Apesar de se terem passado mais de dez anos desde que a lei tornou obrigatória a educação para a sexualidade em Portugal, pouco avanços têm sido feitos para a sua implementação, e sexo continua a ser uma palavra pronunciada baixinho e entredentes (apesar de ser das mais procurados nos motores de busca na Internet).
‘Engraçado’ como quase todos o fazemos e mesmo assim não falamos sobre ele, o que pode servir para explicar porque, apesar dos aparentes avanços, há tanta desinformação em relação a algo que faz tão bem.
2022 chega-nos com tendências aliciantes – como o sexo sensorial e os produtos sem género –, mas valerá a pena brincar com o fogo futuro quando falar de algo tão prazeroso é, ainda, um balde água fria? E, mais importante, porquê?
Mais de metade dos jovens portugueses faz sexo sem proteção e a grande maioria não pede ajuda nem fala com ninguém quando tem dúvidas
A resposta começa obviamente dentro de casa e mantém-se fora dela, onde “continua a faltar investimento e vontade política para criar programas eficazes e que vão ao encontro das necessidades atuais das crianças e dos jovens”, explica Vânia Beliz, sexóloga.
“A sociedade modificou-se bastante nos últimos anos e com essas mudanças temos outras necessidades. Por exemplo, a Internet e a exposição das crianças e jovens a conteúdos desadequados têm modificado a forma como nos relacionamos. Não podemos ter as mesmas metas se temos objetivos diferentes.”
Temas como consentimento, limites, respeito e emoções precisam de ser trabalhados desde a educação pré-escolar, pois só quando vivermos o sexo com prazer, consciência, respeito e naturalidade e nos forem dadas as ferramentas necessárias para tomarmos decisões seguras em relação ao nosso corpo, a desigualdade entre géneros será nitidamente reduzida.
Sexualidade deve ser promotora de saúde e potenciadora de bem-estar, e a forma como nos relacionamos com as outras pessoas também faz parte da sexualidade.
“Alguns movimentos políticos e crenças dificultam estas mudanças. Temas como género e diversidade sexual ainda são muito polémicos e pouco aceites na educação formal e pelas famílias ‘tradicionais’. Movimentos de oposição como a ideologia de género são uma ameaça à mudança.”
Segundo o estudo Jovens e Educação Sexual: Conhecimentos, Fontes, Recursos, apresentado em abril deste ano pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, mais de metade dos jovens portugueses faz sexo sem proteção e a grande maioria não pede ajuda nem fala com ninguém quando tem dúvidas ou problemas.
“Educar para a sexualidade ultrapassa o tema sexo”, frisa Vânia Beliz. “Se queremos relacionarmo-nos de forma saudável, temos de trabalhar muitas competências desde cedo.”