Preservativo feminino: porque é que não experimenta?
Está disponível desde os anos 90 e muitas mulheres sabem da sua existência, mas poucas o usaram para evitar uma gravidez indesejada e fazer sexo protegido. No entanto, tem vantagens face ao preservativo masculino e até pode ser gratuito.
Apesar de existir há muitos anos, há mulheres que nunca ouviram falar deste preservativo, criado especificamente para nós, mulheres.
É eficaz como contracetivo ou na prevenção de infeções sexualmente transmissíveis (IST), como VIH/SIDA, Vírus do Papiloma Humano ou hepatite B, entre outras. Algumas sabem que existe mas nunca sequer viram um preservativo feminino fora do invólucro.
Afinal, como é o preservativo feminino?
“Tem forma de um tubo e é feito de um material semelhante ao látex (nitrilo)”, descreve Patrícia Ribeiro, enfermeira responsável pelos rastreios na Associação Abraço. “Pode ter uma esponja circular no interior, que serve de reservatório quando há ejaculação do homem e para facilitar a colocação, ou um anel flexível em cada uma das extremidades”.
Como deve ser usado?
Parece um saquinho que se coloca dentro da vagina, é suposto aderir às respetivas paredes e o anel exterior evita que, no calor da ação, entre totalmente – aliás, recomenda-se que um dos parceiros o segure na primeira penetração. Também pode ser usado para fazer sexo anal, retirando a dita esponja ou o anel interior.
Tal como o preservativo masculino, o feminino (atualmente designados por externo e interno, respetivamente, pois ambos podem ser usados por todos os géneros) deve ser removido “logo após a ejaculação para que não escorra o líquido seminal para dentro da vagina”, alerta a enfermeira. E, como pode ser colocado até oito horas antes da relação sexual, não é preciso parar a meio dos preliminares para o pôr.
Entre risos e muita esperança
Catarina experimentou-o há muitos anos. Uma amiga tinha comprado, não ficou fã e deu-lhe os dois restantes (vendem-se em caixas de três) mas também não adorou: “Não era mau, mas parecia um saco e fazia barulhos como os sacos, quase como os dos supermercados. Lembro-me que tive um ataque de riso e o meu companheiro na época também… devia ser do som associado à muita tensão acumulada”, diz a rir.
“Continuámos a usar os preservativos masculinos e nunca mais me lembrei de tal coisa. Acredito que hoje sejam melhores”.
Sara, homossexual, usava-os quando não tinha parceira fixa e ia “namoriscando” aqui e ali: “Era inócuo, nem bom nem mau, necessário para proteger de doenças sexualmente transmissíveis e pronto…”.
De facto, péssimo é não usar proteção. A enfermeira Patrícia Ribeiro resume os principais cuidados a ter no sexo entre mulheres: “Recomenda-se a utilização do preservativo para instrumentos (dildo, vibrador), bem como adaptá-lo para o dedo. Cada pessoa ou cada brinquedo deve ter o seu preservativo para evitar trocas de fluidos”.
Dado que cobre grande parte da vulva, há quem use o preservativo feminino no sexo oral, mas a proteção normalmente aconselhada passa por cortar um preservativo masculino no sentido do comprimento e usá-lo para impedir o contacto entre a boca e a área genital.
Ana ainda não experimentou mas já o comprou e está mortinha para o usar: “Tenho uma amizade colorida recente mas o meu parceiro perde a ereção quando tenta colocar o preservativo masculino. Espero que com o feminino corra tudo bem, finalmente! Tive de comprar numa sex shop, nas farmácias não consegui encontrar”.
Da farmácia à sex shop. Onde comprar?
• Sex shops
• Centros de saúde (gratuitos)
• ONGs (gratuitos)
“Tudo indica que a baixa taxa de utilização, aliada ao custo do preservativo interno, possa ter contribuído para que este não esteja disponível, atualmente, nas farmácias”, explica Paula Pinto, da Associação para o Planeamento Familiar (APF).
“Apesar de tudo, podem ser comprados online e são distribuídos gratuitamente nos centros de saúde, organizações/instituições não governamentais que trabalham a saúde sexual e reprodutiva e IST. A APF disponibiliza, através das suas delegações, preservativos internos e externos”.
De facto, vendem-se na Internet, em sex shops como a Vibrolandia, onde um pacote de três unidades custa 12,40€ e é entregue na morada indicada em 24 horas, numa embalagem discreta, garante o site. “A procura tem vindo a aumentar ligeiramente nos últimos quatro anos”, acrescenta um responsável, “mas é menor do que a de preservativos masculinos”.
Uma caixa destes últimos, com 12 unidades, pode custar aqui cerca de 9€. Fazendo as contas, cada relação sexual (com uso de um único preservativo) sai a 4€ com o interno e a 0,75€ com o externo.
Vale a pena, portanto, recorrer a centros de saúde e/ou organizações que disponibilizam ambos de forma gratuita, sendo que o masculino prevalece largamente: segundo dados divulgados há um ano pela Direção Geral de Saúde (DGS), em 2017 foram distribuídos apenas 110.400 femininos e 4.751.387 masculinos.
A distribuição tem tido oscilações, “registou uma tendência crescente entre 2012 e 2015” mas está agora a crescer pois “em 2018, voltou a aumentar o número em mais de 50%”, avança a DGS.
Vantagens e desvantagens
Em resumo, poderíamos listar os prós e os contras do preservativo feminino desta forma:
• Previne contra as IST;
• Ausência de efeitos secundários ou contraindicações graves;
• Não necessita a supervisão médica;
• É um método cuja utilização depende da mulher;
• É caro em compração ao preservativo masculino (mas é também disponibilizado de forma gratuita);
• Tem um aspeto estranho, mesmo depois de colocado;
• Pode provocar sons constrangedores durante o ato sexual
• Precisa de alguma prática para ser inserido
• É difícil de encontrar no mercado face ao masculino
Uma questão de poder?
“Foi criado por um homem, de certeza!” É esta a opinião de Rita, que o usou há uns anos, por curiosidade. Achou altamente desconfortável (“parece um saco!”), tal como o seu parceiro, e não pretende repetir experiência. Tem razão na autoria, a criação do preservativo feminino é atribuída a um homem, o médico dinamarquês Lasse Hessel.
Nem o argumento, utilizado por entidades como a APF, de que dá à mulher maior poder de decisão, permitindo-lhe depender apenas de si própria para se proteger da gravidez indesejada ou das doenças sexualmente transmissíveis, a convence: “As mulheres podem decidir sempre. Se o parceiro não quiser usar o preservativo masculino, não há sexo, ponto. Até é muito mais divertido serem elas a colocá-lo. Neste caso, a ideia do empoderamento é uma grande treta! E o preço elevado é ridículo, reflexo do patriarcado. Todos os preservativos deviam ser gratuitos e distribuídos em todo o lado”, conclui.
Poder à parte, Paula Pinto, da APF, lembra que “tal como o preservativo externo, o interno, ou feminino, requer alguma prática para ser usado”, tornando-se mais confortável com a experiência. “O facto de ser hipoalergénico é outra vantagem para as pessoas que fazem alergia ao látex” e, esclarece, “ultrapassada a resistência inicial pode, inclusivamente, aumentar o prazer na relação”.
Porque é que não experimenta?
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