe pode dar mais prazer!).