Algumas pessoas acreditam que o sexo é algo tão natural que as peças do puzzle têm de, necessariamente, encaixar. O que não passa de uma excessiva simplificação de algo complexo.
Séculos de analfabetismo e iliteracia femininos e de repressão sexual resultaram numa grande ignorância em relação à nossa fisiologia. “Continua a existir um enorme desconhecimento sobre a genitália da mulher”, informa a fisioterapeuta Soraia Rosa Coelho. Isso condiciona a nossa capacidade de ter prazer.
“Se as mulheres não souberem conviver com o seu corpo e tocar-se sem vergonha, não vão ter facilidade em sentir satisfação nas relações sexuais”, alerta a sexóloga Vânia Beliz. Uma maior compreensão acerca da própria anatomia ajuda a prevenir e resolver dificuldades.
Na opinião da ginecologista e obstetra Lisa Ferreira Vicente, “a educação sexual deve manter-se ao longo da vida”. Neste artigo, reunimos a informação de que necessita para tomar as rédeas da sua sexualidade e levá-la até onde quiser.
9 perguntas sobre prazer sexual
1. Qual é a diferença entre vulva e vagina?
“Muitas mulheres não sabem distinguir vulva de vagina”, diz Soraia Rosa Coelho, fisioterapeuta especializada em reabilitação pélvica e uroginecológica. A vulva é um órgão externo do aparelho reprodutor feminino, que inclui o clitóris, bem como os pequenos e os grandes lábios (ou lábios vaginais e lábios externos).
“Aqui a pele é igual ao resto do corpo, pelo que, se for sensível, o uso indiscriminado de produtos de higiene pode originar reações cutâneas e causar desconforto”, explica a ginecologista e obstetra Lisa Ferreira Vicente.
Já a vagina é um órgão genital interno, cujos músculos são dotados de uma notável elasticidade. A humidade que lhe é característica deve-se ao fluxo vaginal que atua como lubrificante natural e barreira contra infeções.
2. O clitóris é aquele botãozinho à superfície?
“O tamanho real e formato do clitóris é ainda um tema desconhecido de muitas mulheres e homens – e por vezes, a sua localização”, nota Soraia Rosa Coelho.
Então, pedimos a Lisa Ferreira Vicente para esclarecer esta dúvida frequente: “Está demonstrado, em exames de ressonância, ecografias e estudos de cadáver, que o clitóris é muito maior do que aquela porção visível. Estende-se por baixo da uretra, na entrada da vagina e tem uma zona que se prolonga ao longo dos ossos púbicos. É uma estrutura que tem a capacidade de ser altamente vascularizada e que, durante a fase da excitação, se enche de sangue – incha e aumenta como o pénis –, o que dá a sensação de congestão, de peso e de quente”.
Por que é que é importante estimulá-lo? A ginecologista explica que é “através da parede da rede vascular do clitóris que passa um líquido, a lubrificação”.
3. A penetração dói apenas na “primeira vez”?
Algumas mulheres relatam desconforto ou mesmo dor nas relações sexuais durante mais algum tempo e inclusivamente noutras fases da vida. Contudo, se o desconforto se prolongar ao longo de vários meses, devem procurar ajuda.
“Dor durante a relação sexual passado tanto tempo não é normal. Pode advir de variadas situações, tais como a hiperatividade dos músculos do pavimento pélvico, alterações hormonais que possam levar a uma diminuição da lubrificação (como a menopausa), pós-parto, alterações posturais, cicatrizes aderentes, entre outras”, avisa a fisioterapeuta Soraia Rosa Coelho.
Descubra os conselhos para sexo sem dor de cinco especialistas.
4. Devo usar lubrificante sempre que tiver relações sexuais?
Embora ajude bastante na penetração, Lisa Ferreira Vicente defende que “deve existir algum equilíbrio no seu uso”. Porquê? A ginecologista relembra as várias fases da resposta sexual: o desejo, a excitação e o orgasmo.
“Enquanto que no homem a excitação corresponde à ereção, na mulher equivale à lubrificação. É importante que as mulheres deixem que a vulva e a vagina apresentem uma congestão vascular, para estarem adequadamente lubrificadas e ser possível a penetração”, elucida.
No entanto, de acordo com Soraia Rosa Coelho, “uma em cada três mulheres irá passar pela experiência de secura vaginal em algum momento da sua vida”. Se houver fricção na zona íntima, como durante as relações sexuais, é possível que sintam dor.
Nessas circunstâncias, a fisioterapeuta apoia a utilização de lubrificantes, desde que não contenham ingredientes capazes de mudar a flora vaginal – como o álcool, os açúcares, o silicone e os químicos. Quanto maior o teor de água e a presença de óleos naturais, mais bem tolerados tendem a ser.
