A Internet está inundada de perguntas relacionadas com o sexo oral. Como se faz? É bom? A que sabe? Preciso de proteção? E os pelos? Uso lubrificante? No fundo, a world wide web é só um espelho das questões que todas temos ou já tivemos, nalguma fase das nossas vidas.
Mas este não é um tema corriqueiro, engane-se quem assim pensa. Trata-se de algo bem mais profundo e com uma influência extrema no bem-estar do próprio, do outro e da relação. Mexe com a nossa autoestima e com as inseguranças que a assaltam; com o autoconhecimento que temos de nós próprios e, claro, com desejos e vontades – nossas e do nosso companheiro.
As crenças que nos acompanham podem contribuir para uma auto sabotagem, muitas vezes, difícil de descortinar. São perspetivas e formas de pensar o mundo que nos podem levar à insatisfação. Urge a necessidade de estarmos muito atentas e quiçá, procurar ajuda especializada para um entendimento mais holístico.
É essencial que a mulher se compreenda, primeiro que tudo. Se conheça, anatomicamente, fisiologicamente e mentalmente, se aceite e perceba a sua disponibilidade sexual. Depois é necessário que conheça o outro com a mesma profundidade e que ambos saibam de cor os enlaces que fazem a sua relação.
Aqui, a comunicação é tudo. O ex libris da sexualidade não será tanto a performance, mas a forma como comunicamos o sexo, na intimidade. Na verdade, a comunicação é a chave para qualquer relacionamento, não só no campo sexual, mas também.
Assim, surge a questão que se impõe: devemos ou não devemos pedir ao nosso parceiro que nos faça sexo oral, caso seja esse o nosso desejo?
Para elaborarmos uma resposta a esta questão e a pensarmos de forma pouco simplista, falámos com Catarina Canelas Martins, psicóloga clínica e terapeuta Emdr, na clínica de psicologia e coaching Learn2be. Tirámos as nossas (suas) dúvidas, criando um contexto e espaço explicativo e reflexivo para a envolvência da questão. Siga-nos.
O Tabu do Sexo
Em pleno século XXI e recém-entrados na nova década, há assuntos que ainda custam. Mas não deviam, tal a naturalidade da sua génese. “Tabu” no dicionário linguístico refere-se a interdito, proibido ou sagrado. Será o sexo alguma destas coisas?
A verdade é que o clima aquece ainda mais quando se fala em prazer feminino, muito tratado socialmente como o parente pobre dos prazeres da relação sexual, em prol do prazer do homem. Porque será que esta conversa incomoda tanto?
“Provavelmente por questões culturais e religiosas, o prazer feminino ainda é um tema que precisa de ser muito falado e isso verifica-se na forma como muitas mulheres lidam com o tema, nas crenças que manifestam relativamente à sexualidade e até no desconhecimento do próprio corpo e seu funcionamento” explica-nos Catarina Canelas Martins.
Mas se falar com os outros – e por “outros” entendemos o público em geral, a nossa família e até alguns dos nossos amigos – se torna uma tarefa desconcentrante, tantas vezes, o que dizer do entendimento com os nossos parceiros?
“Com os parceiros poderá existir um ambiente de maior intimidade onde é propício e saudável falar sobre a sexualidade, contudo, se para a pessoa o tema é tabu, na relação amorosa poderá existir uma maior dificuldade em falar abertamente sobre medos, inseguranças, desejos, necessidade e, consequentemente, será um tema que poderá originar dificuldades na vivência da sexualidade do casal” afirma a psicóloga.
Quer isto dizer que se não estamos resolvidas connosco mesmas, mais difícil será abordar todo um rol de emoções ligadas ao sexo com o nosso parceiro. Há o trabalho de casa individual e só depois vem o trabalho de grupo, por assim dizer.
Aqui, a psicologia pode ter um papel preponderante pois, segundo a terapeuta, “o autoconhecimento muitas vezes promovido pela psicoterapia poderá potenciar a capacidade de comunicar com o parceiro e melhorar, consideravelmente, a relação”.
Afinal, devemos ou não pedir sexo oral aos nossos parceiros?
Quando questionada diretamente, a Catarina Canelas Martins responde pronta e enfaticamente “A resposta é indiscutivelmente sim! Devemos conversar com o nosso parceiro e explorar a dois aquilo que para ambos é agradável, procurando um entendimento que se vai construindo ao longo da relação”, acrescentando que na relação sexual “vale tudo aquilo que for aceite pelas pessoas que nela participam”.
As vantagens desta forma de sexo são indiscutíveis: “deve ser um meio para atingir o prazer se assim for desejado”, pois na verdade “qualquer forma de estimulação do clitóris será um caminho para a mulher atingir o seu orgasmo e para a relação sexual ser satisfatória para ambos”, desenvolve a profissional de saúde.
A verdade é que ainda existe muito a crença de que só com a penetração é possível chegar ao orgasmo, pelo que se gera um motivo de frustração, desnecessária, entre o casal. O sexo oral, pode, de facto, ter aqui o seu momento de estrelato.
Um futuro promissor
Agora que já sabe que pode (e deve) falar com o seu parceiro se desejar que este lhe proporcione sexo oral, quais as condições necessárias para o fazer?
“Falar com o parceiro requer uma relação de confiança, respeito e aceitação. Se estas condições estiverem reunidas, a conversa será uma porta para a felicidade do casal, nomeadamente da sua vida sexual” explica a psicóloga.
Esta questão leva-nos novamente à temática da comunicação e Catarina Canelas Martins não tem dúvidas que “casais que comunicam apresentam uma maior satisfação com as várias áreas da sua vida relacional” e isto ocorre mesmo que, por vezes, não exista concordância.
Na prática então como devemos fazer este comunicado? “Deve-se começar por perceber o que se sente e precisa, e ainda, perceber aquilo que o outro precisa de saber para chegar até nós”. Ou seja, para além do autoconhecimento que devemos ter de nós mesmas, é necessário conseguir passar essa informação de forma clara ao outro.
A verdade é que este canal aberto na comunicação do casal pode transformar a relação dos dois, elevando a sexualidade a um patamar tal em que “um maior entendimento de parte a parte possa prevenir inseguranças, crenças, ou outras questões que limitem o potencial da relação” como explica a psicologia, pela voz de Catarina Canelas Martins.
Já falei com o meu parceiro, e agora?
“Agora aproveitem! Se tem um parceiro ao seu lado que a compreende, aceita e está disponível a construir uma relação saudável consigo, fantástico!” refere de sopro e termina a nossa conversa, acrescentando, sensatamente, que se a própria não se sentir ouvida, compreendida e aceite e “a pessoa que estiver ao seu lado não se mostrar recetiva à construção de uma relação satisfatória para ambas as partes” então talvez seja tempo de, corajosamente, repensar toda a relação.