Simone Biles: a campeã que fez história com a sua desistência nos Jogos Olímpicos
Considerada a melhor ginasta do mundo, Simone Biles desistiu dos Jogos Olímpicos na última terça-feira, 27, e pôs o mundo inteiro a falar sobre a saúde mental e a pressão a que os atletas de alta competição estão sujeitos.
Simone Biles entrou na ribalta em 2016. Ganhou cinco medalhas olímpicas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e, com apenas 19 anos, escreveu o seu nome na história do desporto. Em Tóquio, voltou a superar barreiras. Desistiu das finais de equipa e do all-around, quebrou o estigma e trouxe o tema da saúde mental para cima da mesa. Mas antes disso, vamos primeiro conhecê-la.
A jovem norte-americana cresceu no estado de Ohio e vivia com a mãe toxicodependente. Desses tempos, Biles afirma recordar-se de passar fome. Os serviços sociais acabaram por retirá-la a ela e aos irmãos e levaram-nos para lares de acolhimento.
Mais tarde, os avós paternos ficaram com a sua guarda e foram eles que a inscreveram na ginástica. Não demorou muito até que o desporto passasse de apenas diversão para algo mais sério. Simone entrou em conflito com os treinadores porque a personalidade carismática e divertida chocava com a disciplina exigida a atletas de alta competição.
A atleta recorda-se de ter de sair às escondidas do campo de treino durante a noite para comer. Depois de vencer quatro medalhas de ouro no Rio de Janeiro, instalou-se um escândalo sexual na ginástica norte-americana. O massagista Larry Nassar abusou dezenas de jovens ginastas, entre elas Simone. Hoje, Biles ainda luta para que todos os responsáveis que permitiram esses abusos sejam levados à justiça.
Conseguiu qualificar-se no campeonato do mundo do Qatar. Mais uma vez, arrasou a concorrência. Durante o período em que decorreu a prova sentiu dores e foi ao médico e descobriram-lhe uma pedra nos rins, mas isso não foi impedimento – saiu do Mundial com a maior margem de vitória da história da modalidade. Simone Biles tornou-se a atleta mais medalhada da história dos Estados Unidos.
Este ano, nos Jogos de Tóquio, cometeu um erro no salto do cavalo e retirou-se logo a seguir. Na conferência de imprensa após a prova, falou abertamente sobre o sucedido: “Depois do erro que cometi, já não queria continuar. Assim que piso o praticável sou só eu e a minha cabeça a lidarmos com demónios. Tenho de me focar na minha sanidade mental. Temos de proteger as nossas mentes e os nossos corpos, não apenas fazer aquilo que o mundo quer que façamos”. Biles decidiu, então, priorizar a sua saúde física e mental e desistir das provas finais de equipa e do all-around.
O caso de outros atletas
Assim como Simone, outros atletas expuseram os seus cuidados com o seu bem-estar emocional.
Naomi Osaka
A tenista japonesa Naomi Osaka de 23 anos, número dois mundial, e a quem foi entregue o privilégio de acender a chama olímpica dos Jogos de Tóquio, recusou-se a ir às conferência de imprensa depois do torneio de Roland Garros em prol da sua saúde mental. A decisão da tenista gerou uma punição no campeonato e, consequentemente, a sua saída da competição.
Wim Fissette, o seu treinador, explicou, em declarações à publicação alemã Der Spiegel, que Naomi está a usar o seu estatuto enquanto estrela global para trazer atenção para problemas importantes.
Saiu no passado dia 16 um documentário sobre a atleta.
Liz Cambage
O terceiro lugar nas Olimpíadas de Londres em 2012, a jogadora de basquete da seleção da Austrália, Liz Cambage, abdicou do seu lugar na equipa deste ano por causa de transtornos mentais. “Dependo de medicação diária para controlar a minha ansiedade, não é o lugar onde quero estar agora. Especialmente numa competição com o maior palco desportivo do mundo”, afirmou no seu Instagram.
Kelly Catlin
Kelly Catlin, vencedora de títulos mundiais em 2016, 2017 e 2018 não conseguiu conciliar o seu curso universitário, as aulas de violino e a sua carreira de ciclista. A jovem norte-americana acabou por se suicidar em 2019, com 23 anos.
Saúde mental
A doença mental deve ser encarada tal como encaramos a doença física. Há esperança que Simone Biles tenha aberto portas para que se passe a ver com seriedade as necessidades emocionais das pessoas, tal como se olha para um cancro ou um AVC. É necessário aniquilar este preconceito e falar mais sobre os benefícios do acompanhamento psicológico.
A terapia ajuda qualquer pessoa a ter uma relação mais saudável consigo mesma e com as outras pessoas à sua volta. A terapia é recomendada para qualquer pessoa que deseje melhorar aspetos emocionais da sua vida e não apenas para quem tem algum tipo de problema mental.