As perguntas que sempre quisemos fazer sobre o orgasmo feminino
Conversámos com duas psicólogas clínicas e sexólogas sobre o tema do orgasmo feminino para desmistificar um assunto ainda considerado tabu por algumas mulheres.
Tentar encontrar regras sobre o orgasmo, acreditar em clichés ou ter a cabeça cheia de preconceitos é contraproducente em matéria de prazer. É importante libertar-se da pressão em tudo na vida… até no orgasmo.
Chamar as Coisas pelos Nomes foi o que fez neste diálogo Vânia Beliz, lembrando o título do seu mais recente livro, enquanto Vera Ribeiro, autora do Manual de Sedução, deixou ideias práticas para quem quer saber mais sobre prazer.
Sobre um ponto não existem dúvidas para estas especialistas que têm desconstruído preconceitos em Portugal: a fantasia desempenha um papel imprescindível no caminho para o orgasmo feminino. Mas o maior de todos os segredos é a consciência de que somos únicas e cada uma deve viver o prazer com liberdade e à sua medida.
Conheça estas e outras ideias de quem sabe do que fala quando o assunto é a complexa sexualidade feminina.
10% das mulheres não consegue atingir o orgasmo
Tudo o que precisamos de saber sobre orgasmo feminino
1. Existem diferentes tipos de orgasmo feminino?
Vera Ribeiro: Habitualmente designam-se o orgasmo vaginal (por estimulação através da penetração) e o clitoriano (estimulação através do clítoris).
Vânia Beliz: Prefiro falar de diferentes formas de estimulação para se conseguir atingir o orgasmo. A ciência indica que o orgasmo é uma resposta final à excitação e a forma de chegar lá pode ser diferente, por estimulação clitoriana ou da vagina. O que causa prazer dentro da vagina também é a continuidade da estrutura clitoriana, além de toda a sensibilidade que tem em determinadas zonas. Como não somos todas iguais, há mulheres que têm estruturas clitorianas mais desenvolvidas, o que pode influenciar no prazer.
2. É fácil atingir o orgasmo?
Vânia Beliz: Por vezes existe a ideia de que é fácil, quando, na verdade, muitas mulheres mostram dificuldades. As estatísticas dizem que 10% das mulheres não consegue atingir o orgasmo. Também existe quem nunca tenha conseguido chegar ao orgasmo sozinha através da estimulação e tenha pouco conhecimento da sua genitália. É muito importante que as mulheres se conheçam a si próprias e se sintam à-vontade com o seu corpo, percebendo que somos todas diferentes e que não importa a forma como chegamos ao orgasmo, o importante é que cheguemos lá.
3. A fase da vida em que estamos influencia o orgasmo?
Vânia Beliz: O orgasmo está relacionado com o estilo de vida e a fase em que estamos. Quando somos mais novas, o orgasmo é diferente de quando temos mais idade e a maturidade pode até contribuir para que seja melhor. Vamos tendo alterações da nossa resposta sexual ao longo da vida e de acordo com as situações, como por exemplo, na gravidez, pós-parto ou quando tomamos uma medicação.
Existem épocas em que temos orgasmos muito exclusivos, outras em que são menos intensos. O que interessa é perceber que existe sempre forma de melhorar e aceitar que existem momentos em que simplesmente não se consegue atingir o orgasmo.
4. Qual a importância do estado psicológico da mulher para conseguir atingir o orgasmo?
Vera Ribeiro: É de extrema importância, para não dizer total. Se psicologicamente a mulher não estiver apta para ter uma relação sexual, muito dificilmente obterá prazer na relação. O orgasmo não é uma resposta automática, mas sim um conjunto de fatores que interagem entre si, proporcionando uma resposta prazerosa.
5. Os orgasmos múltiplos são comuns?
Vera Ribeiro: Não são comuns. Mesmo a mulher que consegue atingir orgasmos múltiplos, nem sempre tem essa capacidade. Acredita-se que algumas mulheres tenham maior predisposição para a obtenção de mais do que um orgasmo por relação, seja por um aumento de excitabilidade ou por razões físicas. Não existe uma indicação de estímulo/resposta que se possa associar e que ajude na obtenção de orgasmos múltiplos.
Vânia Beliz: É uma questão que levanta muita polémica. Existem pessoas que têm orgasmos mais exclusivos e que acabam por concentrar toda a energia num momento único. E há mulheres em que esse orgasmo é mais repartido. Já tenho ouvido relatos de mulheres que conseguem orgasmos múltiplos, mas não é uma situação muito comum, pelo menos daquilo que as mulheres me contam. Podem existir mulheres que atinjam o orgasmo e lhes apeteça parar e outras que continuam e conseguem atingir o orgasmo mais vezes. Depende de cada mulher.
6. Como chegar com mais facilidade ao orgasmo?
Vera Ribeiro: É fundamental ter a mente limpa, ou seja, naquele momento devemos estar exclusivamente centradas na relação com o(a) parceiro(a), tranquilas, não colocando a exigência de “tenho que ter um orgasmo”. Conhecer bem todo o seu corpo (saber o que gosta e não gosta, as zonas de maior prazer ou desconforto), aceitar-se tal como é, ser verdadeira consigo mesma e com quem partilha a relação, deixar-se guiar pelos seus sentidos e emoções no momento a dois são fatores positivos para a sexualidade.
