Saiba o que é necessário ter numa relação de sexo sem compromisso
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Prova disso é a maneira como vemos e lidamos com as nossas relações sexuais. Nunca a liberdade foi tão grande e o sexo casual tão disponível.
Afinal, o que é necessário para se estabelecer uma relação pura e unicamente sexual? E o que será uma relação de sexo casual? Ana Carvalheira, psicóloga e investigadora no Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, do ISPA, em Lisboa, diz-nos que o rigor na resposta a esta pergunta é difícil.
“Hoje em dia, mais do que nunca, temos uma diversidade de relações muito grande. Existem relações com e sem compromisso. O sexo casual é uma interação sem compromisso e pode ser um acontecimento isolado ou repetir-se. A principal diferença é que no sexo casual não existe um compromisso relacional entre as pessoas”, explica a especialista.
Mas… e quando um dos envolvidos na relação se apaixona? É possível manter uma relação só à base de sexo, sem qualquer envolvimento sentimental? Serão sempre as mulheres que se apaixonam primeiro do que os homens? A Saber Viver foi explorar estas questões para tentar perceber como funciona o mundo do sexo sem compromisso.
Sexo sem sentimentos é possível?
A ideia romantizada dos filmes de domingo à tarde que contam a história de duas pessoas que se conhecem e decidem ter sexo casual, sendo que no final um dos envolvidos acaba por se afastar por se ter apaixonado, está longe de ser a única hipótese.
É possível manter uma relação de sexo casual durante algum tempo sem que exista envolvimento emocional. Exemplo disso são os chamados amigos com benefícios, “em que há uma relação de amizade e casualmente uma relação sexual. Neste tipo de relação existe um envolvimento emocional porque as pessoas são amigas, mas não há um compromisso amoroso”, diz Ana Carvalheira.
No entanto, pode ser tudo uma questão de tempo. “Quando há sexo casual durante um longo período, a probabilidade de envolvimento emocional aumenta”, afirma Mariagrazia Marini Luwisch, psicóloga clínica e psicoterapeuta. Nas situações em que uma das pessoas se apaixona, não há uma solução milagrosa.
Se o sentimento não for recíproco, é necessário que exista sinceridade e afastamento. Por isso, ter sexo com um amigo que sempre nos chamou a atenção pode não ser uma boa ideia se não se tiver estabelecido um acordo claro entre ambos, pois existe a possibilidade de as emoções se confundirem e perder-se uma amizade.
“Ambos devem estar conscientes de que o sexo sem compromisso implica a possibilidade de encontrarem outros relacionamentos e também de um se apaixonar pelo outro. Para que esse relacionamento funcione é preciso honestidade e autenticidade para falar abertamente sobre qualquer sentimento que possa surgir”, diz-nos a psicoterapeuta.
Casual, mas saudável
E o que será que procuram os adeptos do sexo sem compromisso? Um estudo realizado pela Universidade de Binghamton, em Nova Iorque, mostrou que quem procura mais frequentemente este tipo de relação também deseja criar laços de carinho e intimidade.
As pessoas analisadas responderam a perguntas sobre se praticam ou não atos de afeto durante o sexo, como por exemplo, abraçar ou manter o contacto visual. Os investigadores esperam que esta investigação acabe com os estereótipos relacionados com o tema.
“Existe um estereótipo de que o sexo casual é apenas sexo sem sentido, mas este estudo mostra que isso não é necessariamente verdade”, lê-se no relato da investigação. Com ou sem sentimentos à mistura, é importante estabelecer uma relação sexual saudável.
No caso do sexo casual, a primeira regra passa por estabelecer certos limites e ter as expectativas alinhadas. É também importante “escolher a pessoa certa, estar consciente da própria motivação e deixar claro o que se pretende.
Além disso, é preciso lembrar que todo o prazer e felicidade resultam de uma reação química e não de amor e ainda ter cuidado com a prevenção”, explica Mariagrazia.
Em relação à prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, é aconselhada a utilização do preservativo (masculino ou feminino), pois continua a ser um dos métodos mais eficazes não só para prevenir uma doença como também uma eventual gravidez indesejada.
O papel da consciência
Escolher livremente e conscientemente também é outra regra fundamental para que o sexo casual resulte. Por exemplo, os jovens que têm sexo casual em noites em que o consumo de álcool é excessivo estão mais sujeitos a que essas escolhas não sejam livres.
Nestas situações, pode surgir o arrependimento no dia seguinte. “Há um sentimento de mal-estar porque a pessoa se dá conta de algo que não queria fazer”, explica Ana Carvalheira. Um estudo publicado no Archives of Sexual Behavior vem comprovar esta ideia, afirmando que existem motivos autónomos e não autónomos que levam a que uma pessoa tenha sexo casual.
Os primeiros motivos estão relacionados com a atração e com o desejo de explorar a própria sexualidade, ou seja, é algo espontâneo e consciente.
Já as razões não autónomas estão relacionadas com a falta de consciência da pessoa, como é o exemplo do consumo excessivo de álcool, que muitas vezes nos leva a fazer coisas inconscientemente.
O estudo veio revelar que as pessoas que fazem sexo casual por motivos não autónomos têm uma maior probabilidade de desenvolver problemas psicológicos.
Quem se apaixona primeiro?
Ainda existe o estereótipo de que a mulher é mais suscetível a apaixonar-se do que o homem. No entanto, este nem sempre corresponde à realidade. “Homens e mulheres apaixonam-se livremente e desapaixonam-se também”, diz Ana Carvalheira, psicóloga.
O que acontece é que o sexo feminino, normalmente, é mais expressivo no que diz respeito às suas emoções, mas isso não quer dizer que sejam elas as primeiras a apaixonarem-se.
Contudo, para a psicóloga Mariagrazia, a mulher relaciona mais facilmente o sexo ao amor e normalmente procura viver uma aventura apaixonada, o que pode levá-la a sofrer mais do que o previsto.
Um estudo da Universidade de Binghamton também revelou que as mulheres têm maior propensão para mostrar os seus sentimentos do que os homens.