© pexels
Pode uma relação sobreviver sem sexo?

Pode uma relação sobreviver sem sexo?

Novos estudos e especialistas indicam que muito sexo não é sinónimo de relações mais felizes. Tentámos descobrir se é mesmo possível um casal sobreviver sem sexo e a resposta vai surpreendê-la.

Por Abr. 10. 2019

Quantas vezes por semana acha que é normal um casal ter sexo? A resposta que lhe vem à cabeça pode ser a certa para si, mas o número difere de pessoa para pessoa o que, logo à partida, demonstra que não existe uma resposta certa ou errada.

O sexo, sendo algo tão pessoal e multifacetado, é bem mais do que um número. Cada indivíduo e cada casal são diferentes e existem mesmo casais que vivem felizes com pouco, ou até nenhum, sexo.

[É importante] distinguir sexo e desejo sexual de intimidade emocional, que facilmente se confundem, mas não são a mesma coisa – Rita Torres, Psicóloga Clínica e Terapeuta Sexual

Para Rita Torres, Psicóloga Clínica e Terapeuta Sexual, “existem preconceitos e estereótipos que continuam a condicionar a forma como vivemos a nossa sexualidade. Relativamente aos casais que não têm sexo, isso nem se fala. Não é concebível que um casal não tenha sexo e esteja tudo bem. Quando, na verdade, isso é possível.

Um relacionamento ou casamento sem sexo define-se por uma relação em que existe intimidade sexual menos de 10 vezes por ano.

Ainda que não existam dados concretos para analisar a população portuguesa neste sentido, a revista Newsweek estima que, nos Estados Unidos da América, cerca de 15 a 20% dos casais vivem relações sem sexo.

Desejo sexual vs amor

Para a terapeuta sexual, é importante “distinguir sexo ou desejo sexual de intimidade emocional, que facilmente se confundem, mas não são a mesma coisa. O desejo sexual é de difícil definição, mas pode resumir-se como o impulso que nos conduz para a experiência sexual. Envolve fantasia e novidade. O amor é mais complexo, tanto do ponto de vista biológico como psicológico, e envolve segurança e companheirismo”.

Ao diferenciar o sexo da intimidade emocional, é possível entender melhor a existência de relações felizes sem este primeiro componente.

“É possível a existência de casais que estabelecem um grande vínculo afetivo, mas deixaram, ou nunca tiveram, desejo de manter relações sexuais, e que são felizes assim”, revela Rita Torres.

“O celibato envolve comunicação e negociação, para tomar uma atitude consciente que promova o bem-estar do casal. Por outro lado, há que pensar no significado de sexo, que certamente não é o mesmo para todos/as. Para alguns casais, ter sexo uma vez por mês pode ser pouco e para outros ser demasiado. E o que é o sexo? Só quando há coito? Ou outro tipo de práticas também contam?”.

1, 2, 3, está na hora de fazer sexo outra vez?

Um estudo da Universidade de Toronto desvendou que fazer sexo uma vez por semana é suficiente para fazer um casal feliz.

O estudo investigou a vida amorosa de 25 mil casais e concluiu que mesmo quando a frequência sexual aumentou, os níveis de felicidade mantiveram-se os mesmos.

Os cientistas concluíram que muitos casais acabam por se sentir pressionados a fazer sexo com mais frequência, e ressaltaram que as conclusões deste estudo podem ajudar a uma visão mais realista do que é a vida sexual de uma relação.

©Unsplash

Seja qual for o número de vezes, a quantidade é independente de uma vida sexual saudável. “Qualquer atividade sexual é saudável desde que não cause danos físicos ou psicológicos a si própria(o) ou aos outros, independentemente da frequência ou do tipo de prática”, esclarece Rita Torres. E aconselha ainda que, “no caso de um casal, é necessário que os membros conheçam e respeitem as vontades e necessidades um do outro para encontrar soluções de compromisso”.

