Ejaculação feminina: o que é e como acontece?
Este é um assunto tabu, muito em parte porque ainda é encarado como um mito. A ejaculação feminina existe mesmo? Falámos com duas especialistas para perceber.
Ao ler, ouvir e dizer a palavra ‘ejaculação’ associamos, indiscutivelmente, aos homens. É o ponto máximo de prazer que, na maioria das vezes, marca o fim da relação sexual. Quando falamos de ejaculação feminina, o termo soa estranho e o seu conceito supõe algumas dúvidas: as mulheres conseguem mesmo ejacular? E porque não conseguem todas? O processo é igual ao dos homens?
Foi isto que tentámos descobrir.
O que é a ejaculação feminina?
É a expulsão de um fluido durante a relação sexual que se assemelha a urina, ainda que não se conheça bem a sua composição. É curioso ver o quanto este conceito mudou durante anos e como ainda hoje há tantas teorias em relação a este assunto.
Havelock Ellis, um psicólogo britânico, começou a estudar o tema em 1904, altura em que sugeriu que a ejaculação feminina era equivalente ao sémen e que era originada nas glândulas de Bartholin – as responsáveis pela lubrificação vaginal.
Há mesmo documentos que mostram que o próprio Aristóteles tinha curiosidade em descobrir a origem dos fluidos vaginais e como é que estes aconteciam.
Cinquenta anos depois, o médico alemão Ernest Gräfenberg observou várias mulheres a masturbarem-se e descobriu que a expulsão de fluido pela uretra tinha muito pouco a ver com a lubrificação e que estes dois fatores não estavam relacionados. A ejaculação ocorria mais frequentemente quando as mulheres tocavam na zona erógena chamada Gräfenburg spot, mais tarde apelidado de ponto G.
Num estudo publicado em 1993, é ainda escrito que durante muitos anos, as mulheres eram aconselhadas a não ter atos sexuais para não provocar a ejaculação e que eram aconselhadas a fazer a cirurgia para a incontinência urinária.
O conceito ainda hoje é estudado e já se fez alguns avanços sobre o tema. Afinal, é a ejaculação é um mito ou existe mesmo?
As mulheres ejaculam?
Recentes estudos afirmam que a ejaculação feminina não passa de um mito que não é mais do que a libertação involuntária de urina. Porém, são vários os especialistas que contradizem esta descoberta.
“A maior parte dos estudos tem amostragens reduzidas porque reproduzir o comportamento sexual em laboratório é uma tarefa difícil, dado a componente mental e emocional do ato sexual”, afirma a médica ginecologista Sílvia Roque à Saber Viver.
Ainda que exista essa dificuldade, a verdade é que já há explicação para que isto aconteça. “Alguns casos relatados em estudos científicos, indicam que esse líquido terá vestígios de urina e em outros casos a presença de substância produzida pelas glândulas Skene que fica ao lado da uretra”, refere à Saber Viver a sexóloga e autora do livro Manual de Sedução Vera Ribeiro.
As glândulas Skene são, assim, as responsáveis por este processo que não acontece com todas as mulheres. “Todas as mulheres têm glândulas de Skene, no entanto, estão mais desenvolvidas em algumas, e noutras são só um tecido rudimentar e pouco desenvolvido. Segundo as últimas teorias, são responsáveis por libertar um líquido que representa a ejaculação feminina durante o ato sexual”, explica a ginecologista.
A semelhança com o sistema reprodutor masculino é apenas esta. Como nos diz Vera Ribeiro, “as glândulas Skene são similares à glândula prostática masculina”, daí que de facto se chame ejaculação a este processo, ainda que funcione de forma diferente da dos homens.
Em que consiste, afinal?
Quanto ao líquido que é expelido, as teorias já foram muitas. No início do século XX pensava-se que era apenas urina, hoje, as dúvidas ainda não foram totalmente resolvidas, mas sabe-se que não pode ser integralmente constituído por urina.
“Muitos estudos acreditam que a ejaculação feminina não passa de lubrificação excessiva durante o orgasmo. As principais responsáveis pela lubrificação vaginal, as glândulas de Bartholin, localizadas entre a parede vaginal e a vulva, têm a função de efetuar a lubrificação do canal vaginal, preparando-o para o ato sexual. No entanto, a ejaculação feminina é um fenómeno completamente diferente”, clarifica a médica Sílvia Roque.
Quanto à sua consistência, a sexóloga Vera Ribeiro refere que “pode ser mais assemelhado a urina do que muco vaginal.” Porém, a ginecologista garante que não é urina por ter um cheiro e cor muito específicos, e este líquido libertado é incolor e não tem qualquer cheiro. A sua composição ainda não foi totalmente identificada.
Porque é que há mulheres que conseguem ejacular e outras não?
Este não é um fenómeno comum a todas as mulheres. Um estudo norte-americano mostrou que 40% a 54% das mulheres já experienciou a expulsão de fluidos provenientes da uretra alguma vez na vida.
Na investigação que juntou 233 mulheres, 14% disse que ejaculou ao mesmo tempo que teve um orgasmo. 54% afirmou que já tinha ejaculado pelo menos uma vez na vida.
Segundo Sílvia Roque, “como todas as mulheres possuem glândulas de Skene, teoricamente todas deveriam conseguir ejacular”. Mas não é isto que acontece. Tudo depende da intensidade da sua sexualidade e com o facto de conhecer bem ou mal o seu próprio organismo.
“O mecanismo da ejaculação não está ainda bem claro. A libertação de secreções pelas glândulas de Skene surge de forma involuntária, a estrutura muscular que existe responde involuntariamente a um momento do orgasmo que corresponde à contração muscular de toda a região muscular pélvica”, esclarece a especialista.
A relação com o ponto G e com o orgasmo
Afinal, qual é a relação entre a ejaculação e o orgasmo? Depende muito de mulher para mulher, mas há diferentes formas de o conseguir.
“Estimular o ponto G não é a única forma para conseguir ejacular. O ponto G é uma estrutura com ramificações de tecido eréctil do clitóris na parede anterior da vagina, muito próximo das glândulas periuretrais”, afirma Sílvia Roque.
Porém, tanto a sexóloga como a médica ginecologista asseguram que a ejaculação pode ser conseguida apenas externamente, pressionando o clitóris e a uretra, não tendo de haver necessariamente penetração.
É também possível provocá-la, ainda que dependa também da anatomia de cada uma, uma vez que as glândulas Skene podem estar mais desenvolvidas em certos organismos do que outros. “Com uma boa aprendizagem da anatomia e da estimulação da zona do clitóris e das glândulas periuretrais podem aprender a provocar a ejaculação feminina”, confirma a ginecologista.