7. Que papel desempenham as fantasias no orgasmo feminino?
Vera Ribeiro: É necessário alimentar os desejos, e a fantasia está associada à capacidade de ter prazer na relação. A mulher deverá estimular o imaginário sexual, sem preconceito ou juízos de valor. Não somos máquinas prontas a ter relações, precisamos de um imaginar. A mulher deve ser o mais natural possível, ter uma atitude com a qual se identifica e sente bem.
Vânia Beliz: A mulher pode imaginar mil coisas que ficam apenas no seu pensamento. O que surge na cabeça das pessoas na hora H pode ser tão diferente de uns dias para outros, de umas pessoas para as outras… Os instintos são difíceis de controlar e quando estamos a ter um orgasmo, até nos pode vir à mente algo ou alguém que nunca suspeitaríamos.
8. Se apenas conseguirmos atingir o orgasmo numa posição, o que devemos fazer?
Vânia Beliz: As mulheres não devem estar preocupadas com o modo como atingem o orgasmo, o importante é que sintam prazer. A forma como somos estimuladas influencia muito a forma como chegamos ao orgasmo e daí preferirmos determinadas posições para potenciar a estimulação.
Vera Ribeiro: É importante explorar diferentes posições. Como maioritariamente os orgasmos são clitorianos, as mulheres procuram posições que favorecem mais esse contacto. Para variar podemos procurar uma maior estimulação nos preliminares, para conseguirmos atingir um orgasmo vaginal posterior, numa posição diferente daquela que é habitual.
9. O ponto G existe realmente?
Vera Ribeiro: Existe um ponto de cariz esponjoso no interior da vagina da mulher, que alguns investigadores acreditam que tem uma razão para existir (dar maior prazer à mulher). Mas é um tema ainda nos dias de hoje muito discutido. Por essa razão não é um ponto que tenha total importância em torno do assunto orgasmo.
Vânia Beliz: Esta é uma pergunta polémica, para a qual ainda não existe uma resposta definitiva. A sexualidade feminina não é muito fácil de estudar, até porque se tem dado quase sempre primazia à masculina e ainda existem muitas dúvidas.
Podemos afirmar que é uma região que está associada à continuidade da estrutura clitoriana e existem investigações que indicam que funciona como a base do clitóris. Desde que uma mulher tenha prazer, não deve sentir-se frustrada à procura do ponto G.
10. É possível controlar o momento em que temos o orgasmo?
Vânia Beliz: Sim, a mulher quando começa a aprender o seu corpo, consegue controlar o momento do orgasmo. Mas muitos casais mostram grande preocupação em atingir o orgasmo ao mesmo tempo, quando esta questão não é a mais importante, mas sim a intimidade e conexão que partilham juntos.
Vera Ribeiro: Quando a mulher tem um grande conhecimento sobre si mesma, no seu todo, e à vontade, química com quem partilha a relação de intimidade, conseguirá ter um maior controlo sobre o orgasmo.
11. Por que é que algumas mulheres duvidam da sua capacidade de atingir o orgasmo?
Vânia Beliz: Muitas mulheres apenas conseguem atingir o orgasmo por estimulação clitoriana e, por este motivo, pensam que nunca o alcançaram. Mas não é verdade, procuram-me para partilhar uma situação que não é rara, muito pelo contrário. Um orgasmo é um orgasmo, um não é pior nem melhor do que o outro.
12. Quanto tempo dura, em média, o orgasmo feminino?
Vera Ribeiro: Não existe uma regra de tempo, porque é muito variável – segundos a minutos. Cada mulher tem um orgasmo diferente de outra mulher, quer no tempo quer na intensidade.
Vânia Beliz: Quantificar é sempre redutor, porque pode haver alturas em que conseguimos que seja mais demorado, outras mais rápido, depende de como é feita a estimulação e do grau de excitação da mulher.
13. Como saber se atingimos o orgasmo?
Vânia Beliz: “Muitas pessoas pensam que ter um orgasmo é ver estrelas, sentir uma explosão de sensações, ficar eufórico ou até mesmo desfalecer. Os filmes ajudam a construir essa imagem nas nossas cabeças (…). Mas a verdade é que as sensações e a intensidade do orgasmo variam de pessoa para pessoa. E não é preciso de todos os vizinhos nos ouçam gritar para sabermos que tivemos um orgasmo. Porque conhecemos o nosso corpo e o orgasmo é uma reação corporal que não passa despercebida, quando tivermos um orgasmo saberemos. É o resultado de uma excitação crescente, influenciado por muitos fatores, como as emoções, os sentimentos, os orgasmos anteriores, as experiências sexuais anteriores, o ambiente, o tempo, a química sexual com o parceiro, entre outros.” (in Ponto Quê?, Objetiva 2011, de Vânia Beliz).