A montanha russa do desejo sexual entre casais

Para Clara Santos, numa relação com José Peixoto há seis anos, é importante aceitar que a vida sexual de um casal está sujeita a altos e baixos: “há fases que ambos podem estar mais ou menos propensos para o sexo, e nem sempre essas fases coincidirem. Acho que é assim em quase tudo na vida, as relações não são exceção, e devemos começar por falar. Explicar ao outro como nos sentimos, perceber em que ‘onda’ está o parceiro e a partir daí resolver as coisas. Se existir amor, acredito que as coisas se resolvem.”

Todos os casais passam por períodos em que a vida sexual é afetada por diversas causas exteriores, como a chegada de um filho, stresse ou problemas de saúde, por exemplo.

“Outra realidade que pode levar à ausência de contacto sexual é quando um dos membros deixou de ter desejo sexual ou existem discrepâncias a este nível”, explica Rita Torres. “Neste caso o bem-estar do casal está comprometido.”

O que provoca a ausência de desejo sexual?

Para a Psicóloga Clínica e Terapeuta Sexual há vários fatores que podem levar à falta de desejo sexual, como, por exemplo:

Sintomatologia ansiosa e depressiva;
Dificuldades relacionais;
Relutância em entregar-se a uma relação de compromisso;
Valores morais mais conservadores;
Insatisfação relativamente ao/à parceiro/a e/ou atividade sexual;
Preocupação em ter um bom desempenho sexual;
Stresse imposto pela rotina diária.

E quando o desejo diminui, qual é a solução? “Nestas situações há que diminuir a ansiedade do casal, devolver a carga erótica da relação e introduzir a novidade e a descoberta em relações que muitas vezes já estão sufocadas por uma rotina diária”.

Clara e José consideram ter uma vida sexual ativa e saudável. Para o casal, ela com 36 e ele com 38, o sexo é uma parte fundamental da sua relação, mas retirá-lo da equação não é chocante.

“Para mim, a minha relação para ser o mais completa possível precisa de sexo”, explica José à Saber Viver, “mas, apesar de ser muito importante a troca de intimidade e o conhecimento do outro, podem existir limitações físicas entre o casal que não permitam essa partilha. Uma relação é feita de imensos fatores emocionais que compensam essa lacuna”.

À semelhança do que acontece noutras áreas da vida do casal, uma comunicação saudável é meio caminho andado para uma vida sexual satisfatória – Rita Torres, Psicóloga Clínica e Terapeuta Sexual

Embora considerem o sexo fundamental, ambos acreditam que não é o fator mais importante na sua relação. “Apesar do peso que tem para a minha saúde emocional, há outros fatores relacionais que em conjunto acabam por ser mais importantes”, explica José.

Para Clara, não cair na rotina é o segredo para manter o desejo sexual entre o casal. “Surpreender e deixar-se ser surpreendido, seja de que forma for. A imaginação depende de cada um. O mais importante, nunca deixar que a rotina mate o romance”.

A novidade é, segundo a terapeuta Rita Torres, um ingrediente fundamental para manter vivo o desejo sexual, “e podem ser coisas muito simples, como ir a um restaurante novo ou a prática de uma atividade em conjunto. A título individual, zelar pela saúde física e mental também é imperativo para alcançar satisfação sexual”.

A vontade (e a comunicação) é quem mais ordena

Seja com ou sem sexo, Rita Torres aconselha que uma boa comunicação é a chave para uma relação feliz.

“À semelhança do que acontece noutras áreas da vida do casal, uma comunicação saudável é meio caminho andado para uma vida sexual satisfatória. É importante que se criem formas de comunicar seguras para ambos os membros de casal, para que possam expressar as suas vontades, sem serem julgados ou criticados. Só assim se desfazem mal-entendidos e se encontram soluções de compromisso”.

Fontes: Healthline.com; Newsweek.com; Huffingtonpost.co.uk; BedBible.
Mais sobre amor