5. Como é que as mulheres podem começar a explorar o seu corpo?
“Agarrem num espelho e observem a vossa vulva e vagina”, recomenda a sexóloga Vânia Beliz. E a fisioterapeuta Soraia Rosa Coelho acrescenta que “os brinquedos podem ser uma boa forma de iniciar o processo de descoberta dos próprios órgãos genitais e do que lhes dá prazer”.
6. Há exercícios que ajudem a relaxar e a ter mais satisfação no sexo?
“Fala-se muitas vezes das contrações dos músculos do pavimento pélvico, vulgo exercícios de Kegel. Contudo, se a mulher já apresentar uma hiperatividade dos mesmos, esse treino pode exacerbar a sintomatologia”, adverte a especialista em reabilitação pélvica e uroginecológica.
Soraia Rosa Coelho aconselha antes o ioga, pois “ajuda no relaxamento e abertura pélvica”.
7. Quando é que se pode voltar a ter relações sexuais após o parto?
De acordo com a ginecologista e obstetra Lisa Ferreira Vicente, “alguns casais apenas começam a ter sexo penetrativo ao fim do primeiro mês depois do nascimento de um filho – até ao terceiro mês após o parto é normal a mulher sentir dor”.
Todavia, se persistir para além desse período, a fisioterapeuta Soraia Rosa Coelho recomenda que tente perceber a origem da dor: “Será da cicatriz a episiotomia, aderência da cicatriz da cesariana ou de uma laceração decorrente de um parto traumático? Será fraqueza ou hiperatividade muscular?”.
8. A menopausa põe um ponto final à sexualidade feminina?
Só se a mulher o permitir. “Hoje, há uma grande oferta de hidratantes da vulva e da vagina, para mulheres que já estão na menopausa ou que em certas alturas apresentam maior secura (por exemplo, durante a amamentação). Esses produtos melhoram a qualidade da pele nessa zona. Os estrogénios também ajudam, aumentam a elasticidade, humidade e resistência da pele”, exemplifica Lisa Ferreira Vicente.
9. Que estratégias podem ajudar a aumentar a libido?
Do ponto de vista da sexóloga Vânia Beliz, uma alimentação saudável e a prática de exercício físico fazem com que “a mulher se sinta bem com o seu corpo e podem aumentar o desejo sexual, porque está mais confiante e tem mais vontade de se expor”.
A leitura de romances eróticos e visualização de filmes, românticos e/ou pornográficos, pode auxiliar também. Se bem que assistir a conteúdos adultos tanto “pode despertar a vontade de ter relações sexuais e convidar a pensar sobre outras práticas”, como, por outro lado, “também pode saciar o desejo e fazer com que não apeteça fazer sexo”.
Sexo à lupa – dados a reter
Agora que já começou a chamar as coisas pelos seus nomes e a perder a vergonha de exigir mais no vale dos lençóis, deixamos-lhe aqui umas informações que darão muito que falar no próximo jantar com as suas amigas.
• O sexo oral e a estimulação manual dos genitais são as técnicas que mais levam as senhoras a atingir o clímax;
Beijos intensos são a forma mais rápida e eficaz de aumentar a excitação das mulheres;
“Os vibradores foram dos primeiros aparelhos a serem eletrificados no final do século XIX. O primeiro foi testado num hospital onde se tratavam casos de ‘histeria feminina’, condição tratada com uma massagem vaginal feita pelo médico até que a mulher atingisse o orgasmo, O Sexo ao longo dos Tempos (Vogais);
• “Somos o único animal que pode fazer sexo, ter um momento de êxtase e orgasmos múltiplos sem tocar ninguém; apenas porque conseguimos imaginar” Esther Perel autora do livro Amor e Desejo na Relação Conjugal (Presença);
• 93% dos homens gostavam que as mulheres iniciassem as relações sexuais;
• ¾ das mulheres fazem sexo ao sábado;
• 10% das mulheres nunca atingiram o orgasmo;
• 2 vezes por semana é a frequência de relações sexuais que têm as mulheres europeias, com idades entre os 16 e os 35;
• 80% das pessoas querem que os parceiros atinjam o orgasmo;
• 1 em 4 solteiros fariam sexo com robots;
• “O conteúdo adulto tem o poder de excitar sexualmente, mas também de educar e inspirar”, Erika lust pornógrafa;
• O clitóris tem 8 mil terminações nervosas. Ao passo que o pénis só possui 4 mil.
Tinha alguma destas dúvidas? Aprenda ainda a manter o desejo sexual em relacionamentos a longo prazo.